"Ela opôs-se terminantemente à iniciativa".
Não é apenas uma frase solta. Melhor, não é apenas uma frase jogada no blog. Muitas vezes, quando cruzo a madrugada escrevendo freneticamente e o silêncio aliado à uma criatividade súbita vem me acariciar como a mão do homem amado, eu imagino frases com as quais poderia começar uma história. Não importa se um conto, crônica ou romance. Tenho muito disso: as primeiras frases. Gosto quando elas me saem suavemente, como um respiro, como a expiração da inspiração.
Acabei de ler um romance de espionagem: "Nosso Fiel Traidor", de John Le Carré. O cara é bom, mas a história, no geral, é fraca. O contexto é bem armado, detalhes trabalhados em minúcias, personagens com personalidades distintas e uma pitada de "você encerra o thriller como quiser", que desafia o leitor a ficar pensando na obra depois de terminá-la. O problema é que muito cedo você saca qual é o final e ele custa a se materializar. Minha ansiedade bate e eu, estupidamente e com uma pretensão a qual me penitencio, acredito que se o cara faz um livro assim, eu também posso. Ai bobinha... Alcançar a simplicidade das coisas é ate tarefa mais hercúlea.
As pessoas lêem a Caras, por exemplo, que foi o veículo no qual trabalhei, e acreditam que trata-se de um texto superfácil de fazer. Por quê? Porque ele é superfácil de ler. Mas senta lá e escreve para ver!?! É algo bastante elaborado. Não falo do assunto em questão, falo da escrita, que é o mote do nosso pensamento aqui. Transformar o trivial em algo palatável, degustável e aprazível. Se montar inteira e estar bela é uma questão completamente diferente de estar bela na simplicidade das opções. Ao semi-natural.
Gosto de escrever. Gosto de pensar o cotidiano. Gosto de observar as pessoas, seus questionamentos, suas manias, os buracos impreenchíveis de sua existência. Gosto de pensar a minha vida e fazer história. Muitos outros gostam também. Transformar isso tudo em palavras; as palavras em intenções; as intenções em gestos e os gestos em um trabalho palatável, degustável e aprazível é uma maratona que requer bastante de um atleta das letras. E todos nós, amantes do texto escrito, do texto dizível em sons e em pensamentos, continuamos tentando...
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