23.4.11

caminhantes em busca desse destino

Ando passeando pela blogosfera e constatei que a dor é uma motivação muito maior para as pessoas escreverem que a pura e simples alegria. O número de pessoas que compartilham a sua dor, de forma geral, é muito maior do que as que compartilham o seu amor. Será que a dor nos impele a colocar para fora alguma coisa, nem que seja o escritor adormecido? Será que falar sobre o seu amor, e não sobre o amor de forma ampla, pode suscitar a inveja nos não amados (nos mal amados e nos mal criados)? Será que a alegria não dá ibope? Estou falando dos blogs em forma de diários virtuais, pessoas que escrevem sobre si ou sobre histórias da vida. Porque existem muitos blogs de humor que cumprem a sua função específica. Falo das pessoas comuns, como eu, você, o cara ali do lado, meu vizinho de blog, a amiga da faculdade, o gatinho do cyber, os meus favoritos... Talvez seja apenas eu olhando nos lugares errados. Talvez seja apenas eu me identificando nas pessoas impróprias. Talvez sejam os meus olhos identificando muito mais a tristeza que dá forma à escrita. Mas não... Também vejo beleza na tristeza, também encontro graça na dor, acho inspiração nos caminhos tortuosos que nos unem a todos no cumprimento da vida. Somos todos caminhantes em busca desse destino. 

8 comentários:

Vivian Fernandez disse...

Já percebeu que as melhores letras, de Chico, Gil, Caetano... foram feitas durante a ditadura, onde existia uma dor política?

Saulo disse...

Acredito que o humano tende à busca precípua dos próprios interesses ('ego'centrismo natural): saciar a fome, construir a casa, ganhar o sustenho, proteger os filhos, torcer pelo time... em todos os casos, sempre em primeiro lugar a "minha" fome, a "minha" casa, o meu "sustento", os meus "filhos", o meu "time".

Raros são aqueles que invertem essa ordem (colocando o outro à frente de si mesmos) e, por isso, são ditos especiais, notáveis, santos etc.

A dor, a meu ver, é a interrupção forçada do rumo normal das coisas. É a parada que foge ao controle, que incomoda e desacomoda, que obriga o humano a olhar para o lado e ver seus iguais.

A dor nos faz perceber que não "vivemos" sozinhos, que todos "buscamos" múltiplos interesses e devemos, portanto, coexistir.

Bibi disse...

Foi uma fase de intensa criação literária, né, Vivi? Um período tão pobre e tão rico em contrapartida.

Bibi disse...

Busca precípua?
Uia!

Bibi disse...

"Raros são aqueles que invertem essa ordem (colocando o outro à frente de si mesmos)" - eu tenho cisma com essa frase, porque não acho muito saudável trocar o si pelo outro, entende? Acho bonito quando faz sentido dar de si para o outro, sem jogar fora o que você se tornou ou quem você é. Muitas vezes abdiquei dos meus sentimentos em função da felicidade do outro - nem falo só no amor, não! Na vida em geral também - e o fim da história era sempre eu anulada sofrendo.

A tal da maturidade vai te ensinando - tomara - a ceder um pouco para cada lado. Com erros e acertos, claro. Mas equivalentemente.

Bibi disse...

"A dor nos faz perceber que não "vivemos" sozinhos, que todos "buscamos" múltiplos interesses e devemos, portanto, coexistir" - frase absolutamente incrível!

Saulo disse...

Foi um momento de excrecência filosófica... fruto do mais perfeito estímulo do seu textículo!

Bibi disse...

Não sabia que O tinha...