(uma crônica sobre o tempo feminino)
Venho, no caminho do trabalho para casa, pensando em coisas lúdicas, líricas, lindas para escrever para vocês. Chego a criar poesias, embaladas por uma súbita inspiração, nascida de uma leitura que me enleva. Chego a inventar dentro de mim desculpas para tornar o dia mais agradável, mais palpitante para – assim – me reaproximar do meu estilo literário e bolar uma história digna de uma crônica. Como tantas que já contei por aqui ao longo de quatro anos. Não está em mim a chave que me leva de volta ao nível que eu estava anteriormente com vocês. Não sei o que aconteceu exatamente. Acho que endureci.
Não estou triste. Gosto de pontuar meu estado de espírito por vários motivos. Um deles é que tem uma amiga minha, a Cecil, que diz que não me reconhece nas minhas linhas, uma vez que eu mostro uma variação intensa de humor que ela não percebe no trato pessoal. Outro motivo é porque gosto de situar vocês, como co-participantes dessa narrativa. E, por fim, porque os humores alteram a percepção e condução de um texto. E hoje estou plácida para conduzir minhas linhas apenas no nível da inspiração – e desabafo em forma de conversa. Gosto de acreditar que existe você do outro lado para me “ouvir”, lendo. Acho que estou me perdendo de vocês.
Não estou plena. Mas acho que a vida é mesmo isso aí. Não isso aqui, como está... Mas isso aí, uma busca por formas ideais que nunca se darão. Não é falta de otimismo, mas acho que assim como Joseph Campbell previu: a vida é a jornada de um herói. Só que a gente começa e termina histórias o tempo todo e somos chamados à aventura com mais frequência do que podemos avaliar (num nível de total consciência). O problema é que o caminho das jornadas é sempre longo e cheio de desafios misteriosos: uns a gente enfrenta, mas outros a gente vai deixando pelo caminho, sem terminar, e começando novas buscas sem encerrar ciclos. Acho que a vida é feita de círculos abertos e fechados.
Não estou quieta. Naquela busca interna para a qual me lanço, mas nunca consigo bom tempo, bom termo para dedicação. Também não estou na loucura do nosso tempo. Tempo: falei dele hoje. Estava no MSN com a Conza (personagem de algumas histórias), quando ela me disse que a vida estava voando (rápida demais para tantos desejos e sonhos). Todo mundo já sentiu isso uma série de vezes. Mas a intensidade do passar do tempo também nos parece variante: tempos de guerra e tempos de paz; tempos de corrida desenfreada e tempos de contemplação. Eu disse à Conza que queria que o tempo passasse, porque dentro de mim conservo aquela esperança infantil de que algo de bom vai ocorrer (e há de vir sim, porque a vida tem seus ciclos). A Conza me disse que não tinha esse algo a mais que a mim inspirava. "Talvez seja a fé", disse a ela. E chegamos a um bom termo. Acho que fé remove montanhas internas.
Não estou cética. Também não espero por coisas maravilhosas demais para mim. Um dos aditivos da maturidade é perceber que o tempo tem que passar para você aprender com a vida e se moldar para ela. Talvez para nascer a escritora, antes, tenha que nascer em mim e por completo essa mulher que eu ainda espero. E quero. Com suas dores e delícias; com seus prazeres e desencantos, com seus cantos, o seu ventre, sua terra, sua raiz, seus gostos e desgostos, suas esperanças e linhas vãs, suas histórias e memórias, sua esperança pueril que nunca é descartada e sua incerteza deflagrada pela não mais infância, a perda da inocência e a manutenção de uma pureza de existir. Acho que sou menina e sou mulher e ainda cabem tantas de mim nessa busca sem fim.
4 comentários:
Bibi:
Meus aplausos por este post. Amei!!!
Ótima semana!!
Joss.
Obrigada pelo incentivo Joss! Sempre!
Nada tem fim, quer dizer... Nada se conclui, de fato, é tudo mal-acabado, é tudo interrompido, é tudo continuado...
Oi Glauber!
Acho que a vida como a gente conhece tem um fim e depois começa uma vida nova e eterna. Nem tudo é interrompido, mas tudo é parte de um ciclo, de um sistema. Mas parece que tudo que se conclui, já foi, porque no mesmo momento novos começos já nasceram, não acha?
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