Há quem faça muito esforço na tentativa de semear o bem. E não consegue. Acredito que de alguma forma fazer o bem deva ser uma coisa muito natural. Claro que o bem pode ser expresso em ações planejadas - e também é bom que também o seja - mas eu falo da essência que propicia a ação desejada.
Certa vez, uma mulher apareceu na redação em que eu trabalhava com uma sacolinha especial. Nela, a gente teria que colocar alguns itens listados para dar de Natal para uma criança de orfanato. A tal sacolinha foi distribuída meses antes. Eu peguei uma, porque sentia no meu coração que poderia fazer a minha parte. Entre pegar a sacola e devolvê-la, meu mundo caiu. Vivi os piores dias da minha vida. Os que eu possa me lembrar.
A sacola perdeu seu brilho, claro. Caiu vertiginosamente na escala de importância, porque eu precisava arrumar um jeito de juntar os meus caquinhos. A mulher da sacola me ligou na época da entrega e nem me deu chance de explicar: soltou um esporro! Não parava de falar, expressando uma raiva tão gigante, que eu não conseguia encontrar no ato o fruto da bondade que gerou a iniciativa. Claro, a criança merecia a sacola e certamente precisava dos elementos ali contidos... Mas eu precisava, e muito, de colo e compreensão. Ninguém sabe o que acontece do outro lado da linha, do outro lado de nós mesmos.
Pois bem. Amiga da minha mãe ligou para a minha casa no sábado. Ela, assim como eu, estava na expectativa de passar a páscoa sozinha. Cada filho para um lado, sua amiga (minha mãe) viajando, cada qual com sua família e/ou respectivos. Ela é viúva. Três vezes viúva. Deve ter cansado de casar e perder. Acontece. Nos falamos rapidamente, porque eu estava ocupada no computador. Antes de desligar, porém, eu disse:
- Feliz Páscoa para você.
O domingo passou e ela almoçou sozinha. Ao voltar para casa, depois de sair domingo pela manhã, ela entrou em casa e chorou. Chorou muito, porque lhe faltou um afetivo desejo de "feliz páscoa". Então ela lembrou do telefonema. E aquela rápida frase que encerrou nossa ligação, aqueceu o coração. Dias depois, ela ligou para a minha Mãe e contou essa história. E eu aqui pensando: uma frase. uma única e boba frase faz a diferença na vida de alguém. seca lágrimas. aquece o coração. Há quem faça muito esforço na tentativa de semear o bem. E não consegue. Acredito que de alguma forma fazer o bem deva ser uma coisa muito natural.
Nenhum comentário:
Postar um comentário