9.12.09

Cabelos de fogo


Antes de começar o texto, quero deixar registrado um pensamento real e politicamente correto: em todas os setores há bons e maus profissionais, certo? E esse é um fato verdadeiro, porque no mundo há pessoas boas e más, há também os que tem ou não talento para uma área e os que seguem ou não a sua vocação. Dito isto, passo para a parte dos acontecimentos.

Sai tarde do trabalho hoje. Uma chuva fina teimava em cair. O Rio de Janeiro anda assim, muito chuvoso... Há dias sem trégua para o sol. Acho curioso, porque a água devia esfriar os ânimos dos cariocas, mas não o faz e nem aplaca o calor.

Fiz sinal para o ônibus, que não demorou a passar. Até agradeci a Deus por isso. Sentei-me na frente de dois adolescentes, que tabulavam um papo tão chato e tão entrecortado por bolas e mastigadas de chiclete, que achei melhor ler.. E passei a viagem mergulhada nas crônicas de Martha Medeiros (meu pocket book está acabando! buáaaa).

Em um dado sinal, já perto de casa, sobem três pessoas. Uma mulher, uma garota e um cara, que aparentava estar na faixa entre garotão pós-adolescente ou maduro no retardo. A mulher já subiu no busão cuspindo marimbondo. Ao que parece, outros motoristas passaram direto pelo ponto onde ela estava e o deste ônibus onde eu estava parecia prestes a fazer o mesmo. Foi pego pelo sinal. Parou, a cabeçada entrou.

Volta para a mulher. Ela entrou falando alto mesmo, brigando com o cara que parou - mesmo que forçado. Ela foi muito, muito agressiva com o motorista. Passou pela roleta justamente quando ele arrancou. E assim foi, jogando o ônibus daquela maneira que a gente conhece. pelo menos para mim, nada de novo até ai...

A doida dos cabelos de fogo começo a gritar - aos brados mesmo - com o motorista, falando palavrão, chamando o cara de "seu idiota". Vai daí que... Eu fico admirada com essas pessoas que conseguem gritar dentro de um coletivo. Gente, eu não consigo nem chamar a atenção do cara para ele abrir a porta! Quanto mais gritar! Pior ainda: fazer barraco. Tá ofendida, com raiva porque ninguém parou? Está totalmente dentro do direito, mas é preciso botar a boca no veículo certo de reclamação. Eu, que não tinha nada com aquilo, fiquei extremamente perturbada por estar no meio da briga dos outros.

Pior! O maluco que pertencia ao grupo que entrou com ela ainda não havia passado a roleta. Descobriu-se, então, que eles estavam juntos, sabe por que? O cara começou a enquadrar o motorista devido a algum comentário que ele fez em reação a saraivada de empropérios que a cabelos de fogo derramou nele! Sério! O cara encostou no motorista, que estava em pleno exercício de suas funções, e começou a ameaçá-lo... "Olha como você fala com ela bla bla bla". Ou seja, se eu, que estava apenas vendo o tumulto, me senti absurdamente desconfortável, imagina o motorista? Aquela palhaçada simplesmente estava colocando a nossa vida em risco, não acham?

É aí que a gente pensa que o nosso direito começa, quando termina o direito do outro. E eu refletindo que nem a chuva fina e fria era suficiente para esfriar os neurônios da cabelo de fogo...

4 comentários:

Fernando Rocha disse...

Um momento lastimável, mas que foi retratado com maestria por ti, adoro as coisas do cotidiano, talvez o mairo mistério esteja imerso nelas.

Bibi disse...

Talvez mesmo! O grande mistério de uma vida sempre fresca é olhar o mesmo com sabor de novidade e encotrar sempre novos ângulos...

Unknown disse...

Isso mesmo...coisas do cotidiano que nos chamam atenção. Forma muito legal de retratar um acontecimento tão comum, infelizmente, nos coletivos da cidade. Concordo com vc...eu tb não consigo pedir pro motorista abrir a porta antes do ponto, até pq ônibus não é táxi, enfim, mas existem pessoas que pensam assim: "o táxi-ônibus que eu pego deve ser dessa forma e fazer tudo que quero...". Penso sempre quando isso vai mudar? Quando as coisas serão reinventadas....diferentes como o dia-a-dia....

Bibi disse...

OU... qdo as coisas voltarão ao seu devido lugar... não é?