Tenho pés viajantes e alma de artista. Muito me espanta, um tanto me extasia, algo me arrebata, um mundo de coisas me enleva. Trago um zelo no olhar, sem reservas, sem atropelos. Um desassossego de experimentar o novo, o gozo, o belo, a vida. Um medo do desconhecido e por ele um fascínio quase suicida. Não do tipo de quem busca a morte no primeiro canto daquilo que é obscuro; mas de quem se atira ao sabor do desconhecido em busca daquele algo mais que acelera o peito, acalenta a alma, desobstrui os pensamentos torpes, traz sangue para a veia, encanta a alma, subverte conceitos ultrapassados, arrepia. Quando poderia imaginar que meus pés viajantes estariam caminhando sobre a grama verde e majestosamente conservada do Castelo da Eslováquia? E lá fui eu, registrando os pés caminhantes, que fazem o caminho a cada passo que a vida oferece, que Deus permite, que a coragem me leva.
Deus nos brinda com a graça da beleza em cada canto. Basta ter a fonte de belo no olhar e essa fonte brota de dentro, 'ainda que' e 'por mais que'. Para a maioria das pessoas, as sadias emocionalmente, o amor é a fonte de prazer mais profunda que existe. Portanto, perder a quem se ama seria a mais profunda fonte
de dor. Talvez e muito provavelmente, não
podemos ter um sem nos arriscar com o outro. Amar e mais que amar, sabendo que a hora de partir é um fato, mais que um ato. Ou tanto quanto. Por saber disso, algumas
pessoas escolhem não investir no amor e o saldo que incorre nessa decisão arriscada pode ser grande demais e dividido entre muitos. Visitei os campos de Auschwitz-Birkenau, no sul da Polônia. O desamor perpetrado pelo Nazismo. Bizarro? Excêntrico? Desnecessário? Nada disso: um memorial constante do lado mais brutal do ser humano. Lembremos das caças às bruxas, aos comunistas e de todo tipo de tortura que a insanidade já foi capaz de produzir. Um momento de reflexão.
A delicada tentativa de ser e de me saber parte de um todo. Um manifesto pela delicadeza em meio a toda a contradição que me faz humana. Um sonho que me mostra a beleza e a alegria que surgem quando nos dispomos a caminhar e a encantar a vida de muitos na semeadura do existir. Por quantas pessoas passamos e nem sabemos que impactamos com o doce perfume do nosso existir? Palavras, gestos, olhares, afagos, afetos, companhia. O outro existe sob o nosso olhar. E existirá melhor quando o vemos de forma exata, terna e compassiva. Apenas e tão somente um sorriso pode ser a chave para destravar grandes batalhas internas. Budapeste: uma cidade, dois reinos. De Buda eu vejo Peste separada pelo rio Danúbio. Em Buda estou no alto, como nas nuvens do meu pensamento, que flui. Lembro de Rilke, em "Cartas a um Jovem Poeta":
"Não há nenhuma medida de tempo para quem faz arte (...) Significa amadurecer como uma árvore que não apressa a sua seiva e
permanece confiante durante as tempestades da primavera, sem o temor de
que o verão possa não vir (...) Ele vem apesar de tudo. Para os que estão ali como se a eternidade se encontrasse diante
deles com toda amplidão, com toda serenidade, sem preocupação alguma.
Aprendo isso diariamente. Aprendo em meio às dores as quais sou grato. A paciência é tudo!"
Tenho esse livro todo grifado perto da cama. A cada temporada de renascimento de um novo eu em mim, releio. E me sei mais e me vejo melhor... Mesmo que continue errando para saber que não sou autosuficiente, mesmo que tenha a eternidade no meu coração.
Um comentário:
SUPER amiga minha de infâmcia deixou comentário aqui, mas não apareceu! Só pelo email! Mas eu ADOREI!
Beijos Letícia
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