17.3.11

cúmplice das escolhas


- Já nem sei como devo me sentir agora...

Ela pensou isso, enquanto tentava reavaliar os acontecimentos do dia. Ficara impressionada, minutos antes, com o turbilhão de emoções experimentadas em tão pouco tempo. Sinal de que a vida não poderia ser mesmo linear, estática ou dotada de qualquer mapa cartográfico para navegantes perdidos, que desse sentido pleno a meros planos mortais da existência. A nau da vida é guiada por correntezas invisíveis a olho nu.

Um dia é pouco. E um dia é tanto. Um dia é desencanto e alegria. Um dia é só mais um dia. Mas UM DIA era aquele dia. Raciocínios confusos de quem tenta se entender, se enquadrar dentro de parâmetros limitados. Somos todos um pouco filhos das possibilidades. Dotados de uma liberdade, que de tão leve e tão fina, pode vir a nos aprisionar. Faces opostas da mesma moeda que nos é ofertada quando viemos a existir. É preciso ser vigilante, atento e pronto para as mais diversas forma de improvisação. Conscientes do nosso inconsciente que prega peças. Aquele bufão. 

Riso, raiva, choro, enlevo, êxtase, tensão, tesão, ciúmes, gozo e uma paz de criança dormindo perpassaram o seu corpo, sua mente, seus cantos escuros e secretos, seu interior, a face escura da lua que nos habita a alma e nos faz amar a noite como uma meia-irmã. Somos todos um novelo, embrulhados em tantas possibilidades experimentadas e outras deixadas pelo meio da estrada. Labirintos de caminhos tortos; descaminhos em estradas perfeitas. Mortos. 

- Já sei como me sinto agora: cúmplice das escolhas que não fiz.    

2 comentários:

Saulo disse...

Dava um trecho de um bom livro!!

Bibi disse...

Meus ensaios são isso mesmo!