22.3.15

fera enjaulada

Li essa notícia no Jornal Extra, do Rio, nesse fim de domingo chuvoso. Tinha ouvido por alto, na TV, mais cedo... Mas só escutei sobre um incêndio causado por um prato elétrico e não sobre as vítimas... Pessoas mudam tudo.






Não sei nem precisar, medir, imaginar que tipo de dor é essa. "Perdi tudo", ele diz. Chorei lendo a matéria. Penso na história de Jó, da Bíblia, e lembro que ele perdeu tudo, mas foi restituído. "Mas os 10 filhos que se foram devem ter deixado marcas que não se apagam" - eu teimo em pensar. "Nem outros 10 filhos apagam os que já foram. Amenizam, mas será que apagam?" - sigo a refletir, sem chegar a uma conclusão. Coisas são restituídas. Pessoas mudam tudo. 

Então, me acho pequena. Carrego comigo as minhas dores, mas as dores não só minhas. Suas dores não são só suas, embora o sofrimento pareça nos tirar a capacidade da percepção do outro. Ou da possibilidade de semelhante agonia. Até que a gente encontre um lugar (para ela).

 Escondo as minhas dores de mim mesma, momentaneamente, para me solidarizar com a dor do outro. Um outro que nem conheço. E com outros, tão mais perto. Redimensiono algumas questões internas, mas o que incomoda sempre volta a nos lembrar do tamanho da nossa fragilidade. A inconstância da vida. Nossa transitoriedade. 

As nossas dores sempre parecem doer um pouco mais, porque as cultivamos internamente como bichos de estimação por muito tempo. Há quem não mais se reconheça sem a presença escura e fria de certas dores. Há dores que formam - ou deformam - o caráter de alguém. Distorcem o íntimo, quando não elaboradas. Acontece que dores são feras selvagens enjauladas: estão sempre prontas para nos devorar...

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