19.6.12

Poesia FG

"Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.


Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza 

e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.


Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.


Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.


Traduzir-se uma parte
na outra parte
- que é uma questão de vida ou morte -
será arte?


[Ferreira Gullar]

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