5.7.10
O resto é o tempo...
O resto é o tempo...
E os momentos que nos tornaram um
O resto é o tempo...
E os seus caprichos e os seus momentos
O resto é o tempo...
E seus lamentos, seus murmúrios, seus tormentos
O resto é o tempo...
Um balançar de cabelos, de cadeiras, de redes, de nós
O resto é o tempo...
E a solidão do horizonte que nos cerca ao longe
O resto é o tempo...
E a garantia de poder continuar nessa estrada infinda
O resto é o tempo...
E a certeza de que o amanhã surgirá por entre os montes, por entre os dedos e os novelos que nos enlaçam
O resto é o tempo...
E a doçura de uma lembrança tenra pinçada na memória
O resto é o tempo...
E aquele redemoinho que se forma no peito vazio
O resto é o tempo...
E a esperança de buscar na lembrança as coisas quentes de outrora para aquecer os meus finais, os meus sinais, os meus agoras
O resto é o tempo...
Como o vazio quente por debaixo de lençóis de seda, por cima de rendas de mesa, por entre toalhas felpudas, nas margens de robes de chambre, em pés descalços
O resto é o tempo...
A abrir caminho por vielas escuras, por caminhos quebrados, chão rachado pelos temporais
O resto é o tempo...
E aquele fogo que ainda domina o corpo quase inerte que espera
O resto é o tempo...
É um piscar de olhos reticentes, um sorriso indecente, uma intenção desmedida
O resto é o tempo...
E o apagar das luzes lá fora, um sonhar desmerecido entre a lua e a aurora
O resto é o tempo...
A nos convidar para o baile do instante, a nos chamar para a vida lá fora
O resto é o tempo...
É também aquele beijo que não teve um final, aquela briga que não teve moral, o apagar da velha chama
O resto é o tempo...
A me dizer que quem ama: ama
O resto é o tempo...
A redesenhar os meus descaminhos
O resto é o tempo...
A me contar que quem anda nunca está sozinho
O resto é o tempo...
A desenhar no infinito seus novos finais, seus tolos ideais, meus ais
O resto é o tempo...
Que me chama de voltar à velha infância, à brincar de acordar as inconstâncias, a dedilhar meus cantos sombrios, meus vazios
O resto é o tempo...
A pregar que o coração pulsa o que o outro repulsa e repuxa e empurra e rebate
O resto é o tempo...
A me lembrar dos embates dos corpos rendidos
O resto é o tempo...
E a sede de um instante insaciável
O resto é o tempo...
A me lembrar que o meu hoje é agora, que o futuro lá fora me perdoa as grandes mancadas se a intenção for realmente boa
O resto é o tempo...
A me convidar a simplesmente existir, a resistir, a seduzir, a encantar, a arrancar as amarras, os cordões, os grilhões, as prisões, as dores encarceradas
O resto é o tempo...
E suas segundas intenções
O resto é o tempo...
E suas tantas confusões
O resto é o tempo...
A me tirar a roupa inteira, desnudando as minhas verdades
O resto é o tempo...
Reprimindo as minhas vontades
O resto é o tempo...
Uma voz a gritar por sabedoria
O resto é o tempo...
Vasculhando os meus desejos
O resto é o tempo...
A me brindar com novos sonhos, lampejos
O resto é o tempo...
A acalmar as minhas inconstâncias
O resto é o tempo...
A me dar boa noite e bom dia
O resto é o tempo...
O resto é também alegria
O resto é o tempo...
O resto é só mais um tempo...
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2 comentários:
Bom poema, mas talvez nós sejamos o resto, e o tempo o tudo, o inteiro, somos enquanto o tempo é como escreveu uma intelectual.
Somos enquanto o tempo é o que a gente compreende como tempo, porque vai chegar o momento em que tempo será tão relativo quanto qualquer pensamento ou não pensamento e eu quero ser ainda que. Falo depois da morte, da vida que me espera.
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