5.12.14


29.11.14

Pensamentos de Nélida Piñon

"Tenho um sustentáculo muito grande: aprendi que só posso ser moderna, se eu for arcaica. Eu carrego comigo uma sólida tradição. A tradição é o mais moderno que existe, porque ela é a ponte por onde você passa todos os dias. Se você não entender o valor construtivo e fundacional da tradição, você não chega onde precisa estar; não entende o que é possivelmente moderno e o que é possivelmente contemporâneo. Tenho a sorte de ver o contemporâneo com visão crítica, procurando entender o que é melhor para todos nós e aquilo que é falso, fake, uma fraude. A contemporaneidade pode ser uma fraude, quando ela desconsidera valores fundacionais. Como se ela pudesse pautar a vida com a tecnologia. A tecnologia é uma maravilha, mas não esclareceu o mistério da alma. Ainda somos seres que nadamos na tormenta dos mares sem saber quem vai nos salvar. Nesse sentido, acho fascinante: estamos impregnados pelo enigma e pelo mistério. Nós não sabemos quem somos totalmente. Estou sempre querendo aprender, mas aprendo sabendo que não estou me descartando de nada do que sei. A contemporaneidade não pode entrar na minha vida em troca de algo, exigindo algo de mim. Não posso perder nada para ser contemporânea" - Nélida Piñon em entrevista que fiz para a Revista Caras em novembro de 2014.

28.11.14

escolhas demandam coragem



Gosto de frases. Faço as minhas, leio a dos outros. Algumas marcam, já outras me fazem refletir e questionar. A do Paulo Coelho postada por uma amiga no Facebook se enquadrou no segundo caso. Recentemente percebi que estou em uma fase questionadora e tomando o caminho do meio com certa regularidade. Não sendo mais ou menos, que mais ou menos não presta. Porém, não me deixando levar por extremos com tanta facilidade.
No caso dessa frase, por exemplo, claro que existem as questões físicas, que nos impedem de certas atitudes e atividades. Para nós, mulheres, então... O passar do tempo sempre pressionou um pouco mais, uma vez que a gente tem um relógio biológico que nos avisa que nossos óvulos vão chegar ao fim. E mais, a idade e os cabelos brancos tornam os homens mais charmosos (eu acho!) e as mulheres, não. Fato. Mulheres pintam o cabelo e as que os assumem, precisam prestar atenção em outros aspectos se não quiserem pertencer a ala da vovozinha.  

Porém, acredito, que enquanto há vontade, há tempo.Porque se há vontade, há vida e se há vida e vontade, certamente existem os meios necessários. Ou improvisa-se! Pode faltar coragem, talvez. Falo isso, porque tenho exemplo em casa. Depois que meu pai morreu, minha mãe começou a ter coragem para fazer coisas antes não tentadas. Da simplicidade, como dançar em festa de família, aos casos mais complexos para uma senhora de 78 anos, como andar de moto ou experimentar pela primeira vez na vida uma montanha russa (70 metros de queda a 124 km por hora). 

E posso te dizer? Isso foi só o começo! Minha terapeuta sempre me disse que "toda escolha é uma renúncia". Guardei essa frase para mim e acrescentei: "portanto, escolhas demandam coragem". Não é?

Se toda escolha é também uma renúncia; escolhas, portanto, demandam muita coragem!  (Bia Amorim)

Nélida Píñon em revista


Nélida e Susy Piñon em foto de Cadu Pilotto para Caras
http://caras.uol.com.br/decoracao/escritora-nelida-pinon-abre-sua-casa-e-fala-sobre-nao-formar-uma-familia#.VHXjivldWM4

Não conseguiria mesurar através de palavras - estas que amo e expresso com facilidade - a honra que tive ao ser recebida por Nélida Piñon em sua casa para conduzir essa matéria. O espaço disponibilizado não fez jus ao nosso encontro. Fato com o qual o jornalista tem mesmo que lidar: expectativa e realidade. Que mulher! Que história! Que educação e ternura no trato! E de uma articulação e inteligência que não engole o outro, mas o traz para perto. Não foi trabalho, foi lição particular de vida. Momentos  Com fotos de Cadu Pilotto e maquiagem de Duh Nunes na Caras desta semana.

Ninguém rouba



Os escritos, muitas vezes, acabam sendo formados a partir de peças de um quebra-cabeça que a vida, o dia, o momento oferece. É preciso estar atento e ter sensibilidade para captar o que parece bobagem e unir com alma as bobagens juntas para fazer florescer algo de bom. Hoje topei com essa frase do Gabriel García Márquez. Logo hoje, dia do aniversário do meu lindão, meu garoto, meu pai. Logo hoje, dia de Ação de Graças. Todos esses fragmentos juntos me fizeram muito bem. Sou grata a Deus por ter me dado mais de 30 anos ao lado de um pai incrível, sensível, carinhoso, inteligente. E o muito do que a gente viveu ninguém rouba. Enquanto eu viver, ele vai viver através das minha lembranças. E foram muitas, porque tive um pai aventureiro e companheiro. Figura! "Ficou" diabético para que meu fardo fosse menor. E assim como ele cuidou de mim, tenho orgulho de dizer que cuidei dele na mesma medida. Agora, tenho o prazer e a honra de agradecer a Deus por me fazer viver momentos com minha mãe que entrarão para a galeria dos inesquecíveis.

As pessoas não mudam?



Ainda custo a crer que isso seja 100% verdade. Teria que negar a fé redentora e transformadora na qual creio. Porém, acredito, que a mudança não é feita de fora para dentro, como a gente deseja, mas de dentro para fora, fruto de muito esforço, reflexão, atitude e impacto. Mudar, atitudes, hábitos, manias, seja o que for, requer de nós um esforço do tipo maior. Talvez seja um dos grandes desafios da existência. Tipo, uma coisa que parece simples: para mudar a nossa alimentação e adquirir hábitos saudáveis não demanda de nós um esforço constante? E para que o corpo compreenda que seu novo peso é o peso ideal também não requer um bom tempo abaixo do que era? Para falar do simples, porque sentimentos, caráter, hereditariedade são fatos muito, muito mais complexos. Mas, sim, passíveis de transformação vigilante. Os consultórios e terapeutas estão ai que não me deixam mentir. Poucos, no entanto, conseguem alterar suas neuroses e compulsões. Fato.

15.10.14

Dois meses da Nina hoje e um mês lá em casa


Dois meses da Nina hoje


O que já havia escrito sobre ela (a chegada) - Como já falei, tirando dois pintinhos (Pedro & Bino) que morreram antes de ganharem penas/asas, nunca tive bicho de estimação. A preocupação sempre foi a mesma: eles prendem a pessoa em casa e minha alma é de viajante. Prendem sim, porque já estou louca para voltar para casa e ficar com a Nina. Mas soltam também: sorrisos, ternura, carinho, cuidado, sentimento materno. Tudo que, de certa forma, eu guardava em mim, esperando a hora certa de ofertar. Nina, minha gatinha preta, chegou lá em casa muito desconfiada. Ficou cansada da viagem que fizemos entre a casa de sua mãe peluda, para o apartamento de sua mãe humana. Dormiu, sem sair da caixinha de sapato que chegou - com um paninho bem quentinho. Na madrugada, miou baixinho (desconfiada, tímida, não devia entender onde estava). Levantei e fui tirar ela de lá. Ela sabia sair, mas estava com medo. Achei que podia ser fome. Coloquei em frente ao pote de ração. Antes, ela percorreu todo o quarto e mesmo com um pouco de medo de mim, se sentiu confortável para comer. Brincamos. Meu gás acabou. Coloquei um travesseiro meu no chão e acordei com a minha mãe invadindo meu quarto para brincar com a "netinha". Ela estava aninhadinha no meu travesseiro. Levamos tudo para a cozinha, ela voltou a comer e beber água e de primeira, já usou sua caixa de areia para fazer um "cocozão". Achava estranho as mães de bebês (humanos) falarem e se preocuparem tanto com as fezes de seus filhotes. Já compreendo. Celebrei a "bostança" feita no lugar correto tal qual um gol! E antes de sair de casa para trabalhar, ela já me seguia pela casa. Não é preciso dizer que deixei meu coração lá, né? Liguei para saber no meio da tarde. Minha mãe disse que também saiu, mas a deixou dormindo, aninhada no meu travesseiro. Minha filha peluda me faz feliz.
 


Duas semanas depois... - Há duas semanas a minha vida mudou um pouco. E foi para melhor. Desde que a Nina chegou, durmo menos, mas com mais qualidade. Vi minha gatinha crescer, embora ela ainda não tenha nem dois meses. Gosto de observar suas manias e evolução. Adora a vassoura e brinca de morder a "mamãe", quando sente cócegas na barriguinha. Estou toda arranhada e estranhamente feliz com essas marcas, porque são marcas que me fizeram dar muitas gargalhadas. Só sai da cama, quando eu levanto. E enquanto eu tomo banho, leva a minha camiseta para o quarto. Para o canto dela, claro. Só dorme encostada em mim. Gosta muito de leitinho, mas parei de dar, porque li que faz mal. Dia desses, cheguei em casa e ela estava na mesa do computador. Subiu sozinha, escalando os fios por trás da CPU. Ai ai ai. Já está dando grandes saltos para o seu tamanho. E sabe quando estou chamando por ela. "Cadê Nininha de mamãe?" Ronrona muito com meus carinhos e gosta de me lamber e mordiscar o meu nariz. Dia desses falei, "Nina, cadê a sua fita para a gente brincar?". Ela correu para cima da fita, que estava escondida. É magrela e me parece que não gosta muito da ração, mas come. Escolheu uma cadeira como dela. Minha mãe sentou e ela foi lá reclamar. Juro. Sentou em cima do livro que minha mãe olhava. Rimos. Água? Nunca a do potinho e sempre a que sobra no box. Como agir? Tive que segurar com mais força para passar o remedinho de pulga e quase morri do coração. Imagina quando chegar o tempo das vacinas? E a castração? Aff! Eu sou carinhosa e mimo mesmo quem me "É" amor. Talvez tenha vindo a esse mundo para espalhar um pouco de amor, que às vezes, em mim transborda. Não é fácil. O desafio é não ser hipersensível ao meu próprio sentir.


Três semanas em casa! - Era cinza do olho azul, ficou pretinha com mechas brancas e o olho esta esverdeando. Difícil de registrar, porque o flash a faz fechar os olhinhos. Passa boa parte do dia assim: dormindo. Ou me arranhando. Ou me lambendo. Ou ronronando com tanto carinho. Nina é meu tema sim! Minha alegria. Das raras nesses últimos dias. Fico especialmente feliz em ver que minha mãe também esta totalmente apaixonada por ela. Chama pela gata o dia todo e brincam juntas, quando dá. Vejo minha velhinha de 78 anos sentada no chão, às gargalhadas! Quando chegou, dormia no meu peito e sobrava espaço. Prestes a completar dois meses, ela ainda adora dormir assim, mas já preenche todo o espaço. Pior quando ela não couber mais e ainda assim tentar. Claro que vamos dar um jeito, porque esse chamego, precedido de um ronronar tão gostosinho, nao tem preço.
 

14.10.14

'a cabeça não aguenta se eu parar'

Muito. Muito tempo sem aparecer por aqui. Eu sei. Faço vocês perderem o ritmo e o BibideBicicleta, musculatura "digital". Mas estou sempre revisitando os versos de Raul Seixas: "Não diga que a canção está perdida /Tenha fé em Deus, tenha fé na vida /Tente outra vez/Beba, pois a água viva ainda está na fonte / Você tem dois pés para cruzar a ponte/Nada acabou, não não, não, não /Tente /Levante sua mão sedenta e recomece a andar/ Não pense que a cabeça aguenta se você parar, não não não não"...

Voltei, porque achei um tempinho entre os dois turnos da eleição. Estou mergulhada na campanha do Rio. Voltei, porque os amigos não devem mais aguentar meus relatos sobre a minha gatinha (aqui, lê quem quer, não é verdade?). Voltei, porque sempre volto. Porque 'a cabeça não aguenta se eu parar'. Voltei, porque tenho amor às letras, ao BibideBicicleta, a quem me lê - eventualmente ou não - e principalmente, porque existem aqueles que gostam de interagir, deixando um recadinho. Esses me fazem feliz. Amo.

Então, voltei e achei um recadinho tãooooooo fofo de uma leitora anônima, falando sobre a chegada da minha gatinha! ADOREI. E percebi que eu nada contei da chegada dela, é fêmea, por aqui. Porta aberta para o meu assunto preferido do momento: Nina.

Pois é, o nome ficou Nina e ela não é cinza, é pretinha com umas pequenas mechas brancas. O olho azul está esverdeando e eu não conheço criaturinha mais linda que a minha filha. Amanhã ela faz dois meses! Quase um mês lá em casa e posso dizer que não há amor maior! Amanhã, no dia do mês-aniversário, conto mais sobre ela.    

4.9.14

Graças a Deus me chamo Beatriz!


Eu curtia visitar a minha avó em Minas, porque no quintal da casa dela tinha muitos bichos. Gato, cachorro e papagaio sempre. Muitos gatos, que não eram bem dela, mas viviam ali e eram por ela cuidados. Sei lá, mais de 10 numa época. E a minha diversão era correr atrás dele ao redor da casa. Ariscos, não se deixavam acariciar. Cachorro lembro bem de poucos. Sebastião, um mestiço de Beagle, era meu preferido. Acho que de todos os netos e da vovó também.

Meus pais NUNCA quiseram ter bichos. Mesmo quando a gente tinha quintal. Um dia me deram dois pintinhos de feira - Pedro e Bino - que morreram antes de virarem galinhos. Como quase sempre acontece com esses bichinhos de feira de filhote. Acho que até por isso permitiram a morada de Pedro e Bino lá em casa. Bino morreu de doença. Pedro, afogado. Chorei pelos dois. Comigo não poderia ser diferente.


Depois veio uma ratinha de laboratório branca chamada Poliana, que era de responsabilidade do meu irmão. Minha mãe não tinha nem coragem de olhar para a bicha. Eu, andava com ela nos ombros. Ela morreu de tumor e eu "morri" de chorar. Enterramos aos pés de uma amendoeira na rua em que morávamos. Preferi não ver, mas fui aprendendo sobre perdas e ganhos. Depois mais nada, nem passarinho. Nem montar o insetário para a aula de biologia pude fazer em casa. Nada. Nem se cogitava a possibilidade de um pet.
 
Há pouco tempo, mamãe vem falando de gatinhos. Minha prima tem, meu primo tem, nossa vizinha tem, nossa faxineira tem. Eu, só franzia o cenho ao ouvi-la falar sobre isso. Ainda não imagino um gato pisando no tapete que ela não me deixa pisar... Até que minha amiga do trabalho pegou uma gatinha de rua sem saber que ela estava "grávida". Como ela já tem vários gatos e cachorros, não poderia manter os gatinhos com ela. A ninhada veio com um de cada cor e eu me apaixonei pelo cinza da foto! Só mostrei a foto para a mamãe e ela me disse:
 
- "Quando vai trazer a Titica aqui pra casa?". 
- "Pô, mãe, Titica é cocô, vai chamar o gato assim?" 
- "Titiquinha é um nome bonitinho! Então, Thomas"

- "Ai vão dizer: Thomas no **"
- "Ih, nem pensei nisso!"
- "Vamos colocar Miguel?"
- "Prefiro Xexéu!"  

Não, definitivamente Titica não vai rolar. Xexéu também está complicado. Não sei se é macho ou fêmea ainda. Se for fêmea, pode ser Valentina ou apenas Tina. Sei que depois de desmamar, vou ter que aprender a cuidar de um gatinho. 


Sugestões para o nome gente? Porque sinceramente: a criatividade de mommy me assusta! Graças a Deus me chamo Beatriz! HAHAHHAHAHAHAHAHA

2.9.14

29.8.14

O ponto de não-retorno

Um relato muito pessoal e em construção:
 
Antes
 
Não aconteceu de um dia para outro. Porém, as etapas foram bem definidas. Fui morar fora pesando 50 kg e voltei com 10 kg a mais na bagagem corpórea. Desinchei, mas não emagreci. Um ano fora e ninguém falava de saudade, apenas dos quilos extras. Coloquei um piercing, novidade na época, e tentava desviar o foco para o novo artefato, mas nada resolvia. Estar gorda era sinal de que me deixei destruir durante a viagem. Demorou um tempo até que as pessoas se acostumassem ao meu corpo. Eu já tinha comprado roupas novas, guardei no fundo do armário as que não serviam. Era como se o corpo não fosse meu, mas objeto de apreciação alheia.

Aliás, desde que nasci apenas uma vez perdi peso. Foi na época do vestibular, quando estudava de domingo a domingo: eu tinha que entrar para a faculdade pública! Foco e meta. Faca na caveira. Todos os meus horários ficaram regrados, de comer, de dormir, de estudar, de respirar. Pouco dinheiro para ir ao restaurante todo dia. Escolha consciente no prato para ficar "nutrida". Fui de 42 para 36. Voltei da América, anos e anos depois, a bordo do 42/44, mas com retenção de líquido até na lágrima! Uma coisa. Fiz esse arco de 36 para 42/44 - sem quadril e nem glúteos fartos! rs  

A segunda etapa se estabeleceu quando entrei em depressão. Não perdi peso, nunca perdi depois daquela única vez, e o 44 se estabeleceu de vez na minha vida. Há dois anos, ou menos, num curto período de tempo, 6 meses, engordei 18kg. Numa talagada só. O alarme já havia soado há muito tempo. Já estava na academia, malhando com regularidade e seriedade. Três meses depois de malhar todos os dias da semana, perdi 200gr. Só. Basicamente uma ida ao banheiro. Não podia ser normal. Sou diabética, já não usava açúcar. Também tive um problema de saúde que me obrigou a ficar de 10 dias só me alimentando de líquido. Fiquei 30 e, adivinha? Engordei. O ponteiro da balança subia e minha autoestima baixava em progressões nunca antes vistas por mim.

Se eu comia muito? Não! Se eu beliscava? Não! Mas estava comendo errado. O meu corpo já não me pertencia. Todo mundo notava. Eu notava. Fugi das fotos. Fugi dos eventos. Fugi das pessoas. Fugi do trabalho. Fugi de mim. Novo alarme. Não tinha mais controle sobre meu corpo, que obviamente não estava mais funcionando direito. E você não fez nada para mudar isso? Nem a minha endocrinologista compreendia a engorda, porque meus exames de sangue estavam normais para a questão. Fazia ginástica. Comia de três em três horas. Nenhuma roupa mais cabia ou ficava legal. Nessa época, tive que comprar uma bermuda e só servia a 48. Coloquei de volta no cabide e comecei a buscar outro tipo de ajuda. Não porque tinha vergonha de ser gorda, mas porque meu corpo não estava comportando os quilos a mais. A Coluna já rangia nessa época. Dor. E porque não tinha estrutura para estar tantos quilos acima: uns 25 a 30. Fugi da balança também. 

Fazendo uma matéria, cheguei ao Dr. Tércio Rocha. Ele sacou na hora que eu tinha um problema de tireoide. Levei meus últimos exames de sangue: Bingo! Não estava no sangue, mas estava quase. Os outros sintomas eram claros: cabelo caindo, engorda sem motivo, 20 horas de sono e ainda tinha sono, irritabilidade, rosto e pescoço deformados... Descobri que existem falsos amigos da dieta, tipo o tal biscoito água e sal, barrinha de cereal e afins. Eu estava com intolerância ao glúten. Cortei farinha branca e lactose. Bebi o dobro de água. No primeiro mês, perdi 5kg! E depois fui de quilo em quilo eliminando o que não me pertencia. Não queria virar maromba ou uma daquelas meninas que dá dicas no Instagram (nada contra elas, adoro, mas não era a meta!), mas depois de perder 15kg até agora, eu entendi o motivo delas gostarem tanto de tirar foto!

Meu corpo voltou a funcionar! O ponteiro da autoestima está subindo como foguete. Continuo com restrições, mas não passo fome. Parei de malhar, mas se voltar, vou potencializar meus ganhos, eu sei! Meu corpo está funcionando e isso me emociona, porque durante muito tempo cada quilo a mais no meu corpo me foi jogado e julgado como culpa de um relapso meu, como preguiça, falta de vontade, relaxo. Culpa, culpa, culpa. Pior, há quem pense que o gordo não é legal. Para! Quem acusa não percebe que por trás de um corpo – seja ela qual e como for – existe uma pessoa. Que sabe. Que tem sentimentos. E que talvez não encontre o ponto de não-retorno, a mola mestra para mudar. Porque além do peso dos seus quilos, há quem carregue o peso da culpa e o peso do julgamento de terceiros.

Hoje

Não cheguei lá! Falta e muito, a meu ver! Sempre vai faltar, não porque eu quero ser esquelética, mas porque quero ser o resultado dos frutos do meu esforço. Rumo aos 5kg finais! Se eu consegui, você consegue. Acredita!

27.8.14

Tudo era calma. Alma.

Herdei dos meus pais essa mania de “puxar papo”. Os dois tinham esse hábito, meus irmãos também têm. Cada um do seu jeito. O mais velho é piadista; o do meio, atencioso. Eu? Gosto de um papinho mesmo. Curiosidade sobre a história que a pessoa tem a dizer, o que me rende bastante material vivo para a escrita, dentre outras coisas.

No novo trabalho já conversei com muita gente de outros setores. Os do setor de Serviço, principalmente. Adoro! Outro dia, entrei no banheiro e tinha uma reunião delas. Reunião mesmo. Um círculo de mulheres uniformizadas contando seus casos, suas dores. Um grupo de apoio se formou e se desfez assim que entrei. Fiquei envergonhada de ter aparentemente "interrompido" aquele momento. Bem poderia ser uma oração. Quem sabe? Tudo bem que não era a hora (expediente) e nem lugar (banheiro). Mas tenho pra mim que as trocas verdadeiras podem ocorrer sem horário ou local determinado.

Depois que resolvi a questão que me levava até ali, vi que ficou apenas a responsável pelo setor. Perguntei se estava tudo bem e ela me contou:
“Tenho um filhinho de quase dois anos que passou mal de bronquite de madrugada. Há dois dias que não durmo, porque ele tem falta de ar. Agasalhei meu filho e levei para o hospital. A médica disse que era exagero meu, que não era bronquite e era uma irresponsabilidade eu sair naquele frio com a criança. O menino tem falta de ar direto, já estava ficando roxinho, não comia... Fui com ele para o hospital e disse à médica que não seria maluca de sair com a criança passando mal, sem estar agasalhada. Ela só receitou descongestionante e fui para casa”.
Vocês podem imaginar meu coração derretendo nessa hora, não é?

Fiquei tão comovida – e passei isso para ela – que ela me perguntou se eu tinha um bebezinho também. Sem graça, talvez por ter demonstrado amor demais em um tempo de desamor... Disse apenas que gostava muito de crianças, mas que não era mãe. Ela me contou outra história:
“Não fica triste. Lá na minha igreja, todas as minhas amigas foram mãe cedo. Eu com 25 anos, não era mãe, mas desejava muito. Só aconteceu agora e eu tenho 35 anos. O nosso tempo, não é o tempo de Deus. Um dia você será mãe, acredita!”.
Se eu vou ser mãe de verdade, só Deus mesmo para saber... Mas o que mais gostei de ouvir dela foi: “O nosso tempo não é o tempo de Deus”. Vivemos dias tão corridos, que anda difícil até arrumar uma horinha para comer sossegadamente, ligar para um amigo pra nada, pensar em livre devaneio! Nesse turbilhão de acontecimentos, a gente quer correr para realizar os nossos sonhos e cada um dos sonhos tem seu tempo certo, exato, específico para acontecer na vida. Na correria do cotidiano, atropelamos nossa história, nossos sentimentos, o curso certo do rio em que flui a nossa existência.
Dois dias depois, novo encontro. Ela ainda não havia dormido, mas o bebê estava bem. Trocamos sorrisos. Ela estava até cantando. E eu sabia a canção! Já havia cantado na igreja. Num arranjo desarranjado – sem trocadilhos com o local, afinal, era o banheiro – nós duas começamos a cantar juntas. Surreal, mas divino: Mesmo sem merecer, pecador, o mais miserável dos homens que sou; me envolves com seu amor e por isso, eu sou mais feliz”. Saí dali como se tivesse falado com Deus. Tudo era calma. Alma. Talvez tenha mesmo falado com Deus e também com um de seus anjos.

frases




Desassossego:
é quando seu coração
também bate num peito alheio...

(Bia Amorim)



"Ainda existe amor no fim do túnel,
mesmo que a fé e a esperança
estejam no retrovisor"

(Bia Amorim)

21.8.14

frase

"Vivemos dias tão acelerados, que também aceleramos todo nosso universo interno, desrespeitando nossos ritmos, nosso balanço, sobrecarregando nosso sistema emocional.
Com regularidade, nos atropelamos com nossas próprias questões e sufocamos emoções.
E mais um corpo (oportunidade, intenção, sonho) fica estendido no chão".
(Bia Amorim) 

20.8.14

Estímulo. A vida é feita dele.


Estímulo. A vida é feita dele. Há os internos e os externos. Há os coletivos e os individuais. São vários os tipos e podem surgir de onde menos se espera. Se é que se espera realmente. Algumas vezes sim. Atualmente estou em um trabalho que me consome bastante. Gosto, mas é extenuante. Há plantões nos fins de semana, ou seja, quando estou livre, quero tudo menos o computador. Respirar. Viver. Tirar do corpo o amarelo-escritório, a forma da cadeira do esqueleto, deixar a concha e ver o que o mundo reserva "lá fora". Ainda que cansada e sem tempo, tive vontade de voltar a escrever com mais assiduidade para o BibideBicicleta. Por que? O estímulo certo, oras! 

O blog existe há 8 anos. Bem nos primórdios, eu andava sozinha. Mas logo, logo apareceu gente para pedalar comigo. Foi motivo de muita alegria. Um desses ciclistas voltou! Depois de um longo inverno entre minhas letras e suas leituras. Mas sua volta, que alegria, trouxe o estímulo que eu precisava para acordar e continuar. J25, você me faz acreditar - outra vez - que as minhas palavras aqui geram sentido ou ocupam espaço na vida de alguém(s). 

Estímulo. Mesmo independentes, autoconfiantes, nós precisamos deles vez ou outra. Não falo do elogio, mas do estímulo certo para dar fôlego na caminhada. Talvez ele, o estímulo certo, esteja bem mais próximo de acontecer, que antes, para eu finalmente reunir os meus escritos e lançar um livro de crônicas.  O estímulo certo opera alguns pequenos milagres cotidianos. Um sorriso ou até um tapinha nas costas. Um e-mail do chefe dizendo que você está fazendo um bom serviço. O marido que elogia a comida/roupa/corpo/inteligência da mulher amada. Um desconhecido que te faz sorrir, porque leu algo que você escreveu e aquilo encontrou um sentido suficiente, um significado especial na sua vida. Um "Vamos lá, não desista!" naquelas horas em que o mundo parece querer te engolir. Naquele pequeno estímulo, você reconhece a grande força do universo. Propulsão. Voltei! Estimulada pelo meu leitor. Espero que não único! (risos).

16.8.14

Frase

"Hoje eu fiquei pensando que as relações de intensa convivência são como andar de slackline: tênue, arriscada, precisa de balanço e equilíbrio, paciência, foco, mas não deixa de ser uma divertida aventura...E o mais legal é que se você cair, pode começar tudo outra vez! Um divertido desafio" (Bia Amorim)

7.8.14

Lembrar. Viver. Sonhar.


Já preenchi muitas páginas com histórias. As minhas e as dos outros. Profissionalmente ou por lazer. Sempre com prazer. Vivi para ver e guardar instantes preciosos ou ouvi, para que todos conhecessem um pedaço daquela vida contada, narrada através da minha letra, da minha curiosidade, do meu olhar e do que o entrevistado tinha mesmo para dizer daquele instante na sua trajetória. Ouvi muitas histórias as quais não posso contar. Algumas aparentemente revivi junto enquanto a pessoa me contava (choro, rio, penso, me comovo, me entrego, compreendo, consolo. Tudo parte de mim)
Outras, escutando "ao pé do ouvido", imaginei à minha maneira, escrevendo com letras do pensamento nas páginas do coração. E lá estão e voltam vez ou outra. 

Depois de adulta, descobri a graça de ser filha e que viver histórias com a minha mãe - e com quem amo também - é o maior legado que me deixam, enquanto juntos (as) estivermos. Diferentes demais, ela e eu, mas com a dádiva de sonhar, escrever e viajar - em quase todos os sentidos bons que essa palavra pode conter. As vezes, antes de dormir, olho as fotos do que já fiz e registrei nessa vida. Ou lembro de passagens registradas com as tintas do sentimento apenas. E como é bom. Lembrar. Viver. Sonhar. Passado, presente e futuro inseridos nessa bela equação.

18.7.14

Insulina da palestina


Tem coisas que só acontecem comigo. Não é bem assim, mas é quase, vício do jargão tão popular. Gosto de pensar que tem muitas coisas pitorescas que acontecem comigo. Vou registrando na memória e as vezes lembro. A maioria de fatos engraçados; outros acontecimentos pitorescos. Lendo o noticiário sobre essa confusão entre judeus e palestinos, lembrei da minha viagem à Israel. Comendo errado e em horários variados, gastei mais insulina que o planejado e me vi no meio do "deserto" sem o meu kit de sobrevivência. Israel me pareceu como nos Estados Unidos na questão da saúde: nada se compra sem ir ao médico/ter receita. Eu ia atrasar TODA uma excursão pela minha falta de planejamento estratégico. Além disso, insulinas existem de vários tipos e fiquei me perguntando se os nomes/efeitos seriam os mesmos. Naquele mesmo dia, atravessamos para o território palestino. Entrei com a guia na farmácia e o atendente compreendeu o que eu queria, leu as bulas de todos os tipos guardados na geladeira. E eu para a guia: eu já sei qual eu quero, porque o atendente está lendo as bulas? Porque ele é o médico. Ah, tá! Desce o pano. Atrás de mim, uma fila de outras pessoas da excursão que também não planejaram bem a quantidade de medicamento. Achei meio incrível o médico ser o dono da farmácia!

16.7.14

pic




14.7.14

pensata



Foto de Lucas Ferraz (Paris)

1.7.14

respirando copa







27.6.14

de passo em passo




Um dia de cada vez e um alvorecer após cada anoitecer. É de passo em passo que a gente constrói uma história. Tantas vezes o desejo é correr, porque as demandas da vida e os acontecimentos frenéticos nos levam a pensar que devagar não se vai muito longe, contrariando o dito popular. Contudo, é a ansiedade que nos faz tropeçar, muitas e muitas vezes ao longo do caminho. Já corri, já cai, já levantei, já sentei e chorei no meio do caminho com as pedras encontradas. Algumas colocadas por mim, sem querer, por querer... E então, enxugando a tristeza líquida que transbordou da alma, a gente junta o que sobrou e recomeça a caminhar. Um passo de cada vez, rumo ao desconhecido, rumo à esperança que mora em cada um de nós e adquire sua forma exata, única e que se quer repleta, plena e suficiente. Não são os sonhos que me sustentam. Quem me sustenta é Deus, que produz e realiza em mim sonhos incontáveis. E que sempre me dá uma boa mão para voltar a acreditar que de passo em passo nós cumprimos o nosso significado com significância.


26.6.14

pensamento

E um dia você aprende que as amizades mudam e isso não eh necessariamente ruim, que se amar eh quase natural, mas requer um pouco de trabalho, atenção e energia, que a dor ensina, mas não apenas se aprende na dor, que uma mesma história pode ter várias versões, que tudo o que você julga no outro, mesmo usando a misericórdia como fiel da balança, pode vir bater a sua porta pra mudar todas as suas vãs convicções, eh sentindo na pele que se dimensiona a vida ou se redimensiona a existência e que ninguém está apto para avaliar a dor do outro, por maior, menor ou igual que se pareça ; a única atitude justa, digna e fiel eh apenas tentar se conectar a quem precisa e oferecer o que há de melhor em si, caso queira ajudar, e as vezes, um abraço , um café e um pão de queijo tem poderes extraordinariamente curativos. [Bia Amorim]

24.6.14

Onde vocês estava, quando...


No começo da Copa, o Fantástico fez uma matéria legal sobre pessoas que nasceram nos dias em que o Brasil estava levantando o caneco. E a reportagem lançava a pergunta: “você lembra onde estava quando o Brasil ganhou a Copa?” Eu a-d-o-r-o ficar lembrando onde estava em momentos especiais da história. Parece que não estou sozinha nessa! Então, resolvi mexer no baú da memória e resgatar algumas dessas lembranças. Quem sabe você não faça o mesmo?

Começando pelas Copas do Mundo, vi a de 94 e a de 2002. Na final da primeira, estava na casa da minha tia e lembro bem que uma vez que fomos para os pênaltis contra a Itália, a sala ficou vazia. Ninguém mais acreditava que era possível. Eu amava futebol e confiava no Taffarel. Entre ruídas de unha e mãos na frente do rosto assisti a conquista. Dois torneios depois, o sabor foi ainda mais especial. Morava nos Estados Unidos e torcia pelo Brasil pela ESPN junto com um grupo de mais de 30 jovens. Fuso confuso, as partidas nos faziam madrugar e vibrar e a final foi eletrizante, com Ronaldo Fenômeno se consagrando frente à seleção. Ganhamos e os amigos foram com a bandeira brasileira andar na montanha russa mais alta do parque de diversão onde estávamos. Comédia!

Momentos tristes também marcam. Lembro que assisti a queda da segunda torre gêmea, de NY em 2001, da faculdade. A gente achou que era o início da terceira guerra mundial. Algo parecido deve ter sentido a geração que viu Kennedy ser baleado. Estava na escola, quando falaram da morte de Renato Russo e ensaiou-se uma paralisação das aulas. A internet não era uma realidade e dessa maneira, as informações eram bastante desencontradas. Imagino o mesmo sentimento para quem soube do assassinato de John Lennon em 1980. Todo mundo que gosta de música deve lembrar de onde estava nesse dia, né?

Eu não tenho filhos, mas jamais vou esquecer de quando meu irmão ligou dizendo que minha sobrinha nasceu ou do dia em que a conheci. Ou quando minha mãe ligou e disse que “papai já está com Jesus”. Estava voltando de uma matéria, engarrafada na Lagoa Rodrigo de Freitas. Um lugar tão lindo, para uma notícia tão triste.

Há casos mais pitorescos. Exemplo? Quando houve o sequestro do ônibus 174, estava no meu quarto lendo, quando minha vizinha veio pedir oração pelos passageiros. E assisti à votação do processo de Impeachment de Fernando Collor sozinha na saleta de casa. Ainda não existia para ver a façanha do homem pisar na lua – Neil Armstrong em 1969 – mas acompanhei o desfecho do sequestro do Silvio Santos (antes teve o da filha, Patricia Abravanel) em cadeia nacional em 2001. O homem do baú dominando o horário nobre da Globo. Eu e a empregada no sofá de casa. Soube da queda do Muro de Berlim justamente na aula de história, quase em cima do lance, tanto quanto era possível na época. E a gente começava a estudar geopolítica. E estava aqui, sentada em frente ao computador, desenhando mentalmente esse texto, quando soube: “Sarney desistiu de disputar o Senado”.

Sua flanela me constrange!

Quando meus primos eram pequenos, eles vinham com os pais de São Paulo para o Rio e o programa obrigatório era a praia! Anos depois, o mais velho veio sozinho e lá fomos nós para a mesma faixa de areia; ele agora ao volante. Nada parecia ter mudado, a não ser "o vaga certa". Nessa época, havia acabado de ser instituído no Rio o profissional de colete empunhando um talãozinho na mão, que te obrigava a deixar antes do programa, o valor estipulado pelo tempo desejado em permanecer no local. Ele (o primo) estranhou. Eu expliquei. Tudo funcionou. 

Passado outro punhado de anos, o flanelinha caracterizado (legal ou não) virou uma espécie de para-instituição carioca (a milícia dos estacionamentos já em extinção pela cidade). Nas vagas que ainda não são da administração municipal ou após o horário regulamentar, cada qual é dono de seu pedaço de calçada e que abra a carteira quem estiver disposto a parar seu carro. A população pode até medir o prestígio da região pelos preços praticados. Vemos dos tradicionais dois reais até cinquenta reais! Sim, meu povo, há eventos em regiões onde esses preços tentam ser empurrados goela abaixo e há quem pague. E por que pagamos? Se está dentro da lei, é nosso dever e obrigação, mas chegamos ao ponto em que tantas e tantas vezes somos coagidos a pagar, sob pena de ter pneus furados, carro arranhado, espelho arrancado... Lenda urbana?! Antes fosse. 

Amigo meu contou que a padaria perto da casa dele começou a ter uma queda nas vendas, porque a calçada ao redor passou a ser dominada por um flanelinha que cobrava preços abusivos. Idosos e mulheres eram os principais acharcados em dez reais por 10 minutinhos de parada para o pão quente. A "vaga" era mais cara que a compra do pão. Posso dizer que esse é um caso isolado? Alguém mais se arrisca a ir à Copacabana ou ao Centro da cidade de carro? Só os corajosos ou os que estão dispostos a deixar uma boa quantia nos estacionamentos da região. Inflacionados, tanto quanto os para-flanelinhas.  

Apoio o trabalhador legal – e por legal, acrescento aqui o gente fina também – mas entre os trabalhadores desse serviço informal, que já é parte do cenário carioca, existem todos os tipos. Quem nunca... Pagou e teve o carro avariado? Pagou e viu o sujeito sumir em seguida? Pagou e ao retornar encontrou o malandro bêbado, te desorientando, mais que orientando a saída? Pagou e não viu alma viva na volta? 

O que fazer na cidade na qual o jeitinho já foi institucionalizado, praticamente? Sempre pego o talãozinho... Já discuti valores sim! Mas e quando o injusto parece ser a única justiça que lhe cabe? Flanelinha dono da rua, como proceder, gente!? Sistematicamente me sinto lesada no meu direito de ir e vir - de carro, que seja! E não são pelos dois reais! 

18.6.14

A cara do Rio que dá certo

Hoje levantei bem cedinho para um compromisso em Ipanema. Para mim o bairro simboliza o Rio que deu certo. Mesmo em obras para o metrô - e os caminhos atravancados, tapumes, poeira e ruas fechadas. O ônus do bônus. Caminhando pelas calçadas, vendo quem madruga, um jeito mole de quem começa o dia, para outros, uma pressa, roupa de ginástica, vai e vem tranquilo. Perto da praia, as roupas são naturalmente poucas, de modo que ver alguém de camiseta e sunga ou de top e legging é uma coisa absolutamente normal, parte de um cotidiano. Um sujeito passeando com um bando de cachorros me faz rir. Linda a cena, todos fofos seguindo o guia, alguns com a camisa do Brasil. Os pets no clima. Cachorro e criança me arrancam sorrisos com muita facilidade.

Findo o compromisso, antes das 10, Poli Sucos LOTADO de estrangeiros. Adorei ficar ali vendo o que eles pedem e como pedem. O atendente já meio treinado para a sua falta de inglês, mas escolado na linguagem corporal. Os "gringos" praticamente soletrando em português "bacon", "ovo" e muitos pedidos de açaí. Açai brasileiro bombando. Um casal pede para ver a fruta. Xiiii é polpa congelada. Frustração que não arrefece o apetite. Termino meu suco e na calçada mesmo vejo um grupo enorme de jovens loiros, nórdicos, sem camisa. Típico torcedores. O clima da Copa deixa a cidade mais bonita, mais dinâmica e alegre, como deve ser. Estrangeiros em Ipanema é normal, mas naquela profusão é especial. Eu de casaquinho e eles, exibindo o peitoral - para os loirinhos, a temperatura de hoje cedo deve ser a de verão deles. A cara da alegria. A cara do Rio que dá certo.

21.5.14

Sem ensaios


"Tenho uma amiga chamada Azaléia, que simplesmente gosta de viver. Viver sem adjetivos. É muito doente de corpo, mas seus risos são claros e constantes. Sua vida é difícil, mas é sua. Um dia desses me disse que cada pessoa tinha em seu mundo sete maravilhas. Quais? Dependia da pessoa. Ela então resolveu classificar as sete maravilhas de seu mundo. Primeira: ter nascido. Ter nascido é um dom, existir, digo eu, é um milagre. Segunda: seus cinco sentidos que incluem em forte dose o sexto. Com eles ela toca e sente e ouve e se comunica e tem prazer e experimenta a dor. Terceira: sua capacidade de amar. Através dessa capacidade, menos comum do que se pensa, ela está sempre repleta de amor por alguns e por muitos, o que lhe alarga o peito. Quarta: sua intuição. A intuição alcança-lhe o que o raciocínio não toca e que os sentidos não percebem. Quinta: sua inteligência. Considera-se uma privilegiada por entender. Seu raciocínio é agudo e eficaz. Sexta: a harmonia. Conseguiu-se através de seus esforços, e realmente ela é toda harmoniosa, em relação ao mundo em geral, e a seu próprio mundo. Sétima: a morte. Ela crê, teosoficamente, que depois da morte a alma se encarna em outro corpo, e tudo começa de novo, com a alegria das sete maravilhas renovadas".

 — Clarice Lispector ("A Descoberta do Mundo") 

Ao que a mim cabe, creio que aqui não é ensaio. Depois da morte, o corpo apodrece, a alma descansa e o espírito se une ao Criador. Sem recomeços, esperas, cansaços, dores e afins. O aqui e agora tem que valer o ingresso do show da vida. Que a minha alma descanse cheia das coisas lindas que vi e guardei em mim. Porque o que vale guardar mesmo é aquilo que nos dá esperança.

16.5.14

Novos lugares, na solidão das estrelas

Papo real, ambiente virtual. Ele, arqueólogo. Ela, sonhadora...




"Sentindo falta da solidão das estrelas…E de novos lugares"

"Ando por esse mesmo caminho..."

"Sinto falta da fala de uma gente que nasce entre a luta e o desespero, das brisas que não vão a nenhum lugar e das águas que correm ao contrário… Sinto falta dos caminhos encarniçados, sem eira e nem beira, das palavras e das cores de um mundo abençoado..."

"Mesmo caminho, várias direções. Sinto falta da brisa que transforma meus pensamentos em palavras, das estrelas que me lembram rabiscos num papel do tamanho do mundo, da água que corre fria e límpida para refrescar a cuca quente, de gente simples, mas de coração tão grande quanto a sabedoria, de lugares que me fazem estar em paz comigo e com o meu interior, sem preço e sem pressa. E sim, como não querer as cores intensas e formas imensas de um mundo criado pelo grande arquiteto, que nos abençoa com a existência do palpável que é quase inimaginável, irresistível à palma da mão?"


"Sinto falta do "ô de casa", do café aguado e açucarado, das ladeiras intermináveis, do casal de araras sobre a cabeça ou do barulho da água contornando os pés…Do enebriante aroma de chuva trazido por aquele mesmo vento de lugar nenhum e das imensas montanhas de nuvens e raios cobrindo o horizonte…Saudade de correr com as crianças e mergulhar num rio amazônico, em um misto de felicidade e medo de suas águas escuras… Saudade de minha pequenez entre as chapadas, do sol da caatinga ou da areia das intermináveis dunas do Nordeste… Saudade dos maciços do Norte e do Grande Sertão Veredas…"

"Sinto falta da sensação de descoberta, novos olhares para novas paisagens, pela qual muita gente já passou com suas histórias e fez dali um pedaço novo da memória - a qual agora pertenço. Sinto muita falta do descompromisso com horários e do compromisso de ser feliz com as pequenas coisas naturais de uma jornada. Quisera eu poder perceber agora as similaridades entre humanos de territórios variados: os dilemas com o passar do tempo, os problemas de um coração arrebatado. Somos todos um em cada canto e sempre os mesmos. Sinto falta de chegar e também do "estou em casa"! Do planejamento sonhado, mas não necessariamente executado. Sinto falta de gente que tem tempo para um papinho e que aprecie ouvir minhas histórias. Sinto falta de escrever histórias vividas e não imaginadas por mim. Sinto falta de quem tenha uma bela história na ponta da alma, pronta para sair. Saudade eu tenho do tempo que a palavra tinha valor, tanto a dita, quanto a escrita, mas em especial a oculta."


"Sinto falta daqui, de lá e de lugares muito além…Daqueles que já se foram e dos que ainda nem chegaram…Sinto falta de, deitado à noite sob céus amazônicos, ainda me surpreender com as coisas que só a noite e os encantados vêem… Ás vezes, sinto falta de mim..."

E você, leitor, o que é que sente falta? E o que mais falta faz: daquilo que somos, quando realizamos, ou do que deixamos de fazer, quando ainda sonhamos?



















* Para e com Fábio Origuela, o Indiana Tupiniquim! 

11.5.14

Dia das Mães 2014


Diferentes em muitos aspectos, mas cúmplices, parceiras. Opostos complementares, mas cheias de similaridades. Temos a mesma fé no mesmo Senhor; temos um coração que se preocupa e se dedica ao outro; temos a poesia como forma artística de expressão; gostamos de um papinho e de uma xícara quente de café; descobrimos que o mundo é o palco dos nossos sonhos e temos ido atrás dele, de cidade em cidade, desbravando territórios e reconhecendo no ser humano de cada região aquilo que nos faz iguais, humanos. Tão diferentes e tão próximas, daquelas que se reconhecem pelo olhar, que gostam de rir com pequenas bobagens, que sabem dar a mão, que se desafiam e se apoiam nos passos da vida, tornando a existência mais saborosa; que gostam de contar a história uma da outra (hehehe): ela, nas conversas com as amigas e eu, escrevendo seus causos, seu olhar diferenciado para as circunstâncias. Mamãe lutou muito para se estabelecer, para encontrar seu lugar e isso me impressiona demais. Não consigo imaginar minha vida sem ela, porque ate hoje ela está presente em tudo. Seja de corpo, seja de alma. A convivência intensa e cotidiana, claro, gera atritos, mas nunca divisão. Fico radiante de poder dividi-la (só um pouquinho, heim!?) com tanta gente que a chama de mãe (ou a tem nesse sentido). Porque o amor que temos pela mãe é algo absoluto, inescrutável. Então, creio em Deus, que ela recebe muitas coisas boas por ai, de dentro para fora. E que assim como ela faz a diferença na minha vida, também faz na de muitas pessoas, espalhando amor. Amor que não se mede. Feliz Dia das Mães Ruth Amorim

6.5.14

Nova Zelândia - Parte 1 (O começo)


Um dos grandes sonhos da minha vida era conhecer a Nova Zelândia. Era algo que tinha dentro de mim antes da TV Colosso ir ao ar – tinha um personagem que citava a NZ como um lugar remoto no mundo. Antes até da minha amiga Márcia ir fazer intercâmbio por lá (2002), eu já pensava na NZ; mas certamente o relato que ela fez sobre o lugar aumentou em mil a minha curiosidade. Ano passado, minha Mãe e eu fomos abençoadas com essa possibilidade. Mas uma coisa eu digo a vocês: se querem conhecer a NZ de verdade, evitem ir de excursão. Não, não estou cuspindo no prato que comi! Se assim não fosse, eu nem teria ido... Tudo o que vi, fiz e experimentei teve um sabor fantástico. Contudo, penso que podia mais, muito mais. E sonho em voltar! Quem sabe?    

Não posso dizer a vocês que conheci a NZ. Conheci sim, Auckland – que tinha cerca de 1 milhão de habitantes na época. Que lugar bonito, gostoso, jovem e absolutamente limpo e seguro. E frio! Fomos durante o outono-inverno e aquilo ali tem a cara de ser point no verão (ou ideal para quem curte esportes radicais ligados à neve durante o inverno). Nossa turma era animada, mas encaramos um ventinho frio constante e chuvinha chata de meia estação. Daniel, que nos levou para lá, viu minha carinha semi-triste (porque não há como ficar triste perto dele e viajando) e me disse sábias palavras: "muitas vezes, os lugares e as pessoas são mais bonitos através das fotos". OK! Com pessoas já havia passado por isso, mas as fotos dos lugares nunca haviam me decepcionado até então... Mas fim do processo, entendi que o que estava ME faltando era o sol! hehehe    

Partimos daAustrália, o que deu 2h30 de viagem (e já havíamos passado por uma temporada no Chile, onde a neve caiu superbem!). A moeda deles é o dólar neozelandês. Acabei voltando com muitas moedas. Pelo menos, são lindas! (moeda de formato incrível, mas como sou "organizada"... Ganharam vida e sumiram). O dinheiro some rapidinho da carteira (viu?! Já era uma tendência!), mas nem é porque tem tanta coisa assim para comprar. O lugar, convenhamos, é uma ilha! A maioria dos bens de consumo vem de fora. É um lugar caro (para se viver e consumir - mas de certa forma, foi mai caro consumir na Alemanha e na Suíça), mas encantador! Ainda assim, compramos casacos poderosos para as próximas viagens (não são do tipo fashion, mas do tipo próprio para viajantes como minha Mãe e eu).

***

Fiquei em um hotel chamado Rendezvous. Hotel de turista que vai de excursão, bem bacana, mas não experimentei a coisa típica de ficar em backpackers. Aliás, o novo sonho é esse: atravessar da ilha norte à ilha sul de carro (e barco, lógico), ficando em backpacker! Mas o mais legal de ficar no hotel foi ver a quantidade de estudantes do mundo inteiro, que trabalham na rede hoteleira. 

A NZ é um destino muito procurado para quem quer estudar inglês. É mais barato que os países tradicionais escolhidos pelos estudantes no Brasil, por exemplo, é seguro e tem os esportes radicais e a natureza exuberante. Embora tenha terremotos eventuais. Muita gente vai estudar inglês na NZ e acabam arrumando um trabalhinho e "tals"... Alguns acabam ficando. A filha de uma amiga ia e voltava durante longas temporadas. Aprendeu a fazer todo tipo de café e virou barista! Hoje, estuda Medicina no Brasil e usa suas habilidades com o pretinho básico como hobby. Um charme! 

Encontrei muita gente brasileira em todo tipo de ocupação - sempre por acaso. Mais tarde descobri que tenho uma prima distante morando lá! hehehe Mesmo com tantos compatriotas por lá, a nossa guia era Italiana! Uma graça de menina, que mandava muito bem no português. Morou na região Norte do Brasil, através de um projeto do Greenpeace! Amo a liberdade/mobilidade dos jovens de hoje!

Nos bairros mais afastados a gente vê muito verde e casinhas lindas sem muro, grades, portões altos. Quase todas com flores ou árvores frutíferas. Na orla há muitos prédios novos com varandas, restaurantes badalados. O NZ gosta muito de esporte e não é raro ver gente correndo ou andando de bicicleta. É uma prática passada de geração para geração. Fomos à praia das Missões, com sua areia preta com pedrinhas escuras. Diferente, sem a exuberância do Nordeste brasileiro, mas com seus encantos específicos. A gente tem essa mania de querer comparar, mas há beleza singela em cada lugar e precisamos ter olhos atentos e mente aberta para identificar e abraçar aquilo que nos é diferente. Almoçamos dentro de uma vinícola e essa foi umas das coisas mais legais que fiz – dentro de um contexto histórico, claro. (O curioso é que os donos da vinícola eram croatas, licenciados para a produção). Confesso que bebi! rs



A visita à torre da cidade – cartão postal de Auckland – é passeio que vale. Lá de cima dos 358 metros de altura a visão é privilegiada! As pessoas podem saltar lá de cima – lembrando que a NZ é conhecida por ser o lugar dos esportes radicais (detalhe para o hominho pulando na parte superior da foto abaixo). Não fui pelo preço SALGADO do salto, mas se Deus me permitir, volto para isso também (minha Mãe se sentiu aliviada por estarmos no fim da viagem e com o dinheiro mais contadinho hahahaha)

Nota: A mente prega umas peças na gente... Quando olho de fora uma montanha russa nova, sempre tenho medo. Depois de experimentar, vejo que o medo era apenas a mente pregando peças. Quando cheguei à torre e tive que pisar no quadrado transparente com vista para o chão, minhas pernas tremeram muito! Tive que me "aclimatar"! E essa sensação estranha, me fez temer o salto da torre. Até que desci e olhei a queda de baixo para cima! Não era nada daquilo que minha mente estava dizendo! Molezinha! 4 segundos de queda livre! E uma altura infinitamente menor que a sensação que tive olhando de cima para baixo. Botei o medo no bolso e fui ver o valor do salto... Proibitivo àquela "altura" da viagem! 

Mas acho mais legal e dramático fazer bungee jump da ponte da cidade! Dali, fomos fazer comprinhas na Queen Victoria Street, o centrinho comercial. Não comprei nada de especial, além das lembrancinhas. Nesse sentido, Sidney é bem mais atrativa.