A minha profissão (junto às celebridades) sempre foi pautada por algumas máximas. Uma delas é a de nunca me envolver emocionalmente na vida de um artista. Não ser aquele tipo de fã-over ou ter pretensões de ser amiga (tirar fotos, presumir atos e fatos). Aquilo que desenvolvemos no instante do encontro é algo puramente profissional. Pode ser, obviamente, um momento delicioso, fruto da empatia, da confiança, da entrega. Claro, há exceções, mas elas só acontecem quando os dois lados transcendem essa linha tênue que nos divide os lados, os mundos, as atribuições. Tento ser ética e simpática como sou com toda e qualquer pessoa que se aproxima para trocar algo. Essa é minha natureza.
Estranhamente estou SOFRENDO com a morte repentina de Marcos Paulo. Juro. Tá doendo em algum lugar estranho aqui dentro de mim. Amiga minha disse que pode ser uma dor por associação. Será?
Lembro a última vez que estive com ele. Foi no dia 11 de setembro do ano passado, no casamento da atriz Simone Soares com o diretor Mario Meirelles. Ele chegou tarde, vinha de outra cerimônia, mas fez questão de ir dar um beijo nos amigos. Estava com a Antônia Fontenelle. Aliás, sempre esteve ladeado por ela, com quem me solidarizo de verdade.
E então, numa dessas quebras de protocolo, fiz o que não costumo fazer. Morrendo de vergonha - pois é, tenho um lado tímida, que é quando sai o bloquinho e entra o pessoal - falei com ele que estava feliz de vê-lo tão bem, se recuperando lindamente da luta contra o câncer. Disse que a correria do dia a dia e as nossas alterações de personalidade em função da pressão cada vez maior que é viver nos faziam perder coisas boas como dizer ao outro que gosta dele, que torce genuinamente por ele...
A vida estressante nos afasta da nossa própria humanidade e isso me causa muita estranheza. Estamos endurecendo e criando uma carapaça de difícil penetração. Ninguém mais tem tempo para elogiar o outro - sem um fim lucrativo, digamos assim. Vivemos na base da cobrança, da crítica, do cumprimento de prazos. Quis mostrar ao Marcos Paulo a minha admiração. Um exemplo de luta que incentiva outras pessoas, que inspira em momentos de dificuldade. E o fiz, ganhando em troca belas palavras e aquele sorriso que é puro charme.
E então... Acontecem essas despedidas loucas, de surpresa, de supetão! No velório, Antônia Fontenelle disse uma coisa muito lúcida diante da dor de sua perda: "Nosso tempo não é o tempo de Deus". O que temos feito do tempo que Deus nos dá? Acho isso tão forte, tão profundo. Um mistério diante de todas as coisas ocultas que temos que desvendar para aprender a viver, a buscar a felicidade e a simplicidade das coisas diante do montante daquilo que nos é oferecido como "oportunidades". Estou triste pela partida do Marcos Paulo, por suas filhas (e neto) que ficam, família, amigos, pela televisão que perde. Mas acredito que sua ida também me ajuda a elaborar dores internas que nada têm a ver com ele ou o exemplo que nos deixou. Oportunidade, eis ai uma lição que a vida sempre nos oferece.
6 comentários:
Pois é nosso tempo não é o tempo de Deus.Nosso tempo não é nosso.
Deus é o dono do tempo e o tempo dele é perfeito, por mais que a gente não compreenda.
Que lindo texto. Nos vimos poucas vezes. A última, se nao me engano, na coletiva de Dalva & Herivelto, mas sempre tive uma grande empatia com vc. Com certeza, não é por acaso. Bjs e parabéns pelo blog. bjs
Que texto bonito, linda!
Acho que, no fundo, quando alguma figura pública morre, de certa maneira nos faz recordar da finitude da vida, do tempo que já transcorreu, do que ficou para trás. Dá uma certa melancolia em algumas pessoas, sem dúvida. E quando essa figura pública era alguém que fez parte do imaginário, por quaisquer razões, o sentimento de perda é maior. Mas isso passa. Até a morte do próximo "famoso".
Ele iria gostar de ler...tanto quanto nós gostamos. Quando eu morrer escreve de mim...:D
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