Estava lendo o perfil da minha sobrinha e me deparei com um dado interessante. Ela fez uma espécie de perguntas e respostas a si mesma e colocou algo como:
"o pior sentimento é o arrependimento". Não censuro a escolha, e nem poderia
[já achei o mesmo], mas me deu o que pensar... Na minha adolescência eu também tive esse mesmo ponto de vista em relação às coisas da vida. Como se errar não fosse permitido ou fosse uma questão de tempo perdido numa trajetória veloz! Sempre ouvia dizer que depois dos 15 anos a vida passaria tal qual um trem bala. Uma daquelas verdades inequívocas; constatadas logo após. Nessa fase a gente acha que é tudo ou nada.
Durante muitos anos agi como se não pudesse me arrepender das minhas atitudes e escolhas. Resultado? Perdi um tempo preciso atrás de uma perfeição que não existe. Dessa forma, se arrepender significava ter feito a escolha errada, perder tempo, se afastar da meta, da linha de chegada do destino
[looser]. Deixei de viver coisas bacanas, de errar e de acertar
[circunstâncias fundamentais para o nosso processo de desenvolvimento pessoal]. Acima de tudo, acabei me desfazendo de coisas que me pareciam muito complicadas
[pessoas, em especial]. E quando se é adolescente – ora, ora – tudo é sempre muito complicado.
Queria poder ensinar isso a minha sobrinha e poupá-la do real tempo perdido. Contudo, existem certas lições que a vida se encarrega de dar e não se pode adiantar o processo. Ele é parte do show do existir. Mas espero, com todo o amor que tenho no coração, que ao ler sobre isso, ela possa encontrar a “arma” necessária para passar tranqüila para a próxima fase desse
game. Se arrepender é tão parte da vida, quanto sorrir ou chorar. É sinal de que você tentou, arriscou, mas se deu conta de que na próxima vez faria diferente ou não faria. O mais bonito dessa lição é que muitas vezes o tempo nos dá de presente uma nova oportunidade. E é justamente sobre isso a minha história de hoje.
DIRETO DO TÚNEL DO TEMPO:
Quem não teve um super amigo na época da escola? Eu, graças a Deus, tive vários – os melhores dos melhores. São eles os responsáveis pelas lembranças mais marcantes e memoráveis. Na minha última escola eu tive a honra e o privilégio de conhecer a
K. A nossa aproximação foi imediata, iniciada pela coincidência de morarmos perto uma da outra. As semelhanças? Gosto pela leitura, criatividade, sede de aventura, comunicação, fé, amor pela família, vontade de fazer diferente, curiosidade, impetuosidade, liderança, fome de justiça, crença no ser humano e uma vontade sem fim de bater papo. Chegou o tempo em que bastava um olhar para que a comunicação se estabelecesse. Um dia, eu passei a me sentar longe, do outro lado da sala, para que pudéssemos existir individualmente. Ela ficava com a
L, a paty da sala, e eu com a
S.A., que era a terceira força do nosso time; o caminho do meio.
A chegada ao segundo grau nos separou. Resolvi mudar de sala, porque alguma coisa dentro de mim dizia que o caminho era outro. Continuamos amigas, bate-papo no corredor, encontros na casa dela e na minha. Até que... Até que como em quase toda a história de amor fraternal intenso, alguma coisa saiu do lugar. E saiu feio!
“E o anel que tu me deste era vidro e se quebrou”. Passamos os três anos seguintes nos vendo, mas sem trocar uma palavra. Ganhei um concurso de poesia no colégio e quis dedicar a vitória a ela e pedir perdão em frente a toda a escola
[nunca contei isso a ninguém]. Inéditamente não me deixaram falar ao microfone
[eu era a oradora oficial]... A chance passou e a coragem também.
Tempos depois, surpresa! Eu a reencontrei em um módulo do pré-vestibular e a chamei para conversar. Disse que aquele encontro tinha um significado maior e que não queria passar a vida tendo que virar a cara para ela. Assumi a minha parte na culpa, as minhas inseguranças e a falta de tato. Foi o primeiro passo, mas ainda incipiente. No ano seguinte, pasmem! Nós nos encontramos na universidade. Ela estudava no andar acima do meu e tinha que descer para usar a cantina. Nos vimos algumas vezes, troca de olhares e afetos tímidos. O destino me mandou para outra faculdade e nos perdemos mais uma vez. Anos mais tarde, ela me telefona:
“Vou me casar e faço questão da sua presença nesse momento”. Era a chance que eu não podia deixar passar. Fui com a minha família, que durante um tempo foi, de certa forma, a família dela também. E fiquei emocionada ao perceber que ela foi capaz de deixar seus convidados de lado para me dar o maior tempo de atenção possível.
No novo tempo, apesar dos castigos / Estamos crescidos, estamos atentos, estamos mais vivos / Pra nos socorrer / No novo tempo, apesar dos perigos / Da força mais bruta, da noite que assusta, estamos na luta / Pra sobreviver / Pra
que nossa esperança seja mais que a vingança / Seja sempre um caminho que se
deixa de herança...
E o tempo, senhor da razão, nos separou mais uma vez. Só que dessa vez um novo laço já havia sido feito. Um laço de três cordas, que é difícil de arrebentar. Há algumas semanas a K foi até o meu trabalho me visitar. E resgatamos o querer mais que bem-querer. Foi uma visita ao passado de braços abertos para o futuro. Foi um arrependimento que teve remédio. A solução é sempre o amor.
A
K contou essa história em seu
blog:
"No “cavalo de batalhas” que todo adolescente é capaz de criar, nós nos perdemos. Pra mim foi como perder um pedaço. Mas a vida segue, mesmo quando falta um pedaço! As feridas cicatrizam e você continua amando. O tempo! Ele mostra o quanto fomos estúpidas. E você aprende... A amar, a pedir perdão, a compartilhar, a ser menos egoísta. Entre perder e encontrar existe uma esplendida caminhada na busca do autoconhecimento e da natureza humana. Se não tivesse perdido, não saberia o quanto é importante amar e ser amada e nem as maravilhas curativas do querer-bem. Aprendi a dar valor ao que é importante e a descartar o que não é. Se soubesse disso há tempos, não teria sido privada da convivência de pessoas importantes. Mas agora eu sei! E não vou deixar passar! "