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Amo minha cidade, mas confesso que algumas vezes as suas dicotomias me surpreendem. Eu já devia estar acostumada com essa estética que se move entre a ordem e a desordem no âmbito público e privado do Rio de Janeiro, com o funcionamento do oficial em paralelo com o oficioso... E a coisa funciona mesmo sem grandes sobressaltos no correr dos dias, mas basta sair do lugar comum, para a percepção aguçar em relação a pequenos acontecimentos. Uma aparente bobagem o que vou contar, mas senti “pena” (não creio ser essa a melhor palavra).
Estou recebendo um primo que veio de outro estado. Adoro ter família em casa e por “casa” eu acabo estendendo o conceito para cidade. Afinal, um cara jovem, inteligente e descolado não vem visitar a família para ficar refém dos limites físicos da casa, não é? Eu acho. E em função dessa visita, comecei a pensar em lugares possíveis de a gente ir, sem ter que apelar muito para os pontos turísticos óbvios. Não era a primeira vez dele aqui.
Como íamos jantar com outras pessoas num restaurante japonês e mexicano (isso mesmo, a mistura pitoresca é que torna o lugar diferente) em Botafogo, resolvi dar um passeio pelo Mirante do Pasmado, que tem uma vista fabulosa tanto da enseada de Botafogo (Marina da Glória, um pedaço do Aterro), quanto do Pão de Açúcar, Urca e afins.
Fomos. Trânsito caótico até a rua que sobe. Ao chegar lá em cima a bela surpresa de Grego: tudo apagado. As tradicionais “carrocinhas” de cachorro quente estavam lá, funcionando a todo vapor. Várias vezes fui com amigos lá saborear o dogão com uma vista de tirar o fôlego. Dessa vez: o escuro e o vazio. Vazio só não, um monte de gatos soltos, que a gente tinha que ter cuidado para não pisar. Para nos salvar do breu total, o farol do carro de polícia que estava estacionado por ali. O que era para ser emoção, tomou o viés da depressão. Mais um pedaço do Rio largado.
E no fim da noite, depois de um jantar delicioso, resolvemos passear de carro. Nova surpresa. A praia de Ipanema estava escura. Claro, alguns postes iluminando a calçada, mas a areia entregue à noite. Saulo, que estava conosco, disse uma coisa muito certa: “Acabou o verão, os turistas se vão, a cidade dorme”. Triste constatação.
2 comentários:
Pois é... triste assim.
Tem uma música do Chico que eu adoro que diz que a tristeza é uma forma de egoísmo. Nesse caso, da partede quem não cuida!
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