27.6.14

de passo em passo




Um dia de cada vez e um alvorecer após cada anoitecer. É de passo em passo que a gente constrói uma história. Tantas vezes o desejo é correr, porque as demandas da vida e os acontecimentos frenéticos nos levam a pensar que devagar não se vai muito longe, contrariando o dito popular. Contudo, é a ansiedade que nos faz tropeçar, muitas e muitas vezes ao longo do caminho. Já corri, já cai, já levantei, já sentei e chorei no meio do caminho com as pedras encontradas. Algumas colocadas por mim, sem querer, por querer... E então, enxugando a tristeza líquida que transbordou da alma, a gente junta o que sobrou e recomeça a caminhar. Um passo de cada vez, rumo ao desconhecido, rumo à esperança que mora em cada um de nós e adquire sua forma exata, única e que se quer repleta, plena e suficiente. Não são os sonhos que me sustentam. Quem me sustenta é Deus, que produz e realiza em mim sonhos incontáveis. E que sempre me dá uma boa mão para voltar a acreditar que de passo em passo nós cumprimos o nosso significado com significância.


26.6.14

pensamento

E um dia você aprende que as amizades mudam e isso não eh necessariamente ruim, que se amar eh quase natural, mas requer um pouco de trabalho, atenção e energia, que a dor ensina, mas não apenas se aprende na dor, que uma mesma história pode ter várias versões, que tudo o que você julga no outro, mesmo usando a misericórdia como fiel da balança, pode vir bater a sua porta pra mudar todas as suas vãs convicções, eh sentindo na pele que se dimensiona a vida ou se redimensiona a existência e que ninguém está apto para avaliar a dor do outro, por maior, menor ou igual que se pareça ; a única atitude justa, digna e fiel eh apenas tentar se conectar a quem precisa e oferecer o que há de melhor em si, caso queira ajudar, e as vezes, um abraço , um café e um pão de queijo tem poderes extraordinariamente curativos. [Bia Amorim]

24.6.14

Onde vocês estava, quando...


No começo da Copa, o Fantástico fez uma matéria legal sobre pessoas que nasceram nos dias em que o Brasil estava levantando o caneco. E a reportagem lançava a pergunta: “você lembra onde estava quando o Brasil ganhou a Copa?” Eu a-d-o-r-o ficar lembrando onde estava em momentos especiais da história. Parece que não estou sozinha nessa! Então, resolvi mexer no baú da memória e resgatar algumas dessas lembranças. Quem sabe você não faça o mesmo?

Começando pelas Copas do Mundo, vi a de 94 e a de 2002. Na final da primeira, estava na casa da minha tia e lembro bem que uma vez que fomos para os pênaltis contra a Itália, a sala ficou vazia. Ninguém mais acreditava que era possível. Eu amava futebol e confiava no Taffarel. Entre ruídas de unha e mãos na frente do rosto assisti a conquista. Dois torneios depois, o sabor foi ainda mais especial. Morava nos Estados Unidos e torcia pelo Brasil pela ESPN junto com um grupo de mais de 30 jovens. Fuso confuso, as partidas nos faziam madrugar e vibrar e a final foi eletrizante, com Ronaldo Fenômeno se consagrando frente à seleção. Ganhamos e os amigos foram com a bandeira brasileira andar na montanha russa mais alta do parque de diversão onde estávamos. Comédia!

Momentos tristes também marcam. Lembro que assisti a queda da segunda torre gêmea, de NY em 2001, da faculdade. A gente achou que era o início da terceira guerra mundial. Algo parecido deve ter sentido a geração que viu Kennedy ser baleado. Estava na escola, quando falaram da morte de Renato Russo e ensaiou-se uma paralisação das aulas. A internet não era uma realidade e dessa maneira, as informações eram bastante desencontradas. Imagino o mesmo sentimento para quem soube do assassinato de John Lennon em 1980. Todo mundo que gosta de música deve lembrar de onde estava nesse dia, né?

Eu não tenho filhos, mas jamais vou esquecer de quando meu irmão ligou dizendo que minha sobrinha nasceu ou do dia em que a conheci. Ou quando minha mãe ligou e disse que “papai já está com Jesus”. Estava voltando de uma matéria, engarrafada na Lagoa Rodrigo de Freitas. Um lugar tão lindo, para uma notícia tão triste.

Há casos mais pitorescos. Exemplo? Quando houve o sequestro do ônibus 174, estava no meu quarto lendo, quando minha vizinha veio pedir oração pelos passageiros. E assisti à votação do processo de Impeachment de Fernando Collor sozinha na saleta de casa. Ainda não existia para ver a façanha do homem pisar na lua – Neil Armstrong em 1969 – mas acompanhei o desfecho do sequestro do Silvio Santos (antes teve o da filha, Patricia Abravanel) em cadeia nacional em 2001. O homem do baú dominando o horário nobre da Globo. Eu e a empregada no sofá de casa. Soube da queda do Muro de Berlim justamente na aula de história, quase em cima do lance, tanto quanto era possível na época. E a gente começava a estudar geopolítica. E estava aqui, sentada em frente ao computador, desenhando mentalmente esse texto, quando soube: “Sarney desistiu de disputar o Senado”.

Sua flanela me constrange!

Quando meus primos eram pequenos, eles vinham com os pais de São Paulo para o Rio e o programa obrigatório era a praia! Anos depois, o mais velho veio sozinho e lá fomos nós para a mesma faixa de areia; ele agora ao volante. Nada parecia ter mudado, a não ser "o vaga certa". Nessa época, havia acabado de ser instituído no Rio o profissional de colete empunhando um talãozinho na mão, que te obrigava a deixar antes do programa, o valor estipulado pelo tempo desejado em permanecer no local. Ele (o primo) estranhou. Eu expliquei. Tudo funcionou. 

Passado outro punhado de anos, o flanelinha caracterizado (legal ou não) virou uma espécie de para-instituição carioca (a milícia dos estacionamentos já em extinção pela cidade). Nas vagas que ainda não são da administração municipal ou após o horário regulamentar, cada qual é dono de seu pedaço de calçada e que abra a carteira quem estiver disposto a parar seu carro. A população pode até medir o prestígio da região pelos preços praticados. Vemos dos tradicionais dois reais até cinquenta reais! Sim, meu povo, há eventos em regiões onde esses preços tentam ser empurrados goela abaixo e há quem pague. E por que pagamos? Se está dentro da lei, é nosso dever e obrigação, mas chegamos ao ponto em que tantas e tantas vezes somos coagidos a pagar, sob pena de ter pneus furados, carro arranhado, espelho arrancado... Lenda urbana?! Antes fosse. 

Amigo meu contou que a padaria perto da casa dele começou a ter uma queda nas vendas, porque a calçada ao redor passou a ser dominada por um flanelinha que cobrava preços abusivos. Idosos e mulheres eram os principais acharcados em dez reais por 10 minutinhos de parada para o pão quente. A "vaga" era mais cara que a compra do pão. Posso dizer que esse é um caso isolado? Alguém mais se arrisca a ir à Copacabana ou ao Centro da cidade de carro? Só os corajosos ou os que estão dispostos a deixar uma boa quantia nos estacionamentos da região. Inflacionados, tanto quanto os para-flanelinhas.  

Apoio o trabalhador legal – e por legal, acrescento aqui o gente fina também – mas entre os trabalhadores desse serviço informal, que já é parte do cenário carioca, existem todos os tipos. Quem nunca... Pagou e teve o carro avariado? Pagou e viu o sujeito sumir em seguida? Pagou e ao retornar encontrou o malandro bêbado, te desorientando, mais que orientando a saída? Pagou e não viu alma viva na volta? 

O que fazer na cidade na qual o jeitinho já foi institucionalizado, praticamente? Sempre pego o talãozinho... Já discuti valores sim! Mas e quando o injusto parece ser a única justiça que lhe cabe? Flanelinha dono da rua, como proceder, gente!? Sistematicamente me sinto lesada no meu direito de ir e vir - de carro, que seja! E não são pelos dois reais! 

18.6.14

A cara do Rio que dá certo

Hoje levantei bem cedinho para um compromisso em Ipanema. Para mim o bairro simboliza o Rio que deu certo. Mesmo em obras para o metrô - e os caminhos atravancados, tapumes, poeira e ruas fechadas. O ônus do bônus. Caminhando pelas calçadas, vendo quem madruga, um jeito mole de quem começa o dia, para outros, uma pressa, roupa de ginástica, vai e vem tranquilo. Perto da praia, as roupas são naturalmente poucas, de modo que ver alguém de camiseta e sunga ou de top e legging é uma coisa absolutamente normal, parte de um cotidiano. Um sujeito passeando com um bando de cachorros me faz rir. Linda a cena, todos fofos seguindo o guia, alguns com a camisa do Brasil. Os pets no clima. Cachorro e criança me arrancam sorrisos com muita facilidade.

Findo o compromisso, antes das 10, Poli Sucos LOTADO de estrangeiros. Adorei ficar ali vendo o que eles pedem e como pedem. O atendente já meio treinado para a sua falta de inglês, mas escolado na linguagem corporal. Os "gringos" praticamente soletrando em português "bacon", "ovo" e muitos pedidos de açaí. Açai brasileiro bombando. Um casal pede para ver a fruta. Xiiii é polpa congelada. Frustração que não arrefece o apetite. Termino meu suco e na calçada mesmo vejo um grupo enorme de jovens loiros, nórdicos, sem camisa. Típico torcedores. O clima da Copa deixa a cidade mais bonita, mais dinâmica e alegre, como deve ser. Estrangeiros em Ipanema é normal, mas naquela profusão é especial. Eu de casaquinho e eles, exibindo o peitoral - para os loirinhos, a temperatura de hoje cedo deve ser a de verão deles. A cara da alegria. A cara do Rio que dá certo.