28.3.15

sobre a delicadeza do ser


Não acho que a vida seja injusta, não. Só acho que a gente tem que aprender a "jogar o jogo da vida", digamos assim. Se alegrar nas horas boas e tentar superar as fases ruins. Se puder tirar algo de construtivo de cada uma dessas etapas, melhor para você. Se puder alargar os "espaços internos" e criar mecanismos que te protejam de si e dos eventos que te ferem, supimpa! Se conseguir evitar a criação de barreiras e carapaças que te afastem daquilo que é simplesmente viver, o caminho se torna mais suave. Mas tem horas que é preciso jogar a toalha e contar com aquele elemento imponderável chamado fé e amor de Deus. Com esses elemento em cena, não há jogo perdido, não há game over. Apelo. Mesmo. De coração aberto, já que esse mês foi totalmente atípico. 

Perdi meu primo Toninho praticamente na mesma semana que tia Maria descansou; minha amiga querida perdeu seu bebê e me deixou um pouco sem chão também. Hoje fui enterrar o meu "avô-torto" e chorar com a família que um dia foi minha. "Se alegrar com os que se alegram e chorar com os que choram", a regra é clara. Mas, ao chegar em casa, vem outra bordoada! D. Terezinha, a vizinha que me viu nascer e crescer, por quem nutro um afeto imenso, também se foi hoje... Cinco enterros/despedidas em um mês. Eu sei que não parece fácil (e não está sendo). Eu sei também que parece mais difícil do que realmente é (o fardo nunca é maior do que aquele que você pode carregar). Deveria não fazer desse espaço público, o meu confessionário pessoal. Mas sabe? A nossa dor também ensina. A nós e a quem nos cerca de atenção. 

Aprendo e divido sobre humildade, sobre a delicadeza do ser de cada um de nós; falo sobre superação e também sobre coisas que absolutamente fogem ao nosso controle: o jogo da vida. Quem acha que comanda alguma coisa, a si mesmo se engana. E a vida não respeita e nem perdoa os tolos. Os inocentes sim; os tolos, não. Quem olha apenas para aquilo que sua mão pode tocar e construir deixa de lado a maior das arquiteturas a ser executada: seu interior. É preciso equidade. E fé.

23.3.15

Minha Dora


Essa linda da foto se chama Dora. É a minha caçula. Resgatei da rua tem um tempo e hoje faz companhia para Nina. Está muito bem adaptada. Engordou bastante, já que chegou pele e osso. Meiga. Observadora. Sempre faminta. Muitas vezes folgada, como bem mostra a foto. Medrosa, deixa as aventuras para a Nina. É muito amor no meu lar.



  

22.3.15

frase







"Antes das coisas virem a existir, concretamente, elas foram criadas dentro de nós. Precisam encontrar o plano certo, o desejo exato, seu lugar para germinar e crescer" 
(Bia Amorim)







fera enjaulada

Li essa notícia no Jornal Extra, do Rio, nesse fim de domingo chuvoso. Tinha ouvido por alto, na TV, mais cedo... Mas só escutei sobre um incêndio causado por um prato elétrico e não sobre as vítimas... Pessoas mudam tudo.






Não sei nem precisar, medir, imaginar que tipo de dor é essa. "Perdi tudo", ele diz. Chorei lendo a matéria. Penso na história de Jó, da Bíblia, e lembro que ele perdeu tudo, mas foi restituído. "Mas os 10 filhos que se foram devem ter deixado marcas que não se apagam" - eu teimo em pensar. "Nem outros 10 filhos apagam os que já foram. Amenizam, mas será que apagam?" - sigo a refletir, sem chegar a uma conclusão. Coisas são restituídas. Pessoas mudam tudo. 

Então, me acho pequena. Carrego comigo as minhas dores, mas as dores não só minhas. Suas dores não são só suas, embora o sofrimento pareça nos tirar a capacidade da percepção do outro. Ou da possibilidade de semelhante agonia. Até que a gente encontre um lugar (para ela).

 Escondo as minhas dores de mim mesma, momentaneamente, para me solidarizar com a dor do outro. Um outro que nem conheço. E com outros, tão mais perto. Redimensiono algumas questões internas, mas o que incomoda sempre volta a nos lembrar do tamanho da nossa fragilidade. A inconstância da vida. Nossa transitoriedade. 

As nossas dores sempre parecem doer um pouco mais, porque as cultivamos internamente como bichos de estimação por muito tempo. Há quem não mais se reconheça sem a presença escura e fria de certas dores. Há dores que formam - ou deformam - o caráter de alguém. Distorcem o íntimo, quando não elaboradas. Acontece que dores são feras selvagens enjauladas: estão sempre prontas para nos devorar...

18.3.15

Entre partir e ficar


"Queria que o abraço mais caloroso e reconfortante pudesse ser mandado por e-mail e chegasse aos destinatários agorinha.
Quando as palavras não fazem o menor sentido, o ABRAÇO sempre diz muito. Sempre."
(Bia Amorim)


Essa frase - que criei e postei há alguns dias -, volta ser a mais plena verdade. "Queria que o abraço mais caloroso e reconfortante pudesse ser mandado por e-mail (wifi, sinal de fumaça, por telepatia) e chegasse aos destinatários agorinha. Quando as palavras não fazem o menor sentido, o ABRAÇO sempre diz muito. Sempre". Mais uma partida. A terceira despedida em menos de duas semanas. Mês de março não está fácil não! Logo o "meu" mês me exigindo tanto. 

Dessa vez não foi na família (uma colega de trabalho teve uma perda muito dura hoje). Ainda assim, me fez chorar mais que as outras despedidas. Talvez porque quem está perdendo hoje não tenha noção do tamanho do meu afeto e admiração. E me pergunto: é possível que todo mundo que faz parte da sua história afetiva saiba o tamanho daquilo que você sente? Impossível! Contudo,  isso hoje me chateou... As vezes você nem é amado (chame a isso também de querido, apreciado, considerado) da mesma maneira em retribuição. As vezes você se toma de ternura, porque é impossível criar uma barreira no coração, na alma, para aquilo que vem e que fica. Sentimentos não se explicam, de fato. Não se medem. Não se repelem. Não podem ser exigidos e se sinceros, não conseguem ser programados. 

Eu sou intensa: gosto muito de muita gente. O que é bom e ruim. Venho aprendendo a lidar com a questão da afetividade. Expectativas. Frustrações. Tudo que as relações humanas de alguma maneira nos trazem. Um beijo "bem apertado" para essa minha amiga. Nesse instante dei o melhor que podia a ela: pedi a Deus o seu consolo. Só Ele.

17.3.15

Ursinhos Carinhosos



Essa é minha vida:

Estava muito revoltada com a qualidade dos serviços oferecidos aqui no Rio (no Brasil, em geral; no Rio, especificamente). Queria escrever um texto sobre tudo que venho passando apenas nesses últimos dias e o despreparo de todo tipo de funcionários em uma cidade turística, sede das próximas Olimpíadas.
Um dos grandes motivos foi uma simples marcação de exame de sangue. Simples? Passei dois dias tentando marcar uma coleta domiciliar. Eu faço sempre, mas eles sempre se atrasam. Meu único pedido foi: "pode não atrasar?". Pronto, me mandaram ligar para outra unidade, que não atendia NUNCA. Só fiquei ouvindo musiquinha. O que irrita mais, a bem da verdade. 
Voltei para a primeira atendente, agora pelo whatsup (sim! Acreditem!). E foi o que funcionou. Comecei a conversa firme, durona, querendo expressar a minha total indignação de consumidora mal atendida. Não durou uma frase...  

No final do processo, a atendente me escreve:
- Obrigada por não desistir. Se eu puder fazer qualquer outra coisa pela "senhora", pode me procurar! A senhora é muito educada e carinhosa.
Kkkkkkkkkkkkk

"A senhora é muito educada e carinhosa"


Fui chamada de carinhosa por uma total desconhecida! E com quem eu teclava, sem tom de voz, portanto. Educada eu parto do princípio de que todos nós devemos ser, mas carinhosa... Me surpreendeu. Tudo porque eu só queria dar um pito e liberar a tensão! FAIL!

Passa a régua! 

12.3.15

Fechar um ciclo



Mais de uma semana do dia que meu primo morreu - em um Cruzeiro no Uruguai - até o corpo chegar para ser sepultado. Isso, porque tinha seguro! Sofrem família e amigos. O rito de passagem é fundamental. Todo meu sentimento aqueles que não conseguem enterrar os seus. Não pelo corpo ou pela 'alma do morto', que não está mais ali. Mas pela necessária despedida e fechamento de um ciclo para os que ficam. Ele tinha 62 anos. Era um menino. Minha mãe vai fazer 79 e ainda vejo uma menina dentro do seu olhar. A despedida não é fácil para nenhum dos termos a que ela se apresenta.

A despedida não é fácil para nenhum dos termos a que ela se apresenta.

O desafio não está do lado de fora

Foto dos Pirineus por Christina Oiticica

Não é o que a gente tem. Muito menos aquilo que nos falta. A questão da felicidade se encontra em como fazemos uso "internamente" de cada uma dessas porções. As vezes tem a ver com o caráter, noutras tantas trata-se de função química. A experiência - individual, estritamente pessoal - do "copo meio cheio ou meio vazio" transcende a filosofia barata de botequim. 

A vida sempre parece mais fácil para quem olha de fora. Inclusive para nós mesmos. O ser humano é capaz de esconder de si muitas questões. E segue seu curso em agonia mascarada. Até quando não se sabe. As vezes por uma existência inteira. O maior desafio não está do lado de fora, mas começa pelo lado de dentro.

O ser humano é capaz de esconder de si muitas questões. E segue seu curso em agonia mascarada.

9.3.15

As pessoas não gostam de falar de morte


No geral as pessoas não gostam de falar de morte. Não estou citando a maneira mórbida de encarar a questão, mas sob o ponto de vista de que é algo natural, que a gente nunca está preparado para enfrentar - nem digo a nossa própria, mas daqueles que amamos -, mas que faz parte da história de todos nós. Perdi meu primo ontem (5/03). No susto. Aos 62 anos, durante um cruzeiro em águas do Uruguai. Ele realizava um sonho. O último. Estava feliz.

Lembrei do meu pai. Não só da sua morte, mas da maneira como ele teve que lidar com a partida do pai desse meu primo, seu irmão mais velho (meu tio, portanto). Papai era de contar as mesmas histórias. Falava muito, sobre o mesmo. No mais, era de poucas e boas palavras. Pontual. Quando Tio Enir morreu, ele pegou um bandolim no fundo do armário, velho, que quase nunca saia de lá, envolto em plástico e tocou. Um som vivo. Forte. Um lamento. Sua despedida. Lírica. Lúdica. Sincera. Uma homenagem sem plateia. Era ele e seu bandolim a sor no meio de uma noite triste. Arrumou um jeito de fazer a dor caber para cessar. 

Achei que com a partida do meu pai, minhas histórias sobre ele fossem parar. Mas até depois de partir, meu pai me ensina. Está vivo dentro de mim, através de cada lição que consegui captar. E outras que vão despertando - feito essa. Então pensei em como seria a minha despedida de longe do Toninho. Como fazer a dor caber para cessar? Como prestar a minha homenagem em uma despedida que tivesse significância para mim? Somos individualistas na hora de elaborar a perda, embora tudo o que a gente mais deseja é abraçar os mais chegados: viúva, filhas, irmãos e mãe. Como se esse calor de um abraço ajudasse a preencher um espaço aparentemente vazio. Depois é que a gente percebe que esse espaço sempre esteve e estará preenchido. É só o susto da ruptura. Quem por nós é amado não morre, transcende. 

Faço, então, da minha reflexão a música que papai começou. E jogo no ar. Faço da minha arte de usar as palavras, o meu memorial. Talvez para sempre use desse artifício, um predicado para registro próprio do inevitável, a fim de ressignificar esse novo espaço aparentemente vazio. Para trazer para dentro a minha família amada, que se mostrou presente e tão unida na dor, assim como faz na alegria. E como faz! Que bom que não me sinto sozinha. Que bom que a morte não é um fim em si mesma. Nem vazio. Apenas uma oportunidade. Cada qual decide de que.

Não é o meu dia, mas quem fez parte dele


Ficar mais velha não é legal, mas fico tranquila porque ainda não pesa (risos). Agora fazer aniversário, por outro lado, tem sido muito, muito bom. Sim, já foi esquisito, mas consegui transformar o significado do dia e tudo ficou melhor: por dentro e por fora. No sábado, 7, estive com a família que a vida foi agregando, que Deus foi me deixando escolher. Claro, faltou gente. Mas quem almoçou comigo faz diferença na minha história. Agrega. Constrói. Carrega. Ama. Compreende. Apoia. Pessoas que nunca tacariam as pedras, mas me ajudariam a juntá-las para fazer o meu jardim. 

No dia seguinte, sigo sendo amada pela família que Deus me deu através dos laços de sangue. É muito amor envolvido e que nos renova. Mas sabe o que é fagulha, combustível de coisas boas, bolhas de amor, chuvas de bênçãos? Os recadinhos deixados na minha timeline (Facebook). O tempo é dos sem-tempo. A correria é a pauta do dia das grandes cidades e ninguém está livre do estresse que esse movimento causa. Então, quero crer que é um ato de extremo carinho alguém dispor de seu tempo, sua mente, para escrever algo de bom para o outro. A energia que isso traz para o dia é algo semelhante ao renascer de uma esperança. 

Eu amei cada frase, cada gesto, cada registro ofertado a mim. Gente de tão, tão distante... E aqueles mais perto que nunca consigo ver. E os de dentro, claro. Acho mágico quando alguém se volta a você num desejo de coisas boas. É isso que torna o dia especial: não é o meu dia, mas quem fez parte dele. Li cada recadinho mais de uma vez. Aqueci meu coração. Agradeço a Deus pelo estímulo. E quero crer que eu comece a entender que o hoje é preciso ser vivido hoje. E que o amanhã pode ser uma linda e desafiadora incógnita esperando pelos meus próprios estímulos. 

Agradeço a Deus pelos meus novos amores: Nina e Dora. Nina começou o dia internada, mas no fim da tarde já estava no meu colo, me lotando de carinho (ou eu a ela, pobrezinha). Isso também foi um presente. Não era rim, era cistite. Deus cuida também dos pequenos detalhes. Que possamos aprender que o nosso melhor sempre é suficiente, se o fazemos do fundo do coração, com bondade e sinceridade. O mais, não é trabalho nosso. Deixa nas mãos de quem pode. Obrigada meus lindos!

9 anos do Bibi de Bicicleta



"Anoiteço e amanheço eu"

Sempre por aqui e por ai. Existindo e resistindo. Buscando a medida do possível em muitos dias que me parecem impossíveis. Partindo e ficando. Buscando e deixando ir. É o fluxo e refluxo da vida nas letras também. Na inspiração, principalmente. Penso em terminar tudo, então, me lembro da caminhada. Tão boa e pródiga nesse blog. Fico entre o norte e o sul, me enchendo e me esvaziando de mim, das coisas, dos pensamentos frenéticos, de pessoas tóxicas, mas também dos que têm palavras boas, brilhos nos olhos, força no abraço, no braço, fogos no olhar. 

O Bibi de Bicicleta foi criado no final de fevereiro de 2006. Resiste. Insisto. Lá se vão 9 anos de muitos ganhos. Muitos. Não lembro de nada que o blog me tenha feito perder. Celebrei no sábado (junto com a minha existência) esses 9 anos, que passaram voando e também de forma tão lenta. Não sabia no que ia dar. Ainda não sei. Permaneço. Torço por mim mesma, como se fosse eu a olhar um pedaço da minha alma para fora do corpo.