28.10.13

Já faz parte dos que fazem parte


O designer ficou impressionado porque eu comentei que conhecia os mil amigos que tenho no Facebook. Teria muitos mais, se não fizesse a limpa vez ou outra de gente que jaz distante (e por distante ficamos com todas as possíveis interpretações). 

- Você conhece mesmo todas as pessoas que você tem no Facebook?

- Conheço.

(E você que me lê, não?)

Cerca de 2% não vi pessoalmente, mas é gente que já troquei tantas mensagens e espécies de confidências, que é como se eu já fosse amiga. Como gente daqui, tipo a Ana Martins. Mas no geral, tenho essa regra comigo de só aceitar os conhecidos. E a vida segue me apresentando um mar de pessoas de todos os tipos e lugares diferentes. 

E isso me deu um pensamento forte, que me tirou daquele lugar comum. Sentei no divã imaginário na hora. No geral, eu gosto de ficar em casa. Isso tem aumentado bastante nos últimos anos. A ponto de me achar anti-social, reclusa, um pouco dada demais à misantropia. Me repreendo. Me repreendem. E teria 1500 pessoas realmente conhecidas, se me deixasse levar pelo ímpetos do Facebook. Mas não quis colecionar gente. Fotinhos em forma de páginas. Diários de muitos. 

Amo gente. Odeio multidão. E passo muito do meu tempo só. Me sentindo só. Será que estamos cada vez mais sozinhos, mesmo cercados de conhecidos? Não sei. Ontem isso me chamou atenção. Fui jantar fora com Paulo e reparei que uma menina se sentou à mesa do nosso lado. Parecia esperar por alguém, mas não. Estava só esperando pela comida. 

Sem esperar muito, chegou logo a sobremesa. Ela comeu sem pressa. Saboreando as deliciosas calorias do prato. Terminou e passou um grande momento se entretendo com os amigos do celular. Não falando. Teclando, interagindo nas redes sociais. Imaginei que a moça com um monte de amigos, não tinha nenhum de verdade para saborear um prato com ela num fim de domingo.

Podia não ser nada disso, claro. Também poderia desenhar a imagem de uma mulher independente que foi se satisfazer com a sobremesa sem depender de A, B ou C. Mas de alguma forma me agarrei à solidão daquela cena. E me questionei sobre amigos, colegas e quadradinhos quase vivos do Facebook. Sim, porque às vezes - e cada vez mais - a gente vive mais a vida que se desenrola ali dentro, do que a vida que acontece do lado de fora. 

E tudo me parece estranho. Fora de ordem. E pior que a gente se acostuma e acha normal. Já faz parte dos que fazem parte.  

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