6.1.10

Golpe de vista? Nada, golpe de sorte


Ela me chegou como um presentinho, um mimo, um agrado. Daqueles que deixam na porta da sua casa, em cima da sua mesa, dentro da mochila, no bolso de um casaco pendurado. Um jeito meio tímido, um jogo de mostra e revela. Veio sem barulho, tal como quem chega pé com pé. Veio sem embrulho, mas bem endereçada. Era para mim, embora achasse, em princípio, que pudesse se tratar de um engano. Golpe de vista? Nada, golpe de sorte. Mistério quietinho. Miudinho. Sem som. Mas uma vez que se revelou, era como se houvesse trazido consigo os músicos, os instrumentos, a banda inteira. Um presentinho simples, mas de conseqüências marcantes, como o bom perfume que se espalha pelo ambiente, como cheiro de roupa lavada, como a sensação de frescor. E a mocinha atrevida, que costuma enfrenta as situações mais vexatórias e queixosas, fica tímida e esconde as mãos. Porque num momento de embaraço, a gente nunca sabe onde colocar as mãos. Eu cruzo os braços ou procuro os bolsos. Faço os meus dedos se encontrarem nas costas, nervosos... Desvio o olhar.

Não pude desviar o olhar daquela carta. Acho mais romântico chamar assim, embora o papel não fosse palpável. Tratava-se apenas de um e-mail, mas não de um e-mail apenas. Foi escrito sem burocracia, mas com sentimento. Isso para mim é uma carta. Uma carta dos tempos modernos. Uma carta com sentimentos antigos: admiração. Um e-mail avisa, uma carta conta. Narrava uma história. Um pedaço de uma trama minha, que é a de nós todos. Vou falar da maneira como a Ciclista 48 me encontrou. Valéria Amoris. Leitora paulista, dona de boas novas.

Valéria me escreveu um e-mail muito gentil. Falava do meu talento com as palavras. Fico absurdamente sem graça com elogios, mas profundamente tocada. Gosto, claro. Não faço disso meu mote. Quem escreve, nunca escreve para dentro. Todo escritor quer ser lido. Por um ou por vários. Todo poeta quer tocar o coração de alguém sem usar as mãos. Sentimentos são ondas que mexem. Ondas de amor. Transborda e tudo se transforma. E a carta da Valéria foi tão significativa, porque ela me conta que conheceu as minhas palavras, antes mesmo de saber que eram minhas. E as amou, como se para ela fossem. “... Eu sou uma mocinha atrevida, que virou uma mulher destemida. Não deixei a mocinha morrer, a criança parar de correr e sonhar dentro de mim. Não me perdi da sabedoria e faço da paciência o meu novo desafio. Construo castelos de areia, castelos de cartas, peças em dominó. Construo a vida com a esperança, que às vezes cansa de esperar...".

Esse texto chegou para ela por e-mail. Era de um autor desconhecido, vejam vocês! Desconhecida eu era até então. Acho que o Google, pai de muitos encontros, promoveu mais um. E a Valéria mandou as linhas mais bonitas que uma escritora e poeta (não gosto da palavra poetiza, nhé) poderia esperar em sua estréia com carta de uma fã. Gosto de palavras que tem personalidade além daquela que as escreveu. E adorei saber que esse e outros textos meus andam rodando pela internet (tal qual Veríssimo, Drummond, Martha Medeiros, Cecília Meirelles – para citar alguns dos que amo – sendo deles de verdade ou não) de e-mail em e-mail, inspirando vidas. Claro que detestei a parte em que dizia que minhas crias andam por essas ruelas virtuais pagãos, sem o batismo da minha assinatura. Mas assim como Valéria se interessou em me encontrar e conseguiu (e há de haver um motivo maior), outros tantos podem se juntar à nossa caravana ciclista.

De vocês eu ganho o fôlego diário. Cada comentário é um estímulo. Cada palavra tem a força do infinito, porque é impossível medir sua robustez. Cada flor mandada completa o meu jardim. Cada pedra constrói o meu canteiro. E ficamos assim, livres, à espera de borboletas. Exposto a luz do sol e ao frescor da chuva. Sempre entregue à mão do Jardineiro. Ele molda, cuida, poda, aduba, arranca as ervas daninhas, oferece estímulos, olha com cuidado, devota atenção necessária para que tudo cresça, floresça e cumpra seu ciclo. Às vezes sou a flor, mas também noutras tantas eu me sinto o passarinho. O beija-flor.

7 comentários:

CK disse...

Bi,
não sei como faz, nem sei como acontece, mas suas palavras tem volume e leveza. Nós pobres aprendizes e leitores assíduos, muitas vezes nos perdemos nesse seu mundo de palavras e pensamentos.
Você é diferentemente boa no que faz, como o Wolverine é, como o James Bond é, como o James Cameron é...
Bj
Fico me perguntando de onde ela tira essas palavras e conexões...? Sei lá.

Bibi disse...

Tb não... Só sei que existem muitas palavras dentro de mim! rs

disse...

Oi Bia;

Quem me fez chorar hoje foi vc...que post lindo!! Obrigada Flor, seu talento é inegável. De ontem pra hoje andei, literalmente, degustando seus relatos. Mulher; eles são saborosos..rsrs!! Como é gostoso ler um Blog realizado com tanta dedicação e carinho. Há uma entrega sutil; tênue; ao mesmo tempo profunda; sincera; perspicaz; hábil e, extremamente, talentosa. Sua sensibilidade tem um “que” visto em poucos poetas. Você escreve de maneira singular. É engenhosa; arteira e “atrevida”...fica muito transparente seu lado menina, moleque...mulher. Em alguns fica “faltando” um quero mais, talvez um e “aí”...algo que defino como até onde alguém se expõe. Mas não veja pelo lado negativo, ao contrário isso é bom; porque fica aquele gostinho nos ciclistas (leitor)...entende?! Sutilmente, nos aguça a curiosidade, a reflexão, ou aquela “viagem” as nossas lembranças, a momentos que talvez se perderam no tempo e após ler uma poesia sua...pronto. Sentimentos e mais sentimentos (pra não citar lágrimas) afloram.

Vá disse...

Bom; não consigo ao certo explicar, ou definir seus textos; entretanto, o mais importante acontece...eu; os sinto. Ah, e como eles me tocam...magnificamente!! Não encontro sinônimos que chegam à altura deles. Novamente, declaro-me sua fã.

Flor, “falo” de coração...porque com o tempo perceberá que não sou de medir palavras. Qdo. gosto; gosto de verdade. Essa história de ficar paparicando os outros pra fazer média não é comigo...rsrs!!

Identifico-me muito com o que vc escreve. Agora que encontrei seu Blog te verei sempre!! Esse “mundo” que criaste o Bibi de Bicicleta é tão lindo porque nele encontro alma, sensibilidade poética, criatividade ímpar e a indiscutível jornalista que é!!

Fiquei muito feliz em finalmente saber quem é e onde está minha escritora favorita; mesmo que foi quase no último dia do ano. Acredito que tenha sido um presente de ano novo!!

Parabéns novamente pelo trabalho e talento único. Ah! vou repetir aquilo que escrevi no nosso 1º contato: “nunca permita que o Bibi acabe ou deixe de postar; mantenha-o só pra nós...afinal aqui tudo é imparcial...rsrs. Em outras palavras; há o "melhor de dois mundos"!!

disse...

Tenha certeza de uma coisa; está sendo um prazer saber um pouco de ti...percebi que ficarei muitas horas, ou até noites a dentro degustando seus posts.

Creio que já deve ter notado que eu não sei escrever pouco, e preferia estar falando tudo isso...acho que é mal de jornalista; falo muito e, muito mais rápido do que escrevo...por isso, ñ dê atenção a pontuação correta; além das concordâncias em meus comentários...rsrs, ok?! E essa “falação” toda com um mix de emoção pelo seu post dedicado a mim; quase me fez esquecer de responder sua pergunta sobre os e-mails.

Não tenho a resposta correta; mas alguém deve ter os copiado e reenviado aos amigos. Sabe; como uma espécie de corrente??! Recebo muitos e-mails de amigos que receberam a mensagem de outros amigos e gostaram....por fim; nem eu sei quem, mas me repassou – a mim e pra mais um monte de amigos e por aí vai de um pra milhares....

....uma gigante bola de neve que não sabemos quem a começou...creio que essa é a explicação mais sensata. A diferença que comecei a notar algumas peculiaridades em determinados textos. Seus posts chegam como ”mensagem do dia”, já viu?!...

disse...

....entre algumas coisas que li percebi um detalhe que alguns e-mails que recebi (antigos), são vários textos seus em um, como se “retalhassem, ou juntassem partes de vários textos e fizessem um novo”. Me atentei porque li muitos “trechos” de textos seus que eu já havia lido...uns até tenho guardado em meu computador, como a colcha de retalhos da sua avó que utilizei pra elaborar meu perfil. Por falar nesse post, sua história na íntegra é linda.

Porém, é triste constatar que vem em formato de texto, nunca com o nome da autora...infelizmente. Mas isso também não vem ao caso agora, né?! Mas eu te aconselharia a colocar seu nome em todos os textos, principalmente nas frases. Por exemplo; essa mensagem também veio por e-mail (porém percebi que no Blog vc a assinou, mas parece que se transformou em telefone sem fio...só o seu nome, dá uma olhada/ parece que fazem de propósito, estranho, né?!):

“Às vezes sou terrivelmente arrogante comigo mesma.
E grito com os meus botões!
Às vezes sou extremamente pretensiosa comigo mesma.
E rasgo os meus botões!
E me rasgo inteira, de fora para dentro”.
(Autor desconhecido)

Bia; só descobri que era sua porque estou lendo seu Blog. Flor, que profundo isso, né?! Mulher; o que aconteceu contigo pra escrever algo assim...

...bom, com certeza atrás desse contexto há uma história daquelas; ou inspiração divina, só pode!!

disse...

Por fim, Bia, estou amando (amando é pouco) tudo que estou lendo, muitos posts relendo, mas com imenso prazer.

Ah! nem pense em me processar, pois já usei em meu Blog muitas coisas suas que fui retalhando (do que já veio retalhado); antes de saber que vc existia...rsrs. Entretanto, sempre reescrevia “partes dos textos no Google” atrás do verdadeiro autor e nada.....até te achar com um dos textos que mais amei, o qual vc postou.

Flor; creio que não só aqui em São Paulo seus posts chegam por e-mail, mas a qualquer lugar do mundo, onde haja um brasileiro, ou alguém que fale português, procurando uma bela mensagem pra enviar aos amigos...sacanas?! como julga-los?! Infelizmente, nem todos terão a consciência e decência de procurar o autor como eu fiz. Mal sabem o que estão perdendo.

Só sei que está sendo de fato, um prazer conhece-la!! Ah! a partir de agora estarei sempre nessa ciclovia.

Espero que possamos nos conhecer em breve. Sair do mundo “virtual” e ir pro “real”. Olha; em maio vou a Paraty (especificamente chego dia 21 e devo retornar dia 24 no máximo – se Deus quiser, é claro); bem que vc podia baixar lá...hehehe...vai se organizando, hen!! Aproveitaremos o tempo pra amadurecer essa idéia, o que acha?!

Bjs,