24.11.10
band-aid na cisterna
Difícil pedalar a minha bicicleta pela cidade do Rio de Janeiro por esses dias. Mais difícil ainda é evitar o assunto do momento: violência urbana. Como se esconder aos fatos? Nem sob os lençois a gente é capaz de evitar que as más notícias entrem pelas frestas...
Fico imaginando que quem está de longe - em território nacional ou fora dele - deve fazer um retrato ainda pior que aquele aplicado em tela real, que se emoldura na vida do cidadão carioca. Eu também fico imaginando em como deve ser o cotidiano de gente comum, como eu e você, em zonas de guerra ou zonas tensas como Israel, Faixa de Gaza, Palestina, Timor Leste, Angola, Afeganistão... O desenho que faço da vida dessas pessoas é sempre o mais alarmante e difícil. Assim como devem fazer em relação ao cotidiano da vida no lugar que vivo. Mas veja só: eu continuo! E tenho que continuar. Saí de casa, como em todos os dias e voltei para casa sem arranhões - Graças a Deus.
Mas como fugir do assunto, se todos os rádios ficam sintonizados nas estações de notícias a fim de descobrir se o caminho que se escolheu está seguro? Como escrever um texto sobre moda, se a televisão está constantemente me alertando que lugares por onde passei estão experimentando arrastões, queima de carros, ameças de bomba? Sabe o que acontece: eu acredita que não tenho outra opção a não ser viver como retaliação aos que querem abalar meu cotidiano com atos de vandalismo e disseminação do medo. E veja só: eu continuo!
Se não tenho medo? Claro que tenho! Mas não o tipo de medo que paralisa, mas aquele que se alia à prudência. E ela não é histérica ou pessimista, sabe? Continua-se a viver em Israel - e muito bem - e também no Afeganistão. E vai se continuar vivendo no Rio de Janeiro e na Colômbia, sempre em busca de soluções patentes como as que foram encontradas em Nova York, que reduziu drasticamente o nível de criminalidade que atingia números alarmantes.
Talvez você de fora ainda não tenha se familiarizado com a sigla UPP - Unidade de Polícia pacificadora. O Governador Sérgio Cabral colocou a polícia dentro dos morros e os envolvidos com o tráfico descem ao asfalto para "reivindicar" o que perderam em forma de terror. Aí é pau em cima da única coisa que fizeram até então - desde muito tempo - como parte de uma solução de um problema enorme, de um embrólio que atinge níveis estratosféricos. (Só um parênteses aqui, que me faz rir irônicamente: o que dizer de um país que até hoje não conseguiu resolver a questão do uso dos celulares dentro das cadeias? Tá de sacanagem, né?!)
Ouve-se falar em corrupção (em todos os níveis), despreparo da polícia, aliciamento de todos os tipos, corporativismo, banda podre, exército nas ruas como solução, bla, bla, bla... Liberação do tráfico? Legalização das drogas? bla, bla, bla... Transferir presos de penitenciárias? Sitiar o Rio de Janeiro? Armar a polícia melhor que os bandidos? bla, bla, bla...
A solução não está em mim e nem em vocês, mas certamente também é parte de nós. A solução não é mágica. Não adianta enxugar gelo. Não se resolve problema de vazamento de cisterna com band-aid. Não se cura uma fratura apenas com unguentos. A solução é um processo, que começa lá em cima e passa por nós. Parte de nós e é parte de nós. A gente tinha que arrumar era um jeitinho brasileiro definitivo justamente para acabar com o tal jeitinho brasileiro malandro e paleativo, tão band-aid na cisterna, tão unguento na fratura.
Poderes paralelos? Que nada! Vivemos a era dos poderes convergentes. E quem já deu propina para o guarda (ou pequenos delitos que o valha), por menor que seja, está errado. E os que não deram, também não podem se dar ao luxo de jogar a primeira pedra, porque certamente vai acertar alguém a quem se quer bem e se ferir junto.
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2 comentários:
Eles querem isso... pânico!! Eu mantenho a calma e tenho esperança que que sejam esperneios passageiros de uma "classe" que está perdendo voz e vez.
Pois é, é o que acho. Não podemos nunca perder a capacidade de indignação, de susto e de surpresa, senão, já era!
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