Foto: Jackson Bezerra
E só para não dizer que não falei de flores...
A poucos posts atrás eu disse que estava lendo tudo o que me caia nas mãos, certo? E estava tirando lições até da "voz" dos oráculos. Brincadeira à parte, terminei mais dois livrinhos, que queria registrar aqui, como venho fazendo.
O primeiro chama-se "3 - Um romance para ler de uma só vez", de Patricia Carvalho-Oliveira. Composto por 100 páginas e do tamanho da palma da minha mão, a obra é um romance misturado à poesia. Como bem definiu Domingos Oliveira na orelha: "Mistura tudo, prosa, poesia concreta, memórias pessoais, delírio e sexo.E propõe um gênero novo: um livro para ser lido de uma só vez". E creia, você consegue. É tão romântico que chegou a me perturbar: será que existe amor assim? Totalmente crível e possível, mas tão raro de ser vivido plenamente. Deve ser porque o amor ainda não me encontrou plenamente. Duas curiosidades:
1) ela assume um tom experimental na obra, o que na minha opinião é uma ousadia bem-vinda, mas arriscada em um país em que poucos se rendem à leitura e menos ainda os que podem investir financeiramente nesse prazer;
2) Pelo que eu entendi, essa é uma produção independente com tiragem de apenas mil exemplares (na verdade eu nem sei de quanto é a tiragem de um não-independente), mas me pareceu tão pouco, se contarmos com divulgação e coisa e tal. Acho que um livro nem deve sair da prateleira sem divulgação (posso estar exagerando, não tenho dados e essa é apenas a minha impressão quando entro na Travessa, por exemplo). Engraçado é que esse livro veio parar nas minhas mãos através de um ato de divulgação... Vai entender?
O segundo livro chama-se "Por que Homens e Mulheres Traem?", da antropóloga Mirian Goldenberg. Adorei o jeito dela escrever, mesclando dado teóricos frutos de uma vida de pesquisa com uma espécie de romance exposto, cru, na carne. Cada capítulo vai mesclando ciência e literatura. Um atrás do outro. Um continuando o outro alternadamente. Até um certo período do livro, você consegue fazer bem o jogo de mudar de estações. Do meio para o final, no entanto, as aventuras e desventuras sexuais da personagem são tão fortes, que você já não consegue focar nos dados trazidos à luz da ciência para dar munição e ensejo para uma resposta à pergunta-tema do livro. Eu simplesmente pulava os capítulos sérios e ia direto para o romance. Isso é um risco para a autora. A dica seria sintetizar as pesquisas e alongar as páginas com exposição do romance. Matar um pouquinho só a antropóloga e deixar a romancista gritar. Menos capítulos, menos explicações para os dados teóricos. Melhor aproveitamento cognitivo. Adorei o fato dela citar a história de Sastre e Simone de Beauvoir. Adorei ela mesclar crônicas de Manoel Carlos, Luis Fernando Verissimo e Danuza Leão, por exemplo. Ficou divertido e estimulante.
"Não se nasce mulher, torna-se mulher"- Simone de Beauvoir
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