29.12.12

Eu tenho fé na vida


Divagações. Não de final de ano, mas de final dos tempos. Do encerramento certo, mas assustador das coisas. A vida é transitória e vem nos lembrar disso a cada ano que passa com uma constância mais urgente. Perder é parte do jogo. Sabemos. Aprendemos a ganhar e a perder desde a mais tenra idade. "É parte inequívoca da vida", filosofamos internamente para alcançar compreensão. 

Quando somos crianças, perder tem um sentido bem diferente daquele que se apresenta depois que a vida passa a ensinar de forma mais latente e inteligível. Quando sentimentos quase ganham formas e ocupam espaços. Nuvens da alma. Então, a cada ano que passa perdemos mais (porque ganhamos mais, em contrapartida). Nos consolamos com perdas pequenas. Nos entristecemos deveras com perda de entes queridos; familiares que já estavam na estrada quando a gente pintou no pedaço. 

E é então, perdemos nossos semelhantes... E isso abala de forma profunda e diferente o nosso sistema, nossos códigos. A cada ano que passa dizemos mais e mais 'adeus' a quem amamos. A velhice é sábia, mas cobra um preço diferente também. Muitas armas para o caminhar mais simples; mas muitas palavras de "adeus". Ou até breve, para quem assim crê.

E quando morre alguém que subverte o caminho natural da existência? Morrem-se os novos. Morrem-se os que mal começaram a caminhar. E parecem levar consigo um pedacinho da esperança, mas não. Cumprem seu curso. Dão adeus à existência como conhecemos. Inteligivelmente. Deixam seus feitos, seus aromas, sua missão completa, embora nos pareça tão incompleta. Tão cheia de compartimentos ainda ajustáveis e blocos a serem preenchidos. O tão cheio de vida que jaz sem vida. O tempo é implacável e a gente perde tempo com o tempo X que nos é dado e nunca revelado. 

Também perdem os que de alguma maneira permitimos que deixem marca nas nossas vidas. Ninguém é uma ilha. Viver também é um ato irrevogável. A fé pressupõem risco e viver é um ato de fé. Quiçá a fé no dia seguinte. E tão mais para quem ousa crer...
 
O dia seguinte não veio para Rebecca. Vinte e um anos, casada há pouco tempo. Tudo na vida dela parecia funcionar no módulo acelerado. Rebecca veio para celebrar a vida e vivê-la intensamente. Aos grandes goles. No dia 23/12 quebrou o pé. Na véspera de Natal caiu morta em meio à ceia. Trombose. Irremediável. Devastados pais, marido, família, amigos. É um choque. É parte do jogo para o qual a gente não está pronto. Vejo familiares na 'quarta' idade sofrendo por todos que se foram. Vivendo sim, com bastante galhardia até os dias que se apresentam. Mas com aquela mancha estranha de se sentir só e esperar pelo dia que não se sabe qual é (deixados para trás)... E lá foi Rebecca brilhar no céu, achando que tinha toda a vida pela frente. 

Dias depois, outra amiga, Paty, entrou sem saber pela contramão e foi atingida de frente por um caminhão. Ela agora celebra sua nova data de nascimento: 28/12. Viva. Moleca. Pronta para fazer igual o que era bom e diferente aquilo que não valia  apena. Pronta para cometer erros e acertos, porque disso somos feitos (todos nós). Viver é um ato de fé e eu tenho fé no Deus que concede a vida. Eu tenho fé na vida. E com a fé estão interligadas a esperança e o amor. Vamos semear em 2013 a fé numa vida melhor, cheia de amor e esperança.      

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