9.11.07

Contato Humano

A semana começou com a entrega do Prêmio Contigo de Teatro. E na matéria sobre o evento, li uma frase da Letícia Spiller que me tocou:
“Espero que em meio à tecnologia deste mundo moderno prevaleça sempre o contato humano”.
Fiquei pensando nessa frase até hoje...Adoro a tecnologia, porque ela facilita a minha vida, me aproxima de gente que está tão longe, me ajuda a manter contato com quem está perto, me abre uma janela de opções para aprender e evoluir como pessoa e tantas outras coisas. Mas...confesso que tenho certa dificuldade em aprender sobre seus mecanismos. Sempre me assusto ao perceber que existem crianças que sabem usar o computador melhor que eu. Elas já nasceram inseridas na era tecnológica, enquanto eu tive que me adequar a ela. Sim! Confesso sob tortura, que já usei máquina de escrever.
Aquela boa e velha máquina de tortura de dedo com sininho ao fim da linha e uma fita ensebada que vez ou outra precisava ser trocada. Foi nela que desenvolvi a técnica olímpica de digitação veloz em dois dedos.

E foi justamente por observar espantada essas tais crianças biônicas que parei de rir toda vez que via a minha mãe “batendo um papo” com o microondas ou com a (nova) máquina de lavar. Era quase sempre a mesma cena: dedo em riste, cara de quem tem milhares de dúvidas e um pedido especial a Deus para escolher o botão certo. Afinal, naquela geringonça, só mesmo com a ajuda superior. Depois da escolha, era a torcida do “vamos lá máquina, me ajuda!”, com tanto fervor quanto o torcedor brasileiro pedindo para o Taffarel pegar o pênalti na final da Copa do Estados Unidos. Pra frente Brasil! Pra frente mãe! Como em todo jogo, tem horas que ela dá bola fora...


Voltando à história da frase, a palavra contato humano me agrada demais. Sempre soube que um abraço tem poderes terapêuticos e o uso bem mais que a dose medicinal recomendada. Fiquei com muito medo da Internet esfriar as relações, mas vejo, com grata surpresa, que na maioria das vezes o contrário acontece. Vide orkut, as salas de bate papo e até os blogs. Queria que mesmo protegida pela tela, as minhas palavras fossem fonte de calor humano. O Luke uma vez me escreveu a seguinte definição:


“O cyber espaço é onde as pessoas existem sem corpo físico. É, por incrível que pareça, o lugar onde as pessoas podem ser mais próximas de si mesmas. O lugar onde não há máscaras ou rostos. É onde nos desprovemos da matéria e conversamos na real, onde não olhamos a roupa que o outro está vestindo ou quanto o outro está pesando. Todo mundo pode tudo e, por isso mesmo, nada material tem valor. Você não sabe nem qual o computador da outra pessoa.
O cyber espaço só é problemático quando as pessoas tentam trazê-lo para o mundo físico. Enquanto permanecemos no mundo cibernético, as pessoas têm que conquistar as outras pelo papo, pelo interesse intelectual. Aqui, você vale o que você é, não o que você tem”.
Eu só acrescentaria que não há máscaras, porque não há rostos. E você pode ser quem você quiser, até quem você tem medo de tentar ser na realidade...
Justamente por ser o blog um cyber espaço destinado a todos e a qualquer um, decidi não colocar aqui o que eu estava escrevendo na conta de telefone no metrô. Não por medo de revelar-me, mas porque perde-se o interesse quando a gente se revela por inteiro, como se isso fosse uma biografia. Cada história traz em si uma nova história, como os contos de Sherazade em As Mil e Uma Noites. Prefiro revelar-me aos poucos, como se preciso fosse deixar cair os véus ou as máscaras ou as cicatrizes, o que mais interessar.

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