* Naquele período de chuvas torrenciais no Rio de Janeiro andei de táxi com muito mais frequencia. Uma vez, indo para o trabalho - de táxi para o job sim, porque eu sou feita de açúcar (sou diabética!) - eu olhei pela janela e vi um casal de cegos atravessando a maior avenida carioca sozinho, um segurando o braço do outro e "tateando" o espaço à frente com a bengalinha. Pensei que se para as pessoas sem uma deficiência já é complicado enfrentar aquele temporal, imagina o que não é para uma dupla de cegos? O mais incrível é que nem a chuva, nem as poças de água que se proliferam pelo caminho, nem buracos ou calçadas mal acabadas, nem a falta de solidariedade é impedimento para esse tipo de gente. Quem são eles? Os verdadeiros corajosos, gente valente!
(eu detesto a palavra deficiente visual. Não quero ser politicamente incorreta, mas prefiro usar a palavra que designa. Deficiente pode ser mais eficiente que eu, oras! E eu iria odiar se me chamassem de deficiente pancreática só porque sou diabética!)
* O mais incrível é que dias depois de ter me perdido em pensamentos com a dupla de cegos atravessando a rua na chuva, acabei dando de cara com outra cena desse tipo. Estávamos Moratelli e eu em um restaurante a quilo, quando entra no estabelecimento justamente um cego. Aquilo me intrigou demais! Um cego em um restaurante a la carte sabe o que pode pedir e tem a certeza do que vai receber - seguindo a lógica da situação. Mas, cara, como é que um cego vai se virar sozinho em um restaurante em que você tem que ter noção dó cardápio do dia e das quantidades? Fiquei feliz ao notar que uma gaçonete do próprio restaurante se dispôs a ajudá-lo e começou a descrever os tipos de salada. Mais feliz fiquei eu de ouvir o cego dizer com muita propriedade que queria tomate, arroz, batata frita... Ele é cego, mas sabe do que gosta! Esperto ele, tola eu!
* Já contei várias histórias de cegos aqui. Eu os amo de forma especial. Tenho o sonho de um dia, quem sabe, fazer leituras para instituições como o Institudo Benjamin Constant. Modéstia à parte, eu faço uma boa leitura com interpretação. Sei modular a voz também, o que as crianças adoram. O que falta? Iniciativa... (vergonhoso, mas é a pura verdade. Vou ficar fingindo que é só a falta de tempo?! É a falta de companhia, de oportunidade, de incentivo. Não falo mentira e nem fico dourando pílula para mim mesma. Isso sim seria ainda mais vergonhoso...)
* Minha Mãe ajuda a "Associação dos Cegos" todos os anos, justamente nessa época do Natal. Acho que o 13° também ajuda na questão distribuição de riqueza/renda.
* Tenho um irmão bem mais velho que eu que não tem um olho (o apelido dele é pirata e ele assumiu isso com muita naturalidade e bom humor, a ponto de assinar assim: Phyratta). Perdeu ainda pequeno em um acidente doméstico. Será que é por isso que eu tenho esse amor por gente cega? Acho que não, deve ser meu mesmo... Cegos, velhos, crianças. Uma paixão não escolhida, uma missão de vida.
6 comentários:
"eu detesto a palavra deficiente visual. Não quero ser politicamente incorreta, mas prefiro usar a palavra que designa. Deficiente pode ser mais eficiente que eu, oras! E eu iria odiar se me chamassem de deficiente pancreática só porque sou diabética"
PERFEITOOOOO!!!!!!
atend um dia desses aquela atriz cega da novela das 7
estava com a mae
mas impressionante mesmo e' o cachorro de 8 mil dolares dela
impressionante a seriedade dele
ela senta ele senta(sentou do meu lado)ela levanta ele levanta
nao olha pra nada nem pra ninguem
nem pra cachorra no cio
se todos os trabalhadores fossem fossem serios assim....
Dida: escrevi esse pedaço do trecho por último, acredita? Na revisão final de tudo. Tb gostei.
Zé: como seria se os trabalhadores não dessem bola para as cachorras, não é?! rsrsrs Acho bárbaro esse cachorrinho solidário, porque ele é treinado para dominar os seus instintos! Impressionante!
Simplesmente amo demais os "normais" "mais que espeicais"... talvez por isso me formei em Fisio! rsrs
Saulo: lindo isso!
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