Uma notícia que 'shake my system' hoje.
As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) anunciaram o fim da prática de sequestros e a libertação de maneira conjunta dos dez militares e policiais que seguem em seu poder como reféns.
Juro: há notícias, como essa, que parecem um sonho. A história mexe e sempre mexeu muito comigo. Houve um tempo em que os conflitos internacionais tomavam a minha atenção e me emocionavam tanto, que já estava difícil ver TV. Isso antes dos 14 anos. Sempre fui de um sensibilidade estranha, desconexa das coisas à minha volta. E fui seguindo nessa toada perigosa de me envolver e emocionar até me dar conta de que eu não podia e nem precisava carregar comigo as dores do mundo. Talvez nesse tempo eu tenha começado a fazer poesias. As palavras libertam.
Há muito torcia pela libertação da Ingrid Betancourt e da Clara Rojas, as duas pessoas mais famosas sequestradas nessa guerrilha. Celebrei quando elas apareceram sãs e salvas depois de tantas agruras na floresta. Sofri, chorei, quando na última ação de resgate empreendida pelo exército colombiano, quatro reféns foram sumariamente executados pelas Farc. Gente presa há mais de 10 anos. Um, ferido, se salvou. O sargento Luis Alberto Erazo Maya, que estava sequestrado há quase 12 anos. E todo o resto do mundo voltou a colocar panos quentes na questão. As coisas passam para o módulo esquecimento até a próxima notícia voltar a aquecer os motores. Que bom que temos boas notícias, dessa vez.
Penso na vida que há de vir para essas pessoas que serão libertas depois de 12 anos destituídas de TUDO. Penso em como um cativeiro não transformaria pessoas em animais assustados (usando a palavra para expressar um primitivismo. Amo os animais e acho que neles encontramos sinceridade, mesmo por trás de instintos). Penso no significado da palavra 'recomeço' para cada um de nós. Para eles. Porque o tempo não pára, não é mesmo? Nós continuamos a nossa evolução no desenrolar da vida e dos acontecimentos aos quais também chamamos de futuro. Eles ficaram parados no tempo, presos num cárcere da mente também, num limbo existencial. Sobreviveram na base da esperança. Que gigantes! Que mentes!
E falando em mente, depois da alegria dessa notícia que está para se desenrolar na Colômbia - até com ajuda do staff brasileiro para intermediar a soltura dos prisioneiros - meu coração se volta para um homem chamado Youcef Nadarkhan, do Irã. Ele foi condenado à morte por ter abandonado o Islamismo e ter se tornado um cristão. Mais: um pastor cristão. Essa foi sua condenação e a qualquer momento ele pode ser morto. Apesar dos protestos que ecoam pelo mundo.
Youcef Nadarkhani tem 34 anos, é pai de dois filhos e foi acusado de apostasia. Foi preso em outubro de 2009 e julgado e condenado por um tribunal em Gilan, na província de Rasht. O tribunal lhe deu a opção de voltar ao Islamismo. Ele se recusou. O judiciário retardou o veredito final, talvez temendo as implicações políticas. Agora, porém, a sentença foi confirmada.
É absolutamente inaceitável que uma pessoa morra por causa da fé que professa. Seja ela qual for. É um traço claro também da destituição de uma liberdade. Liberdade de ser quem é. Liberdade de pensamento. Liberdade de expressão. O que também é um tipo de prisão, tanto quanto as grades da cadeia ou as correntes dos sequestrados na selva colombiana, que torna quem as pratica e aceita, bestiais. Não são casos isolados. Não devemos nos manter omissos ao que ocorre. O nazismo começou de forma lenta também, com "simples", proibição de autores e posterior queima de livros. Quem quer deixar que nossas ideias sejam queimadas nessa fogueira de arbitrariedades? De força bruta? De impedimento? De cerceamento dos sonhos? É preciso estar alerta. É preciso alertar.
2 comentários:
E como você não veio a Porto Alegre para o Fórum Mundial da Bicicleta?
:)
A minha Bike só pedala pelas vielas virtuais!
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