17.11.11

Dom de Iludir




Confesso: as vezes eu busco um motivo para escrever. Gosto daqueles que fazem da escrita o seu motivo de vida ou a sua motivação. E há dias que sou assim. Nem todos. Vivo agora um deserto de ideias. Ou ideais. Busco algo que é por demais subjetivo: aprovação. Por que o olhar do outro é tão determinante para o desenvolvimento das circunstâncias, quando na realidade a essência toda devia partir e estar dentro de nós? 


Achava que isso era uma espécie de insegurança minha. Uma bobagem que eu precisava superar (por mim mesma ou no analista). De certa forma o é, mas não é apenas prerrogativa das minhas limitações pessoais. Moa me disse: "Precisamos de alguma forma da aprovação dos outros, um balançar de cabeças para a nossa segurança. Atenção, bajulação e colo todos querem. Inclusive eu, você e até a Força Fla".Se até a Força Fla precisa, realmente deve ser algo muito, muito forte (rs). Não uma tendência, mas algo essencial, in natura, intrínseco.


A não realização de desejos tão antigos e profundos me é muito limitante e desgastante. Ao mesmo tempo, me motivo ao ler relatos de pessoas, como eu e você (e até alguns da Força Fla hohoho), que usaram de suas pedras de tropeço, de suas derrotas e de suas limitações como o trampolim indispensável, o comburente necessário à combustão. Não são poucos. Talvez os que se distinguam da mediania, os que superam a mediocridade que se conforma em não correr atrás de sonhos. Sonhos são mesmo subterfúgios de uma alma infantil? Será que não são os fortes aqueles que se resignam sem abandonar a luta diária que é viver segundo as circunstâncias? Seria assim tão errado apenas tocar a existência sem grandes expectativas? Não sei. Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é.


Minha professora de Narrativa anda me dando notas muito baixas nas soluções dos textos que produzo. "Falar de si não é literatura", foi o que aprendi recentemente. Mas é o que eu sei escrever, por enquanto. Minhas soluções não são suficientes e isso passou a alterar as minhas expectativas. O quanto a gente não muda em função do olhar do outro? A quem, afinal, a gente quer agradar? A negativa (a dela e a não-realização de um outro desejo antigo, profundo, plausível e que nunca acontece), no entanto, me fez produzir esse texto reflexivo e nada conclusivo. Vou guardar com carinho essas dores de hoje, mas que serão de outrora.

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