3.8.10
O amanhã completa
Eu estou vivendo uma espécie de ciclo de bloqueio criativo. Existem muitas ideias fervilhando dentro de mim. Também contemplo e germino algumas dores que gostaria de expurgar em forma de textos, contos, histórias.
Quando lia que a escrita é um exercício solitário, não imagina a abrangência dessa questão. Preciso estar só e só comigo. Preciso de mim, mais que nunca e nunca quis estar só comigo; e ainda não quero. Ou não devo nesse momento. Preciso me isolar para encontrar o meu cerne. Sei onde está, mas os barulhos externos não me deixam alcançar. E por barulhos, não digo apenas os sons da casa, mas os ruídos dos afazeres e acontecimentos tantos.
Eu preciso de um abraço da minha depressão, de quem tanto fujo com tamanho desespero. Ou de um mergulho com os meus medos, que me despem a alma de vestígios e fantasias que me camuflam.
Jorge Brasil - meu maior divulgador e analista, um dos raros capazes de compreender a "profundidade" da minha obra desde o início - diz que se diverte quando eu escrevo contos do cotidiano. E eu já duvidava da minha capacidade de escrevê-los... Até que pensei que deve mesmo ser normal ter épocas em que a vida apenas passa e você não se apercebe de seus sobressaltos, apenas respira.
Tenho medo de amanhã ser o mesmo de hoje. Tenho medo de ter que implorar por um resquício de atenção. Mas foi hoje que eu vi um homem na rua, que me despertou um desejo louco de escrever um conto bobo sobre ele. Anotei sentimentos e impressões em um caderninho.
Só me faltou a coragem da solidão completa - e a depressão necessária - para dar vida a essa história-semente, que um dia ainda germina. O amanhã completa. Há de ser. Há de completar.
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