27.9.10

Estou esperando a temporada da primavera



Não gosto de não ter assunto. Só que sempre tenho. Nem sempre ele pode ou tem a força necessária para se tornar um texto (digno). Agora, por exemplo, que só tenho 'mimimis' ao meu redor (interior). Gosto muito quando escrevo uma crônica. Não planejo, quase sempre. Mas sabe o que me faz escrever uma boa crônica? (Boa é modo de dizer... Boa para mim, quando as termino com gozo). Quando eu observo um fato do cotidiano e transformo em algo nosso.

Acontece...

Acontece que uma vez, estava na Praia Vermelha - que é um dos cartões postais do Rio pouco explorados, mas que amo de paixão – e fui cobrir a gravação de um clipe do Chico Buarque. Na época, a figura dele ainda me interessava um pouco, mais como um ícone, que como "o cara", se é que me entendem... (essa babação com o Chico me irrita, embora ele seja gênio nas letras de música, não posso negar). A diretora era Monique Gardenberg e a atriz era Cléo Pires, ainda dando os primeiros passos na profissão, e, se não me engano, Paulo José estava por ali também. A música ficou na minha cabeça, principalmente a estrofe que agora destaco:

“A tristeza é uma forma de egoísmo”

E não é? Estou um pouco egoísta. Não estou no tempo de olhar para fora e zelar pelas coisas do mundo. Quando JL me conheceu, ele disse que eu era a zeladora do mundo, que era esteta, poeta e que mergulhava profundo... Outra frase que me marcou. Mas a zeladora precisa de cuidados agora, de zelo com ela mesma. E dessa forma eu tento olhar para dentro, sem ter que me deter demais com o que acontece lá fora. Lá fora está em slowmotion. Aqui dentro também, mas é diferente. Talvez aqui dentro esteja slowdown.

E quem mais vai querer ler tristeza, se esse mundo já nos é tão triste? Mas há beleza na tristeza, quando ela é verdadeira: nem mais e nem menos. Há franqueza na tristeza, quando ela não é desespero e nem é melancolia ou mimo. A gente fica igual ao inverno: usa roupas mais elaboradas, casacos belíssimos, sobretudo, botas, pashiminas, meias... Se cobre, se protege, se aninha naquele macio, esconde as imperfeições e sai ao vento dos acontecimentos. Até a primavera chegar. Estou esperando a temporada da primavera. Não essa que ai já está, mas a estação interna perfeita para colorir o meu jardim.

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