13.4.14

As não escolhas e o imponderável: a arte de ter sopro de vida



É claro que o imponderável sempre está e estará presente nas circunstâncias da vida, mas sempre pensei que a nossa realidade, ou seja, aquilo que estamos vivendo e a maneira como nos sentimos é fruto tanto das nossas escolhas - as certas e as erradas -, quanto fruto em especial daquilo que deixamos de escolher. E por deixar de escolher, reafirmo, não quer dizer as escolhas que por venturam tenham sido feitas erradas. Falo de omissão e insisto na questão de deixar que a "vida", o "acaso" ou as pessoas tomem a decisão por nós em virtude do medo, descaso, abandono, precipitações, dúvidas, desassossegos, preguiça ou qualquer mistério que o valha. 

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Ao fazermos as nossas escolhas, temos que lidar com consequências quase sempre lógicas e um pouco mais previsíveis; fruto de análises frias, estatísticas, sistemas de coordenada espaço-tempo, causa-consequência, lógica, por fim, voltando a ela... Contudo, voltando sempre ao aspecto inicial do texto, que cita o imponderável como raiz - a quem podemos chamar de sorte, acaso e ação de Deus, além, escrito nas estrelas, o grande mistério.

Mas... Ao deixarmos de fazer uma escolha - em função de um sem número de situações já ditas ou por nos agarramos à confiança (besta) de que é mais fácil, simples ou seguro lidar com aquilo que já é conhecido ou sentar no meio do caminho e esperar pelo raio que vai te partir ou indicar uma direção -, na verdade é que evocamos para juntos de nós portas, caminhos, destinos quase insondáveis e que acontecem no paralelo da nossa existência e nos coloca fora do centro da nossa vida, não como autores de sonhos e vontades, mas marionetes de desejos, ações, casos e descasos de terceiros. Tiranismo. 

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Talvez, escolhendo certo ou errado, os dados estão e estarão sempre rolando pela mesa e você é parte integrante do jogo. Ao deixar que os outros escolham por, você é apenas observador da ação, que sofre a consequência, mas não saboreia nenhum tipo de louro ou premiação ao fim do processo... Joguete. Marionete da história escrita no livro de terceiros. Sombra. Quem quer viver de sombra?

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Por ter escolhido (se sim ou se não à uma das questões que movem à existência), abraçamos as consequências conhecidas, mas podemos viver expectativas diferentes das emoções investidas. E temos sangue nas veias, sopro nas narinas, inteligência emocional e racional para isso, oras! E por não ter que escolher ou não querer ou não ousar, (você) eu acabo me esvaziando de mim mesma... Até que um dia não sobra mais nada. Nem a sombra, que também se esvai.

Quem quer ser apenas um fiapo daquilo que já foi? Deixar de escolher é algo que se move no plano racional? Quem tem tempo de pensar para dentro de si, se o que nos exige e consome do lado de fora é muito maior que nossa capacidade de auto-análise? Se não há tempo para si, talvez não exista muito mais vida nas veias. Se ainda dá tempo, talvez ainda tenhamos o sonho para nos lembrar. POr que quem não tem tempo de pensar em si e precisa, acaba acordado, mexido, sacolejado pelo subconsciente. Que grita. 

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Como definir algo metafísico? 
E ainda destituindo o imponderável desse sistema? 

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“Expecting the world to treat you fairly
because you are a good person
is a little like expecting the bull not to attack you
because you are a vegetarian.”
Dennis Whole

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É nessas horas que me questiono sobre plantar o que semeei e colher o que plantei. E ainda ter que lidar com o que não escolhi e o imponderável... Viver é um mistério, mas ainda prefiro tentar ser o ator principal do script da minha vida e me divertir durante o espetáculo e deixar que a plateia seja coadjuvante e Deus, porque a fé é parte indissociável da minha existência, esteja através do imponderável.    

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