Uma das coisas mais encantadoras na minha profissão é poder interagir com pessoas. Não em bases superficiais, como num atendimento ao público. Ter o imenso prazer de poder ver e falar com gente, refletir com e sobre elas, conhecer histórias de vida no instante de um papo ou nos mistérios das entrelinhas que se deixam escapar em suspiros e gestos.
Fazer entrevista é uma arte. Muitas vezes estressante; um exercício tão desgastante quanto queimar calorias na ergométrica. Há também as que são a cereja do bolo. Quando você é escalado para fazer uma matéria para um veículo, mesmo tendo estilo próprio, você é "obrigado" a entrar na linha editorial do trabalho. Inevitável. Mas quem disse que não pode ser divertido? Pode sim!
O mais incrível de se ter um blog é que você pode falar sobre as pessoas que você escolhe. O Moratelli, por exemplo, fala de pessoas e de lugares como ninguém no Sobretudo (e eu falo dele aqui com frequência. Não mais do que falo da Onça, não é verdade?!). No mesmo dia em que eu partia para NY, ele chegava de um périplo pela América Latina. E foi registrando histórias e contando além do que a fotografia registrava (Hoje é Dia Mundial da Fotografia! Aê!).
Tentei criar esse olhar para mim. Não como cópia, mas uma homenagem que me abrisse o campo de um novo estilo. Não foi fácil. Não vai sair nem parecido... Meu texto já está grande (hehe). Mas fiz essa foto aí de cima em um dos meus muitos passeios pela Ilha de Manhattan. Fora de foco porque eu estava morrendo de vergonha que alguém viesse reclamar comigo. Você sabe: coisa de principiante!
Era verão em NY. O dia estava bem quente e as pessoas que passam meses de inverno debaixo de camadas generosas de neve, saem às ruas para celebrar o tempo quente. Cheguei ao Columbus Circle, pertinho do Central Park, e dou de cara com uma cena que - pelo menos para mim - era encantadora. Três crianças entraram no chafariz de roupa e tudo. Elas corriam de um lado para o outro aproveitando a água limpíssima (Dizem que nos EUA a água que sai da torneira é própria para consumo) e davam gargalhadas sem se preocupar com quem estava por ali passando, curtindo o sol ou dando uma relaxada. Lembrei dos tempos em que tomar banho de mangueira (eu chamava borracha) com as amigas era um momento de festa. Olha a chuuuuuva! Roupas coladas, almas lavadas, pés imundos!
Foquei melhor o meu olhar e lá veio o preconceito conversar comigo: "são crianças latinas. As americanas não se dariam ao desfrute". Será? São crianças mais felizes, sem dúvida! Mas eu acharia bonitinha essa cena aqui no Rio? Quantas crianças por aqui não usam o chafariz de chuveiro e a gente acha a coisa toda péssima!? Se bem que... Uma vez passando pelo centro da cidade, vi meninos de rua brincando nas águas de um chafariz. Estava no ônibus e a cena demorou a sair do meu campo de visão. Achei a brincadeira muito legal, porque eles pareciam se divertir de verdade, esquecendo um pouco as agruras dos dias comuns. Hoje criança mata, fere, rouba. Mas quando têm a oportunidade, quando deixam, criança é sempre criança.
19.8.09
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7 comentários:
Pudéramos não perder a simplicidade, a espontaneidade, a ingenuidade e a sinceridade da infância...
Cada um , ao seu modo, vai catando retalhos pra traçar seus pensamentos. E vc vfaz isso muito bem, no estilo que se propõe. bjo
O comentário anterior é meu.
Eu sei Mito! Que é vc, não dos retalhos que faço bem! Sou péssima na costura! rs
Saulo: a gente não deve perder... Eu luto para manter a minha espontaniedade
bem bonito esse texto!
bjo
Dedico o lead e o primeiro parágrafo a vc Sambeira
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