17.8.10

ninho necessário para enfrentar a intempérie



Acho que ando desatenta com a vida. Não comigo, com o trabalho, corpo ou saúde. Também dentro do possível, tento não andar desatenta com os amigos, embora o desejo de estar presente na vida deles é maior que efetivamente a minha capacidade de colocar isso em prática. Ando desatenta com os pequenos milagres cotidianos. Porque quando estou atenta, tudo vira prosa. E o cotidiano não anda afetando positivamente os meus dias a ponto de virar história. Não reclamo. Observo e registro. Hoje, por exemplo, sai de casa pensando sobre esses pequenos detalhes que me alimentam. E me flagrei voltando para casa querendo escrever sobre o carinho que o vento produz. Blá, blá, blá.

Mas essa viagem em busca de reminiscências não foi em vão. Percebi, que muitas vezes pequenas atitudes cotidianas só vão se transformar em milagres do existir e, portanto, uma bela lição escrita – pelo menos para mim – anos depois. Mais uma vez digo que ações são sementes que tem o seu tempo exato e único para germinar e florescer ou não. E vou aprendendo a respeitar o tempo das coisas.

Fui deitar supercedo ontem à noite. O frio carioca, tão bissexto por essas bandas, estava me castigando. Eu sei que inverno no Rio é piada perto das baixar temperaturas em São Paulo ou no Sul do Brasil. Eu sei. Contudo e justamente por ser tão raro, sofro. Não desgosto por completo, quando não está acompanhado de chuva, deixa-se registrado. Não tenho paciência para andar cheia de casacos dentro de casa. Gosto do conforto e da liberdade de movimentos. E a minha casa é tão úmida, que o frio parece de “raiz”. Hohoho.

Então, uma vez que eu vá para cama, posso me deitar confortavelmente debaixo de uma colcha de retalhos + edredom fofinho + cobertor militar (que apareceu aqui em casa herdado de alguém e esquenta até pouco, se você quer saber. Pobres homens de verde...). Nesse ninho de travesseiros e cobertas eu leio até adormecer. E todo ninho tem uma temperatura dita ideal: que te deixa feliz e aconchegado.  Não consegui ler, porque para fazê-lo, metade de mim fica para fora.

Antes de pegar no sono, estava pensando nessa referência do ninho e me lembrei que assim como uma boa coberta, outra coisa que te aquece é um abraço, certo? Pois bem...

Quando eu morei numa espécie de campus universitário, que recebia gente do mundo inteiro para intercâmbio, eu fiquei muito amiga de uma tailandesa (uma vez falei dela aqui e fui criticada por chamá-la de frágil. Paciência). As tailandesas desse campus eram meninas muito reservadas, mas ficamos amigas de cara. E com ela fui passear por um monte de lugares. Nossa amizade foi se estreitando, assim como nossos cumprimentos. Sorrisos e balanços de cabeça foram se transformando em abraços, que foram se apertando até o dia dela ir embora. Muito mais cedo que todos os outros.

Na despedida, um dia antes, eu chorei muito. Ela também. Achei que aquele seria o último tímido abraço entre nós. No dia seguinte, de manhã bem cedo, ouço alguém bater na minha janela. Era ela, que havia separado para mim vários presentes que ela não levaria de volta para casa. Dentre eles, estava um edredom do Pernalonga, que era uma graça, além de ser a coisa mais fofa que já me envolveu. Meses depois de sua partida, o inverno começou a castigar o lugar onde eu morava. Nunca senti tanto frio na minha vida. Mas o edredom da minha amiga tailandesa me promoveu o ninho necessário para enfrentar a intempérie e o melhor: tinha a mesma consistência de que é feito o melhor dos abraços.

2 comentários:

Helga disse...

Nada como um abraço carregado de afeto verdadeiro.
Sinta-se abraçada, querida.

Bibi disse...

Helga! Quanto tempo sem você escrever! E que "delícia de recado"! Uia! Volta mais vai e me esquenta com braços virtuais!