"Há coisas meu bem, que é nosso dever:
que a gente não gosta, mas tem que fazer"
Essa era uma das músicas que ela cantava para a "garotada", quando alguém se recusava a realizar alguma tarefa. Era entoada de forma lenta e carinhosa. E ela olhava dentro dos nossos olhos. Era o suficiente. Uma conversa além das palavras, além das letras, além da compreensão total de sua potencialidade. Assim era a Tia Manu, a amiga das crianças. A Tia de todo mundo e a avó de quem coubesse em seu abraço.
Uma pessoa devotada à formação dos pequenos. Professora de muitos. Protetora dos pobres. Costureira de todos. De roupas à figurinos de peças teatrais. Ela gostava de participar de todo e qualquer movimento que aparecesse. Sua vida foi sempre de atividade constante. Referência. Sua morte foi uma despedida. Tranquila.
Antes de fechar os olhos, ela teve dois desejos: conhecer a primeira bisneta e completar 62 anos de casada. E assim foi. Seu marido, que nunca fala nada (o que ele tem de calado; ela tinha de conversadora), abriu a boca para dizer a frase mais linda: "Como é que vou viver sem a menina?". A menina já tinha 78 anos. Realmente era uma menina de olhos espertos e lembranças ternas. Uma menina de mente alerta. De gargalhadas e preocupações.
Da última vez que nos vimos, ela ainda lembrava-se das minha travessuras de criança. E recontava as mesmas histórias que me faziam rir. De vergonha, de saudade. Uma vez, na igreja, fiz o papel da estrela que guiou os Reis Magos até o Menino Jesus. Ao fim da peça, o pastor se posicionou ao meu lado para se despedir dos "irmãos". Diz ela que eu coloquei o meu braço sobre o ombro dele - como uma camarada - e tasquei um beijo naquela careca suada. Espontânea. Risada geral. Tia Manu gostava de se lembrar disso. E ria, ria...
Outro fato que ela gostava de dizer: eu te conheço por dentro e por fora. Um dia, teve uma festa numa sala no segundo andar do prédio da igreja, longe de qualquer "facilidade". A sala era dividida em duas partes por um grande palco. Festa rolando na frente e a parte de trás escura e fechada. Eu, diabética, sempre ficava apertada para fazer xixi e não tinha ninguém para ir comigo até lá em baixo, onde ficava o banheiro. Qual foi o meu pensamento lógico? Vou pegar um copo desses de plástico e fazer xixi ali dentro. Fui lá para trás, me tranquei em um dos armários e fiz xixi na maior paz. Saí de lá sem saber onde colocar o produto da minha arte. O que fiz? "Hum, se eu deixar aqui em cima dessa mesa, ninguém vai perceber que eu fiz xixi de improviso, no lugar errado"... Coloquei o copo na mesma mesa que em seguida foram postados os refrigerantes. Tia Manu veio correndo, esbaforida, e deu uma golada no guaraná de xixi. Foi: ela bebeu meu xixi! Eu sempre fico espantada (horrorizada) com a minha capacidade de ter feito isso. Tia Manu contava às gargalhadas o feito. "Ah, Beatriz, você não era fácil", repetia sempre, usando meu nome completo. Uma das únicas que evitava o apelido. Mas quando usava... Era sempre transbordando de amor. Ela sabia que não era maldade, mas apenas travessura de criança. E de crianças ela entendi muito bem! Eram 4 filhos, 9 netos e uma bisneta. Fora os agregados... Xiii, aí a lista seria gigante! Muitos a adotaram como referência de bondade e amor. Tia, vovó, mestra, protetora.
Com ela aprendi sobre Deus e sobre a vida. Com ela me senti exposta e protegida. Com ela tomei banho de tanque, de borracha e de chuveiro. Com ela aprendi a fazer oração e a evitar a malcriação. Com ela fiz teatro e fiz realidade. Dela agora me sobra a saudade...
Uma pessoa devotada à formação dos pequenos. Professora de muitos. Protetora dos pobres. Costureira de todos. De roupas à figurinos de peças teatrais. Ela gostava de participar de todo e qualquer movimento que aparecesse. Sua vida foi sempre de atividade constante. Referência. Sua morte foi uma despedida. Tranquila.
Antes de fechar os olhos, ela teve dois desejos: conhecer a primeira bisneta e completar 62 anos de casada. E assim foi. Seu marido, que nunca fala nada (o que ele tem de calado; ela tinha de conversadora), abriu a boca para dizer a frase mais linda: "Como é que vou viver sem a menina?". A menina já tinha 78 anos. Realmente era uma menina de olhos espertos e lembranças ternas. Uma menina de mente alerta. De gargalhadas e preocupações.
Da última vez que nos vimos, ela ainda lembrava-se das minha travessuras de criança. E recontava as mesmas histórias que me faziam rir. De vergonha, de saudade. Uma vez, na igreja, fiz o papel da estrela que guiou os Reis Magos até o Menino Jesus. Ao fim da peça, o pastor se posicionou ao meu lado para se despedir dos "irmãos". Diz ela que eu coloquei o meu braço sobre o ombro dele - como uma camarada - e tasquei um beijo naquela careca suada. Espontânea. Risada geral. Tia Manu gostava de se lembrar disso. E ria, ria...
Outro fato que ela gostava de dizer: eu te conheço por dentro e por fora. Um dia, teve uma festa numa sala no segundo andar do prédio da igreja, longe de qualquer "facilidade". A sala era dividida em duas partes por um grande palco. Festa rolando na frente e a parte de trás escura e fechada. Eu, diabética, sempre ficava apertada para fazer xixi e não tinha ninguém para ir comigo até lá em baixo, onde ficava o banheiro. Qual foi o meu pensamento lógico? Vou pegar um copo desses de plástico e fazer xixi ali dentro. Fui lá para trás, me tranquei em um dos armários e fiz xixi na maior paz. Saí de lá sem saber onde colocar o produto da minha arte. O que fiz? "Hum, se eu deixar aqui em cima dessa mesa, ninguém vai perceber que eu fiz xixi de improviso, no lugar errado"... Coloquei o copo na mesma mesa que em seguida foram postados os refrigerantes. Tia Manu veio correndo, esbaforida, e deu uma golada no guaraná de xixi. Foi: ela bebeu meu xixi! Eu sempre fico espantada (horrorizada) com a minha capacidade de ter feito isso. Tia Manu contava às gargalhadas o feito. "Ah, Beatriz, você não era fácil", repetia sempre, usando meu nome completo. Uma das únicas que evitava o apelido. Mas quando usava... Era sempre transbordando de amor. Ela sabia que não era maldade, mas apenas travessura de criança. E de crianças ela entendi muito bem! Eram 4 filhos, 9 netos e uma bisneta. Fora os agregados... Xiii, aí a lista seria gigante! Muitos a adotaram como referência de bondade e amor. Tia, vovó, mestra, protetora.
Com ela aprendi sobre Deus e sobre a vida. Com ela me senti exposta e protegida. Com ela tomei banho de tanque, de borracha e de chuveiro. Com ela aprendi a fazer oração e a evitar a malcriação. Com ela fiz teatro e fiz realidade. Dela agora me sobra a saudade...
10 comentários:
Bia,
amei suas palavras! estou super emocionada! me fez recordar de varios momentos q minha vo preta me proposrcionou! esta frase típica ecoou na minha mente o tempo todo! realmente eh um privilegio ter o sangue dela, a genetica dela em mim! agradeço a Deus pelo q ela era e por poder ter convivido e aprendido com ela! agora o q fica relamente eh a saudade... vamos deixa-la tirar ferias, certo? o meu consolo eh q iremos encontrar com ela um dia la no céu!! bjkassss
Linda demais, me ensinou tanto sobre a bíblia, sobre o amor, sobre a vida... Amamos muito!
Fiquei emocionado em ler este post, sempre digo que aprendo mais com pessoas do que com os livros, isso me foi reforçado por meio do seu texto.
Que recado maravilhoso Fernando! Muito obrigada por compartilhar isso comigo! É o que me motiva a continuar escrevendo! Gosto de tocar a vida das pessoas. Sou tocada pela vida e pelas experiências de muitos!
Fiquei feliz de conhecê-la! Você registrou uma linda história que poderia passar despercebida sem merecer! Lamento não tê-la conhecido em vida! Bjus
talvez vc a tenha conhecido, mas era muito novo para lembrar!
Minha amigona Manoelina.
Mesmo havendo uma enorme diferença de idade entre nós, pois eu sou nora da D. lindalva , sua constante companheira.
Trabalhamos muito em Ebf's e na casa da Dodores. Fazíamos muitas atividades com a criançada no Presbitério. Fomos em muitas igrejas juntas e em Mangaratiba.
Como era gostoso o seu abraço e o sorriso que recebíamos quando nos via.
O que mais me chamava atenção nesta "bela pessoa" era sua enorme preocupação em ensinar toda a Bíblia para os seus pequeninos. Ela os amava sinceramente, como filhos do coração. Cada um era muito especial.
Como Bia falou, ela os conhecia por dentro e fora (era uma boa mestra).
Cada alma que se decidia , era pra ela motivo de muita gratidão a Deus.
Fui muito feliz o tempo que trabalhei ao seu lado.
A última coisa, mais linda, que a vi fazendo, e muito me emocionou, foi entregar as alianças no dia do casamento da Daniele (sua neta, pois fazia aniversário de casmento no mesmo dia). Nunca tinha visto uma manifestação tão grande como esta: "o casal Experiente introduzindo o novato entregando-lhes o o anel que sela a união. Chorei rios de lágrimas. Lindo demais!!!
Foi nosso último encontro.
Sabemos que ela está muito feliz e no aconchego do Senhor.
Deus esteja com esta família tão querida.
Ai, Bia... vc me fez lembrar de quem amo tanto e já se foi há tanto tempo... minha bisavó Joaquina... saudades eternas de quem vive pra sempre dentro de mim...
Ana, ela nem era minha tia de sangue, mas era amor de verdade. Muito bonito esse tipo de sentimento! Off-Blood!
Bia, você sabe o quanto eu a "mimo", não devia, sei disso, mas faço... acho que até por causa da minha mãe e porque você me deu muito trabalho! rsrsrs... mas também estava sempre disposta.
Sabe, hoje bateu uma saudade dela. E graças a Deus que colocou você entre nós, posso vir aqui e reler esse texto sobre a minha mãe. Obrigada por ter feito isso por nós todos. Continue muito melhor do que isso, pois sei que você é capaz, assim com a Elisa, minha sobrinha e sua amiga também. Brigaduuuu... Bjs
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