Gosto de revisitar os clássicos. E daí se parece piegas? E daí se os versos já estiverem batidos? Sempre há uma releitura interessante para um novo momento. Reavivar o que achamos bem conhecer. E não conhecemos. Gosto de Camões. Confesso: dava mais atenção aos primeiros versos. Hoje, eu me encontro intrigada com os últimos...
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Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que se ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade
É servir a quem vence o vencedor,
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade;
Se tão contrário a si é o mesmo amor?
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"É querer estar preso por vontade". Dessa frase em diante eu fui arrebatada. Tanta gente procurando por um amor. Tanta gente com medo de se envolver e perder a liberdade. Outros tantos temem deixar de lado o comodismo. E recomeçar... A Ivy Ruivinha fez um texto lindo sobre isso em seu blog [Delírios Insanos]. Ela começa "Assumir o Amor" contando uma história:
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Lembro de um motorista que depois de 25 anos de casado me disse: “Hoje a minha mulher é minha companheira. Se eu chegar com esta árvore em casa, ela vai procurar um vaso para colocar. Não vai brigar, não vai perguntar, vai compartilhar... Isso leva tempo, paciência, raiva, muitos sapos. O amor chega por último.”
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O amor não se explica, mas é preciso ter muita coragem para dar seus passos. Amar dá trabalho, mas é totalmente recompensador. O amor não é egoísta, mas nós temos essa tendência tão arraigada. Ele também não nos deixa acomodados, embora nos deixemos permanecer em relações cômodas por medo de ter que nos reinventar [nem todos, mas muitos de nós]. Fazemos isso sem perceber rotineiramente.
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A Ivy diz que "o amor não é adrenalina, mas a alegria mais básica". Concordo. O mais curioso é você conseguir abrir mão da sua liberdade, para estar preso por vontade própria. Livre para ir e vir quando achar necessário. São correntes invisíveis que parecem te aprisionar, mas que na verdade são a trava de segurança de toda uma existência.
5 comentários:
Nossa... como eu desejo desenvolver esta cumplicidade! É trabalho hercúleo, é admirável... vale a pena!
Hoje, acredito que a Ivy tenha razão. Já vivi paixões arrebatadoras que me elevaram às nuvens com a mesma velocidade e força com que me levaram ao chão. Hoje,tenho "a sorte de um amor tranquilo", inesperado e muito bem-vindo. :) Quem sabe, daqui a 26 anos, não estarei arranjando um vaso bem grande pra colocar a árvore? É o meu desejo. Beijinhos!
Saulo: oh, se vale...
Bia Bug: eu desejo o mesmo! A mim e a você!
Gosto muito do verso: "É o não querer mais que o bem querer.", acho que está aí um dos grandes paradoxos do amor.
Fernando: demorei horas para entender essa frase! rs Linda!
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