16.5.11

porque ter excesso de fofura está longe de parecer um puxa-saco


O que é ser puxa-saco? Ser puxa-saco não é o mesmo que ser baba-ovo, não é? Acho que baba-ovo é o puxa-saco extremo, sem limites ou desconfiômetro. O puxa-saco é um tipo bonzinho que troca seus elogios e favores por algo de seu interesse, mesmo que seja estar dentro daquele círculo de convivência ou com o simples intuito de fazer o outro feliz passando por cima de certos parâmetros.

Bem... Acho que eu não consegui expressar bem meu conceito de puxa-saco. E acredito que cada um possa ter a sua própria ideia a respeito sem que isso leve a uma confusão, engano ou discordância. Assim, vim dizer que não me considero puxa-saco, contudo, confesso: não guardo para mim um elogio. Libero mesmo, sem parcimônia! Ao mesmo tempo em que falo coisas boas, também ressalto - com carinho e educação, mas nem sempre -, aquilo que vejo de errado, incompleto, preguiçoso ou inconsequente.

ADORO elogiar as pessoas. Porque acredito que para criticar já exista uma fila interminável de gente e sempre em proporções bem maiores. Muitos reproduzem o que vivem ou viveram, sem nem avaliar direito a "profundidade" da "crítica vazia". Elogio sim. E falo sempre que encontro alguma coisa que me encante. Não devo nada a ninguém, quero crer que devo apenas gratidão à vida quando venho de encontro a algo que me tire do lugar comum. E, graças a Deus, muitas coisas me encantam. Mesmo com o passar do tempo e ainda que ele represente que experimentei muito mais momentos de dor, decepção, morte de sonhos, desconsolos, desenganos, frustrações. É, crescer me fez ter muitos mais áreas necrosadas no coração ideológico... Mas também crescer me deu muito mais possibilidade de ir de encontro a encantamentos inteligíveis e sensibilidade para captar os quase imperceptíveis.

Eu elogio, porque adoro um elogio. Não o descarado, o puxa-saco, aquele que quer algo em troca. Adoro um elogio espontâneo, aquele que vem praticamente da alma. E como a minha alma está cheia dessas flores, distribuo seus botões como se sempre fosse primavera. E isso me faz tão bem, justamente porque no meu peito é quase sempre inverno, quando não tenho o calor de uma companhia (não falo de um homem, de um amor-eros).

Ontem, na igreja, era dia de Santa Ceia (comunhão). Chamo Seu Alcides de "meu garçom da Santa Ceia", porque geralmente estou sentada na área que ele serve o pão e o vinho. Até que um dia o serviço passou a ser feito por outro: Seu Alcides sofreu um AVC. Fiquei mal. A comunhão é também fazer parte e aquele senhorzinho, com seu sorriso tímido e seu jeito de dizer "Deus te abençoe", era parte do meu momento transcendente. Domingo passado nós nos reencontramos: eu sentada no banco; ele com a bandeja nas mãos. Não resisti: interrompi o momento solene, segurei seu braço e falei:

- Estou muito feliz que o senhor está volta.
- Heim?! - ele perguntou, entre o não ouvir e o não acreditar que estivesse ouvindo um elogio àquela hora.
- Estou muito feliz de ter o senhor aqui de volta, firme e com saúde.
- Ah, rs, obrigado!

Meus amigos ao lado riram da situação. E eu fiquei com vergonha.

- O que eu posso fazer se eu gosto tanto dele? Não consigo guardar para mim...

Bia Bug me chamou de fofa. O "fofa" dela foi algo que me acalmou, porque definitivamente ter excesso de fofura está longe de parecer um mero puxa-saco, não é mesmo?

2 comentários:

Bia Bug disse...

Amiga, o que vc faz está longe de ser "puxa-saquismo". Vc tem o coração bonito. Beijocas!

Bibi disse...

coração bonito e vazio, que ironia! Talvez é justamente porque cabe muita gente...