23.7.11

Aventuras de RuBi - Doce Encontro


Paris, 17 de fevereiro de 1903. Essa foi a data em que o poeta Rainer Maria Rilke recebe uma carta de um jovem chamado Franz Kappus. Um não sabia da existência do outro até aquela carta. Eles nunca haviam se visto e não existia um laço forte em suas histórias que pudessem servir de convergência, a não ser um mesmo “tutor”. O ardente desejo de Franz em tornar-se poeta fez com que ele, em um golpe de ousadia e inteligência, pedisse conselhos ao já famoso escritor através do mais eficaz meio de comunicação da época. E tal iniciativa dá início a uma profunda troca de correspondências, que deixa como legado o livro “Cartas a Um Jovem Poeta”.

Eu sou um pouco ressentida pelo (quase total) desaparecimento do hábito de se trocar cartas. Ao mesmo tempo, a internet é algo que me deixa maravilhada. Mesmo sendo voto vencido, creio que uma coisa não deveria excluir a outra. E fico feliz ao perceber que a (inexorável) evolução das coisas não nos afasta daquilo que nos é caro. Não totalmente, visto que há uma transformação e consequente adaptação. Minhas cartas quase sem fim agora devem caber em e-mails. Estes, certamente menores, mesmo que as possibilidades tenham se multiplicado.


Dias (aparentemente) mais velozes e (certamente) mais estressantes não (necessariamente) querem dizer tempos de sentimentos superficiais. A tônica dessa frase me tomou por inteira na crônica sobre a chegada ao Maranhão. A velocidade do novo tempo reduziu as palavras, mas não extirpou a disponibilização de afeto que pode existir nessa simples troca de correspondências. Assim como fez Kappus com Rilke há mais de um século, eu comecei a fazer com a Fer, minha Ciclista que deu nome à estante-biblioteca que inaugurei na sala de casa.


 Esse contato foi se estreitando nas ciclovias virtuais e acabamos nos encontrando face a face em São Luis do Maranhão. O que era apenas idealizado entre nós, tornou-se algo palpável a seu convite. Nossa primeira troca de olhares foi em uma conexão em Teresina, no Piauí, onde ela vive. Saí de casa sem dar uma segunda olhada em sua foto. A ansiedade pelo encontro era tamanha que... LÓGICO: abracei vigorosamente a mulher errada. E não é que ela curtiu? “Gostei muito do seu abraço, mas eu não sou quem você está esperando”. Quá-quá. Vexame.

Respirei fundo e identifiquei a Fer certa logo atrás. Os olhos eram os mesmos, mas os cabelos... Trocamos um abraço rápido, porque ela estava nervosa com o vôo de meia hora que teríamos pela frente (e eu tensa com o abraço frustrado de minutos antes. Os passageiros à minha volta souberam da situação “nunca te vi, sempre te amei” e estavam também à espera da mulher misteriosa que era a verdadeira amiga-oculta).

Eu estava com a minha Mãe - rindo da minha gafe. A Fer estava com o marido, o Dr. José Rodrigues (o melhor cirurgião gástrico e de redução de estômago de todo Norte/Nordeste) - todo sério. O encontro de verdade foi na esteira de bagagem do aeroporto de São Luis. Estava há mais de 10 horas sem comer nada e a Fer me serve um pedaço do mais delicioso brownie que já comi na vida. Fabricação própria que ela comercializa. Uma receita secreta e especial. Não era a minha fome, porque pude comprovar esse sabor insuperável em outras duas ocasiões (tudo em nome da ciência, claro!). Mas ali, naquele segundo gesto, o pós-abraço, estava resumido o que seria o nosso encontro: doce, consistente, caseiro, saboreado aos pedaços e que alimentaria o corpo e também a alma.

2 comentários:

fer disse...

Emoção,lágrimas!!! Nem sei se mereço tanto!!!
O que dizer? O que não cabe em palavras.
Minha doce,frágil,amiga,irmã Bibi,saudades de ti.Vou guardar pra sempre todos os nossos momentos.
Se CUIDA de verdade.
beijo
fer

Bibi disse...

Oxê! Isso já é saudade. Agora vc descansa um pouco de mim e a gente volta à programação normal! Tomara que eu set dê certo!