Esta é uma história real. Daquelas tantas que podem acontecer: comigo e com você. Por que vou contá-la? O motivo certo eu não sei. Mas sei do que o peito fala e o que ele cala e como convém.
Domingo. Nos encontrávamos invariavelmente após o culto (sim, não era missa, era um culto mesmo). SD e SV eram casados há mais de 15 anos. Tinham dois filhos: o Gu e a Ju. SV é minha prima, por um tempo foi criada por minha Mãe (a partida dela lá de casa para o casamento foi o anúncio da minha chegada à existência. Mero erro de tabelinha? Não para os que acreditam que não existe acaso quando se joga no time do dono da existência. Haja luz! E houve partida e chegada). A minha idade regula, portanto, com a dos filhos dela. Gu e eu fazíamos muita bagunça e a Ju observava tudo com olhos encantados, participando ocasionalmente e rindo sempre.
SD era um pai adorável de papo serio e coracao mole. Tinha um escort xr3, carro moderninho para a época, e com ele corria cortando os latas velhas, para a alegria do Gu, louco por velocidade. Tocava bateria, trabalhava na Globo, ria de jogar a cabeça para trás... Aquele tipo de gargalhada que te tira do lugar comum. Gostava de praia, fazia aniversário dia 1 de janeiro e nunca ficava sem festa. Talvez sem presente, mas nunca sem abraços e celebrações. Ele era a festa. SV acompanhava seu ritmo, puxando o freio com carinho e delicadeza. Ela sempre foi perfeita na cozinha e na conversa. Um casal adorável.
Era um domingo. SD insistiu para eu ir para a casa deles. Fui. Era sempre um momento gostoso em família. SD me ensinou a comer brócolis e por causa dele eu aprendi a gostar. O nosso almoço daquele dia era com brócolis, a verdura que me iniciou na alimentação saudável e afetiva. Comemos. Tiramos a mesa. SD foi me fazer cosquinha no sofá. Abriu caminho para falarmos de coisa séria sem parecer sermão. Falamos de futuro. Olhamos olho no olho. Imagem digna de ser registrada na Rolleiflex da memória.
Toda a família foi para um dos quartos. SV queria mostrar um CD que tinha comprado. Era Sinatra. SD tirou SV para dançar. Um cheek to cheek dentro de um quarto minúsculo. As crianças se sentaram na cama e riram da cena. Era mesmo uma visão deliciosa. Se a gente soubesse...
Voltamos para a igreja. Culto da noite. Não era dia de SD tocar bateria, mas ele insistiu. Tocou com a alegria e a energia de sempre. Fim da música, ele sai de cena. Sentiu-se desconfortável. Foi atendido por um médico da igreja que indicou que ele fosse direto para o hospital. Ele achou que fosse brincadeira, disse que ia dirigindo. Foi desaconselhado. Chegou ao hospital. Era caso de cirurgia. Operou. Um homem alto, forte, de bem com a vida, de hábitos saudáveis. Não fumava. Não bebia. Foi vencido por um aneurisma na aorta. Do nada, fez-se tudo. E desse tudo sobrou nada.
Essa história já tem tempo. Na época, a Ju tinha 10 anos. Hoje está casada e cursando Medicina de forma brilhante. Gu é publicitário (dos bons). Lembro de como recebi a notícia, que me dói até hoje contar. Recordo de cada passo daquela despedida. Era um adeus às coisas que lhe eram mais caras e ele nem sabia. Mas curtiu cada segundo daquele último dia e talvez eu estivesse lá para registrar essa linda história.
Por que contar? Porque acredito que a vida é tão efêmera, tão delicada para a gente ter medo de ousar, de dar passos que definem, mas não delimitam o futuro, que sempre sera incerto e misterioso. Vivi aquele dia como se fosse o último. E era, mas não para mim; para alguém que eu amava e admirava intensamente. Jamais esqueci a aura de alegria que nos envolveu naquela tarde de domingo e que me marcou profundamente.
Eu, você e tantos outros ao nosso redor passamos por desafios que podem ser os últimos e nem nos daremos conta. Há os que vencem esse desafio e estão sendo chamados para recobrar o fôlego e receber da vida os presentes que ainda não foram desembrulhados. Não adianta querer viver todas as experiências perdidas em menos tempo possível. Vamos viver o melhor de cada dia e deixar a nossa marca positiva, algre, cheia de amor e esperança. Vamos escolher parceiros excelentes para dividir com a gente o enredo dessa bela história chamada vida. Vamos dançar cheek to cheek sem se importar com quem está olhando. E escolher fazer o que gosta, sempre que tivermos essa bela oportunidade. A gente nunca sabe quando será o fim da linha; mas também não nos guardamos em concha na espera dele. Que o dia de hoje seja a alegria progressiva para o pontapé inicial para um belo amanhã!
Domingo. Nos encontrávamos invariavelmente após o culto (sim, não era missa, era um culto mesmo). SD e SV eram casados há mais de 15 anos. Tinham dois filhos: o Gu e a Ju. SV é minha prima, por um tempo foi criada por minha Mãe (a partida dela lá de casa para o casamento foi o anúncio da minha chegada à existência. Mero erro de tabelinha? Não para os que acreditam que não existe acaso quando se joga no time do dono da existência. Haja luz! E houve partida e chegada). A minha idade regula, portanto, com a dos filhos dela. Gu e eu fazíamos muita bagunça e a Ju observava tudo com olhos encantados, participando ocasionalmente e rindo sempre.
SD era um pai adorável de papo serio e coracao mole. Tinha um escort xr3, carro moderninho para a época, e com ele corria cortando os latas velhas, para a alegria do Gu, louco por velocidade. Tocava bateria, trabalhava na Globo, ria de jogar a cabeça para trás... Aquele tipo de gargalhada que te tira do lugar comum. Gostava de praia, fazia aniversário dia 1 de janeiro e nunca ficava sem festa. Talvez sem presente, mas nunca sem abraços e celebrações. Ele era a festa. SV acompanhava seu ritmo, puxando o freio com carinho e delicadeza. Ela sempre foi perfeita na cozinha e na conversa. Um casal adorável.
Era um domingo. SD insistiu para eu ir para a casa deles. Fui. Era sempre um momento gostoso em família. SD me ensinou a comer brócolis e por causa dele eu aprendi a gostar. O nosso almoço daquele dia era com brócolis, a verdura que me iniciou na alimentação saudável e afetiva. Comemos. Tiramos a mesa. SD foi me fazer cosquinha no sofá. Abriu caminho para falarmos de coisa séria sem parecer sermão. Falamos de futuro. Olhamos olho no olho. Imagem digna de ser registrada na Rolleiflex da memória.
Toda a família foi para um dos quartos. SV queria mostrar um CD que tinha comprado. Era Sinatra. SD tirou SV para dançar. Um cheek to cheek dentro de um quarto minúsculo. As crianças se sentaram na cama e riram da cena. Era mesmo uma visão deliciosa. Se a gente soubesse...
Voltamos para a igreja. Culto da noite. Não era dia de SD tocar bateria, mas ele insistiu. Tocou com a alegria e a energia de sempre. Fim da música, ele sai de cena. Sentiu-se desconfortável. Foi atendido por um médico da igreja que indicou que ele fosse direto para o hospital. Ele achou que fosse brincadeira, disse que ia dirigindo. Foi desaconselhado. Chegou ao hospital. Era caso de cirurgia. Operou. Um homem alto, forte, de bem com a vida, de hábitos saudáveis. Não fumava. Não bebia. Foi vencido por um aneurisma na aorta. Do nada, fez-se tudo. E desse tudo sobrou nada.
Essa história já tem tempo. Na época, a Ju tinha 10 anos. Hoje está casada e cursando Medicina de forma brilhante. Gu é publicitário (dos bons). Lembro de como recebi a notícia, que me dói até hoje contar. Recordo de cada passo daquela despedida. Era um adeus às coisas que lhe eram mais caras e ele nem sabia. Mas curtiu cada segundo daquele último dia e talvez eu estivesse lá para registrar essa linda história.
Por que contar? Porque acredito que a vida é tão efêmera, tão delicada para a gente ter medo de ousar, de dar passos que definem, mas não delimitam o futuro, que sempre sera incerto e misterioso. Vivi aquele dia como se fosse o último. E era, mas não para mim; para alguém que eu amava e admirava intensamente. Jamais esqueci a aura de alegria que nos envolveu naquela tarde de domingo e que me marcou profundamente.
Eu, você e tantos outros ao nosso redor passamos por desafios que podem ser os últimos e nem nos daremos conta. Há os que vencem esse desafio e estão sendo chamados para recobrar o fôlego e receber da vida os presentes que ainda não foram desembrulhados. Não adianta querer viver todas as experiências perdidas em menos tempo possível. Vamos viver o melhor de cada dia e deixar a nossa marca positiva, algre, cheia de amor e esperança. Vamos escolher parceiros excelentes para dividir com a gente o enredo dessa bela história chamada vida. Vamos dançar cheek to cheek sem se importar com quem está olhando. E escolher fazer o que gosta, sempre que tivermos essa bela oportunidade. A gente nunca sabe quando será o fim da linha; mas também não nos guardamos em concha na espera dele. Que o dia de hoje seja a alegria progressiva para o pontapé inicial para um belo amanhã!
6 comentários:
A transitoriedade de tudo e de todos, Rodrigo Amarante descreveu bem isso na letra da canção "Evporar".
Sensível e sincero este seu texto que tinha tudo pra se tornar dramático, mas é finalizado bem, apontando para um certo alento.
Sempre em frente, porque a vida sempre continua, meu caro!
Tempo...
Vamos celebrar a vida, com dizia Renato com sua Legião.
Parei pra pensar como somos frágeis e às vezes nos perdemos no tempo que não temos.
Bjs
Prima... tô me refazendo. Fiquei chocado e feliz de encontrar este relato aqui. Eu nunca soube ao certo como foi a morte de meu padrinho. Se soube, era pequeno e não recordo. Me lembro que estava brincando de lego no quarto, quando mamãe entrou no quarto segurando as lágrimas e me contando que ele havia morrido. Eu convivi puoco com ele mas tenho uma lembrança forte de seu rosto amável... doce recordação. Ele marcou minha infância com sua serenidade, seu sorriso sincero, seu jeito seguro e sensato. Me emociono de lembrar do "dindo" que não curti!! Saudades de infãncia que levarei com carinho até reencontrá-lo.
Saiba que foi Deus quem te inspirou a escrever esta memória. Obrigado!! Estou feliz e emocionado...
Saulo: Escrevi em parte... Deu uma vontade sem freios. Saudade. Vontade de viver uma história de amor sincera, porque ninguém sabe o tempo que tem...
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