3.2.11

O adubo do aprendizado

© Stephen Earle

A primeira vez que voltei ao meu antigo bairro, na casa onde nasci e cresci, tudo era saudade. Mas aquele lugar já não era mais meu. Pequenas diferenças se mostravam quase que irrenconciliáveis com a minha presença e lembrança. A vida continuou por ali e a vida floresceu dentro de mim em um novo caminho. Tive aquela certeza de que a memória seria meu grande "presente".

A primeira vez que voltei ao "universo paralelo", onde morei com amigos durante um ano mágico, senti as lágrimas involuntariamente caindo dos meus olhos. A emoção de regressar era algo incontrolável. Quis voltar o tempo e não voltar no tempo. Tudo parecia igual, mas também cheio de pequenas diferenças que davam colorido à nova realidade. Mesmo de passagem muito rápida, sentia que aquele ali ainda era o meu lugar. E voltei. Voltei tantas vezes quantas foram necessárias para que eu compreendesse que a vida é para frente. E que o que para trás fica é apenas história. E que ela seja boa e infinita.

Hoje, pela primeira vez, voltei ao "antigo" trabalho para buscar as minhas coisas. Pedi demissão há apenas uma semana, mas ainda deixei para trás caixas, papéis, anotações, blocos, a velha pasta e escova de dente. Tudo foi bem embalado para voltar para a minha casa. Contudo, sei que deixei ali guardado boas lembranças e recordações. Essas nem vão ocupar lugar. Senti, com muita tranquilidade, que aquele ali não era mais o MEU lugar, mas apenas um lugar onde gosto de estar. E isso é bom, porque me mostra que a vida continua e tem mesmo que continuar; que renúncias fazem parte das decisões e que a gente também tem que estar tranquilo ao perder, mesmo que não pareça fácil. Ora se perde, ora se ganha, sempre se cresce.

"Aliás, a gente cresce quando faz das perdas e dos ganhos o adubo do aprendizado."

2 comentários:

Saulo disse...

Minha mãe sempre disse que devemos deixar os lugares com as portas, as janelas e os espaços bem abertos... prontos para serem revisitados a qualquer momento!

Bibi disse...

Nem todos merecem...