9.8.10

A arte de perder não é nenhum mistério


"A arte de perder não é nenhum mistério.
Tantas coisas contêm em si o acidente
De perdê-las, que perder não é nada sério.
Perca um pouquinho a cada dia.
Aceite, austero,
A chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Depois perca mais rápido, com mais critério: 
Lugares, nomes, a escala subseqüente 
Da viagem não feita. 
Nada disso é sério. 
Perdi o relógio de mamãe. 
Ah! E nem quero 
Lembrar a perda de três casas excelentes. 
A arte de perder não é nenhum mistério. 
Perdi duas cidades lindas. 
E um império 
Que era meu, dois rios, e mais um continente. 
Tenho saudade deles. 
Mas não é nada sério. 
– Mesmo perder você 
(a voz, o riso etéreo que eu amo) 
Não muda nada. 
Pois é evidente que a arte de perder 
Não chega a ser mistério por muito que pareça 
(Escreve!) muito sério".




(Elizabeth Bishop)

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