24.6.14

Sua flanela me constrange!

Quando meus primos eram pequenos, eles vinham com os pais de São Paulo para o Rio e o programa obrigatório era a praia! Anos depois, o mais velho veio sozinho e lá fomos nós para a mesma faixa de areia; ele agora ao volante. Nada parecia ter mudado, a não ser "o vaga certa". Nessa época, havia acabado de ser instituído no Rio o profissional de colete empunhando um talãozinho na mão, que te obrigava a deixar antes do programa, o valor estipulado pelo tempo desejado em permanecer no local. Ele (o primo) estranhou. Eu expliquei. Tudo funcionou. 

Passado outro punhado de anos, o flanelinha caracterizado (legal ou não) virou uma espécie de para-instituição carioca (a milícia dos estacionamentos já em extinção pela cidade). Nas vagas que ainda não são da administração municipal ou após o horário regulamentar, cada qual é dono de seu pedaço de calçada e que abra a carteira quem estiver disposto a parar seu carro. A população pode até medir o prestígio da região pelos preços praticados. Vemos dos tradicionais dois reais até cinquenta reais! Sim, meu povo, há eventos em regiões onde esses preços tentam ser empurrados goela abaixo e há quem pague. E por que pagamos? Se está dentro da lei, é nosso dever e obrigação, mas chegamos ao ponto em que tantas e tantas vezes somos coagidos a pagar, sob pena de ter pneus furados, carro arranhado, espelho arrancado... Lenda urbana?! Antes fosse. 

Amigo meu contou que a padaria perto da casa dele começou a ter uma queda nas vendas, porque a calçada ao redor passou a ser dominada por um flanelinha que cobrava preços abusivos. Idosos e mulheres eram os principais acharcados em dez reais por 10 minutinhos de parada para o pão quente. A "vaga" era mais cara que a compra do pão. Posso dizer que esse é um caso isolado? Alguém mais se arrisca a ir à Copacabana ou ao Centro da cidade de carro? Só os corajosos ou os que estão dispostos a deixar uma boa quantia nos estacionamentos da região. Inflacionados, tanto quanto os para-flanelinhas.  

Apoio o trabalhador legal – e por legal, acrescento aqui o gente fina também – mas entre os trabalhadores desse serviço informal, que já é parte do cenário carioca, existem todos os tipos. Quem nunca... Pagou e teve o carro avariado? Pagou e viu o sujeito sumir em seguida? Pagou e ao retornar encontrou o malandro bêbado, te desorientando, mais que orientando a saída? Pagou e não viu alma viva na volta? 

O que fazer na cidade na qual o jeitinho já foi institucionalizado, praticamente? Sempre pego o talãozinho... Já discuti valores sim! Mas e quando o injusto parece ser a única justiça que lhe cabe? Flanelinha dono da rua, como proceder, gente!? Sistematicamente me sinto lesada no meu direito de ir e vir - de carro, que seja! E não são pelos dois reais! 

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