© A. Munasit |
Ele foi um brilhante advogado, que já estava resolvendo as questões da família, com sorriso e com afeto, antes mesmo de eu chegar nela. E assim continuou. Ele simplesmente amava o que fazia, tanto é, que continuou a advogar e a "bater ponto" no seu escritório até uns dois meses antes de ser driblado pela falência do tempo. Ele tinha 91 anos na carteira. Sorriso de menino. Aparência pequena, mas nada frágil. Seu maior desafio era também seu maior estimulante: pesquisar as leis, jurisprudências, as novidades da área, para manter sua mente aguçada e seu trabalho sempre contemporâneo.
Dia triste hoje. Minha Tia N trabalhava como secretária dele há quase 60 anos. Já eram parceiros de escritório. Acima de tudo, leais amigos. No tempo e no espaço. Eu mal me imagino fazendo 60 anos, que dirá trabalhando cotidianamente com a mesma pessoa há tanto tempo. Sinal do caráter irrepreensível desse homem e da ternura do seu trato justo.
Ele não fazia parte do meu cotidiano, mas era um ponto de referência na minha história. Mais um que se vai diante do inexorável da vida. Mais uma perda a se elaborar na grandeza dos acontecimentos. Ninguém havia superado definitivamente a morte do Meu Pai, há um ano. E mais uma vez vamos sendo expostos à fragilidade da condição humana. Mas existe a força a ser alcançada em algum lugar diante de nós (ou dentro). E claro, existe o consolo de Deus - que é sem medida e imprescindível. Mas além desse, a gente precisa encontrar uma forma de acalmar os questionamentos internos, as dúvidas e incertezas e nos tornarmos mais compactos em nós mesmos diante dessa fragilidade que nos açoita. Viver é delicadamente desafiante na força de seus acontecimentos.
Não sei o que há de ser. E tampouco compete a mim saber... Sei o que há: saudade.
2 comentários:
Seu blog é realmente um veículo de informação. Mesmo que de notícias delicadas e tristes como essas. Fico conternado e movo meus melhores sentimentos à preservação da memória dele. Que Deus o tenha.
Exemplo. Tanto carinho...
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