21.9.09

Nossa Poesia


Não sei como consegui dormir e ontem para hoje. Estava agitada, com certa angústia no peito. Tentei ler e não era o caso... Ler antes de dormir me acalma, mas ontem... Estava agitada demais para prestar atenção nas letras e seus significados. Quando estou assim, geralmente encontro inspiração para escrever alguma coisa: uma poesia, por exemplo. Essa agitação noturna quase sempre tem a ver com inspiração. Pensei em muitas frases sobre as quais eu poderia rimar, mas elas dormiram dentro de mim. Estou recolhida; portanto, com falta de poesia.


Li, em "Doidas e Santas" de Martha Medeiros, uma definição muito interessante sobre poesia. Ela diz assim: “Para que serve a arte, para que serve a poesia?... Para alterar o curso do seu andar, para interromper um hábito, para evitar repetições, para provocar um estranhamento, para alegrar o seu dia, para fazê-lo pensar, para resgatá-lo do inferno que é viver todo santo dia sem nenhum assombro, sem nenhum encantamento”.


Estava totalmente desmotivada para escrever a “coluna” de hoje, quando me lembrei desse trecho em especial do livro. Faço poesia para dar vazão a sentimentos trancados; na verdade, para provocar os meus próprios sentidos e, conseqüentemente, para tentar alcançar a alma daqueles que me lêem. Mas faço para mim prioritariamente. É outra arte que não sei fazer por encomenda.


Faço poesia desde pequena. Começou com versinhos e riminhas. Fui completando letras. Chegou a fase da adolescência, onde tudo que me parecia efêmero era tratado em forma de poesia: a arte de esconder o óbvio. Foi nessa época, inclusive, que vi acontecer algo tipicamente diferente...


Estudei em colégio de militares. Tinha um professor de matemática e física que se chamava Coronel Braga. Fora de sala de aula ele mantinha um rigor típico de quem pertence às Forças Armadas. Dentro, no entanto, ele revelava uma face adorável, era um bonachão. A turma era pequena, nada além de 25 meninas. Isso mesmo: uma turma só de mulheres. Ele estava cobrindo um “buraco” por falta de alguém mais indicado para a posição. Nós, claro, fazíamos de tudo para que ele não ministrasse a aula. Com o sem ele, a sensação era a de que a gente não ia aprender nada mesmo.


Apesar de atrapalhado, ele era fascinado pela arte de ensinar. E sabe como a gente via isso? No fim de cada aula (ou da tentativa de ensinar alguma coisa), ele lia uma de suas poesias pra gente. O homem era poeta e já tinha trabalhos publicados. Ali era o momento dele, porque todo mundo parava para escutar e batia palmas ao final de cada leitura. O velhinho ficava encantado. Era tão bonito de ver... Ali a alma dele ganhava eco e ele não precisava ser o cara durão. A platéia do Coronel Braga o “resgatava do inferno que é viver todo santo dia sem nenhum encantamento”.


Antes de terminar o ano, ele me deu um livro de coletâneas poéticas, na qual havia publicado um dos seus trabalhos, e disse: “se não puder fazer um livro inteiro, faça a sua poesia fazer parte”. Minha poesia é parte indizível de mim. Agora também do BibideBicicleta e da blogosfera.

Um comentário:

Ana Martins disse...

Bia, eu tb escrevo desde menina... Lamento profundamente ter rasgado TUDO há muito tempo, por vergonha.... Rs (que droga!!!).
E insônia minha tb costuma ser inspiração latente... / vai pro Facebook falar do teu blog, de tu!!! Rs e bjos