3.10.11

Soltas



Ele veio com aquele andar vacilante. Tirando uma reta, como se sua missão fosse chegar a algum lugar. Com a chupeta na boca e sua avó atrás a gritar "cuidado para não cair Caio". Ao ouvir seu nome, abri um sorriso e saudei: "Oi Caio". Ele estava vindo resoluto na minha direção. Mesmo que resoluto significasse cambaleante para seu um aninho de idade. Me olhou, sorriu e segurou a minha perna. Olhei para ele sorrindo e fiz aquelas brincadeira com a voz idiota de quem acha aquela criatura a coisa mais linda e pura do mundo. Ele esticou o braço e com sua mãozinha agarrou dois dedos meus. E me puxou para passear. Quem disse que me deixou partir? Quando disse "tchau Caio", ele desabou num choro longo e sofrido, sem soltar a mãozinha dos meus dois dedos. Segurava forte, como se aquele tchau fosse um adeus para sempre. E talvez fosse. Talvez a gente nunca mais se encontrasse. Momentos são a eternidade para quem a vida toda significa apenas um ano. Amanhã ele já será outro e talvez nem se lembre de mim. Certamente aquela alegria seria efêmera. Eu me lembraria dele e ele talvez nunca mais vá se lembrar de mim. E da alegria que aquele momento significou na eternidade de seus segundos em forma de uma longa existência. 


- Claro que meu lado maternal saiu daquela cena num pranto logo, sem jeito e um pouco menos sofrido.


***
Deixei de ser Angélica.
Não vou mais à igreja de táxi.
Já estou in love com o volante e só quem me conhece sabe o tamanho dessa vitória.
Ainda sou domingueira.
E estacionar ainda é um pequeno desafio.
Mas e dai?
O maior deles eu já venci: meus medos, meus receios, minhas inseguranças.
E o sabor da vitória é algo indescritível.


***
Amiga minha está há um mês em missão no Haiti. 
Mandou um relato emocionante: 


"Queridos, hoje completo um mês no Haiti. Já estive nos lugares mais diferentes. Desde uma recepção promovida pelo embaixador do Brasil com a presença do presidente do Haiti no Hotel mais chique - por ocasião do 7 de setembro -, até a Cité Solei, Cité Militaire e orfanatos, lugares muito tristes de serem visitados. 


Infelizmente, é muito feia a cidade de Porto-Príncipe! As ruas são sujas, as pessoas são miseráveis. Isso sem falar nos IDPs - campo de pessoas deslocadas, que vivem em tendas desde o terremoto. É muito triste este lugar. Quando chove - e tem chovido todos os dias por 2 horas sem parar -, alaga tudo. Não sei como essas pessoas nas tendas ficam! São muitos, milhares. Nunca vi tantos problemas juntos. A sensação que dá é de que a classe média e até alguns "pobres" no Brasil são de primeiro mundo, privilegiados. 


Todos os dias me lembro de algum lugar do Rio. As ruas do Rio são lindas! As favelas são bonitas. Há ricos aqui, poucos e bem ricos, que vivem em mansões. Não sei como conseguem ostentar! Às vezes dá vontade de chorar, fico lembrando das imagens bonitas na minha caixinha da memória... É, o Rio é um lugar mágico e eu não sabia!


Participamos de um louvor, onde cantei em francês: "Grandioso és tu"; e em creole: "Porque grande és tu, maravilhas fazes tu". Os haitianos louvando é a coisa mais linda! Eles cantam com a alma. Fiquei feliz em saber que Deus está levantando um povo para adorá-lo e servi-lo neste lugar. Acreditem, estou bem e aproveitando muito essa rica experiência. Gostaria que Deus me usasse a fim de contribuir para a transformação dessas vidas".

Um comentário:

Sintia disse...

Muito legal o relato da sua amiga Bia, me faz ve que nem tudo esta tão ruim assim na minha vida.
Experiencias dos outros pode nos levar a nos sentir especiais e agradecer a Deus pelo que temos, mesmo não sendo tudo que desjamos com certeza é o suficiente para vivermos.
Beijos um grande dia para você e mande um abraço a sua amiga que esta no Haiti.