26.10.07

Lágrimas e Chuva



Essa semana de trabalho termina com meus últimos suspiros. Parece que estou sem fôlego. A velocidade dos acontecimentos é frenética e a gente desperdiça um tempo precioso de observação e análise, de aprendizado e compreensão. De evolução. Perdi horas no caótico trânsito do Rio, o que muito me irritou. Mas também foi a oportunidade de pensar na nossa fragilidade diante da força da natureza que trouxe o caos à cidade.
Choveu, o Rio pára, o trânsito pára, a vida estaciona e fica boiando nesse mar de incertezas. A empregada da minha tia perdeu muita coisa, já que sua casa foi inundada. E chegou ao trabalho rindo, contando a trágica história como se fosse um “causo”. Aquilo me chocou e até deu raiva, porque julguei a sua atitude como displicente. Até pensar que numa vida considerada miserável e previsível, aquele evento a tirou da inércia da existência e a tornou protagonista de seu próprio destino. Triste destino. Ela estava feliz por ter salvo a vida das filhas e a sua própria. Disse que na rua passara um corpo boiando. Assim sendo, mesmo tendo perdido tudo, ela estava no lucro. A minha sensação foi de total estranheza em relação aos meus sentimentos de posse, de consumo, do valor que damos a coisas tão sem importância ou significado. Ainda me sinto confusa em relação aos acontecimentos.



Um dia após a enchente, fiquei horas em um engarrafamento em direcção à Barra da Tijuca no carro da empresa. Para amenizar a irritação com o tumulto lá fora, começamos um animado papinho. Ao olhar para o lado, percebo que estamos ladeados por uma carroça. Um cavalo puxava seu dono, que protegido por um plástico vagabundo carregava o que pareciam caixas de papelão. A cena era inusitada. Pior ficou, quando percebemos que a carroça andava mais rápido que o nosso carro. E o cavalinho, resignado, se comportava como um lord em meio àquela confusão, seguindo o destino para o qual havia sido preparado. Pensei que não basta ter as melhores ferramentas, na verdade você tem que estar preparado para enfrentar as situações que se apresentam. Com criatividade, de preferência. Em um engarrafamento, anda mais quem escolhe a melhor fila. Ponto final.


Para acompanhar a salada de hoje, a música Lágrimas e Chuva do Kid Abelha.

Eu perco o sono e choro
Sei que quase desespero
Mas não sei por quê

A noite é muito longa,
Eu sou capaz de certas coisas
Que eu não quis fazer.
Será que alguma coisa,
Nisso tudo, faz sentido?
A vida é sempre um risco,
Eu tenho medo do perigo.

Lágrimas e chuva
Molham o vidro da janela
Mas ninguém me vê
O mundo é muito injusto
Eu tô plantando os meus problemas
Que eu quero esquecer

Será que existe alguém
Ou algum motivo importante
Que justifique a vida
Ou pelo menos este instante

Eu vou contando as horas
E fico ouvindo passos
Quem sabe o fim da história
De mil e uma noites
De suspense no meu quarto.

24.10.07

O Jardim Secreto


Gosto de ditos populares. Uma vez até comecei a escrever aqueles dos quais lembrava em um caderninho. Uma tentativa tolinha de bater o recorde mundial de colecionadores de frases estranhas das quais a gente não quer ou não deve esquecer. E quem não se lembra de pelo menos uma centena deles? Tema para mesa de bar... O hábito de registrar os, digamos, vernáculos já era um indício de que queria conhecer o povo para falar com ele ou pra ele. Se o momento de agora valesse um ditado, puxaria do realejo da memória:
“O hábito do cachimbo deixa a boca torta”.
E não falo aqui apenas do hábito de escrever para o blog, que está virando um doce veneno, mas do método que tenho para realizar tal tarefa. Hoje, como não escrevo do escritório, sinto uma falta estranha do “entorno” e me bate a insegurança de saber se o texto final seguirá ou não o seu nobre propósito. Acho que a gente acaba cumprindo determinados papéis quando estamos em lugares específicos. O cérebro reconhece tempo, espaço, cheiro, barulhos característicos... Tem certos lugares que deixam essa marca na gente. Tenho a fotografia mental do lugar onde fui criada, sei o cheiro da cantina do colégio, quando escuto certas músicas, minha mente viaja automaticamente ao parque onde trabalhei – e ouvia diariamente a mesma seleção de canções. Coisas que ao invés de me fazerem pirar, despertam o melhor de mim. Tem gente que também tem esse dom, de deixar marcas como um DNA da alma que nem tempo e nem espaço apagam. Muita gente desperta o que há de melhor em mim e deixa seu perfume sem nem mesmo fazer esforço para tal. E em relação a carinho, a progressão é necessariamente geométrica. E o perfume se espalha generosamente. Durante o final de semana, quase me desidratei de tanto chorar com o programa do Teleton, que completava 10 anos. A sensação é de que diante de tantos casos de crianças que lutam pela superação de suas limitações, somos pessoas pequenas, que subaproveitam o seu próprio “entorno”. Se a sua própria vida fosse um jardim, como ele estaria sendo cuidado hoje, agora? Espalharia ele um doce perfume? Seria abrigo para aqueles que querem se deleitar da melhor paisagem que podem encontrar? Ser o melhor para o outro é também ser o melhor que você pode ser para si mesmo. Se o entorno não vai bem, as flores também murcham... Deixo como destaque a frase de um dos meus filmes favoritos: O Jardim Secreto (1993)


“O feitiço foi quebrado. Meu tio aprendeu a rir e eu aprendi a chorar. O jardim secreto está sempre aberto agora. Aberto, e desperto, e vivo. E se você perceber da maneira correta vai notar que o mundo inteiro é um jardim”.

23.10.07

Colcha de Retalhos



Tem certos dias que a gente se pega pensando em um assunto que não tem nada haver com o que realizamos, vimos ou pretendemos fazer. Hoje estou pensando em colcha de retalhos. Mas para tudo existe uma história, uma explicação, que pode servir como base. Ou é apenas devaneio mesmo! rsrsrsrs
A primeira colcha de retalhos que vi na vida estava na minha própria casa. Foi feita pela minha avó e como todas as coisas feitas por vovós, ela tinha cara e consistência de carinho. Não convivi muito com a minha avó, mas cada uma de suas histórias tem um peso extra para mim. Foi uma mulher guerreira, sem dúvida, mas acima de tudo uma mulher cheia de contradições. Como a maioria de nós. Ela fez aquela colcha e meus pais usavam até que ela se tornou muito MINHA. Achava muito interessante ficar olhando a combinação de seus recortes, a linha grossa, vermelha, costurada num ziguezague xadrez, que passava por cima de cada junção. Não tinha forro. Usei até rasgar. Aliás, até que se desfizesse, porque até cheia de buracos eu usava! Forrest Gump disse que
“a vida é como uma caixa de chocolates, que a gente nunca sabe o que vai encontrar dentro dela”.




A vida também é como uma colcha de retalhos, que a gente só termina, quando acaba. Sem redundância alguma nessa sentença. A colcha de retalhos é a metáfora da nossa própria vida, somos feitos de muitas partes e estas formam o todo. Somos costurados às coisas, fatos e pessoas através de linhas tão finas, muitas quase imperceptíveis. Cada fração de momento é de um tamanho, padrão, textura e cor. Cada qual com sua importância e peso. Somos feitos de muitos pedaços, de muitas matérias. Somos a união da lembrança daquilo que se foi, esperando pelo próximo pedaço, que é a esperança daquilo que virá a ser. Somos o costureiro da nossa própria história, responsáveis por pontos que ferem, que deixam marcas, que alegram, que deixam coloridos registros. Lembrei da minha avó, porque estava arrumando a tal “gaveta das lembranças” e achei um cartão que ela me mandou por correio quando eu fiz cinco anos e estava aprendendo a ler. Minha avó não era dada a demonstrações de carinho explícito, mas se preocupou em deixar esse retalho construtivo que me acompanha há tanto tempo. Eu nem me dava conta de que aquele cartão existia, até precisar revisitá-lo. E pequenos retalhos tem o poder incrível de te tirar da inércia dos sentimentos, do conformismo da falta de poderosas conexões. Somos ligados ao passado pela força do presente que vivemos e do futuro que plantamos para nós. Minha avó teve dez filhos – ficou viúva aos quarenta e poucos e os criou sozinha - e um sem número de netos e bisnetos. No fim da vida, já não se lembrava do meu nome e me chamava apenas de menina. Tem horas que penso que ainda sou aquela menina, costurando a sua colcha de retalhos. E quando olho para a minha cama, vejo que ela, a menina, é real, já que repousa sobre ela uma nova colcha de retalhos. Não mais aquela feita pela minha avó, mas definitivamente uma feita da lembrança daquilo que me é mais caro. Quero que a minha colcha de retalho tenha a cara de cada um que aquece o meu coração ao longo da vida.


22.10.07

Pedala!










Uma homenagem ao blog! Um brinde à vontade de sair por ai, sem rumo, sem destino, em direção ao sol. Esse charmoso ensaio nas ruas de Paris foi uma gloriosa colaboração "chupada" do site www.uol.com.br

19.10.07

SOLTAS



PAULO AUTRAN - Não posso deixar de registrar a minha impressão em relação à morte de Paulo Autran. Posso dizer que fiquei muito emocionada com a manifestação de carinho de tanta gente que a gente aprendeu a gostar. Quando um mestre se vai, fica a sensação de que deixei de aprender algo. Então me lembrei do dia em que estive com a Fernanda Montenegro e ela comentou sobre uma foto dos dois em cena:
“Eu e Paulo Autran em Guerra dos Sexos. Guardo boas lembranças desse trabalho. A cena das ‘tortas na cara’ foi uma grande brincadeira séria. Como nós permanecemos em cena depois de 50 anos, é natural que sejamos mais representativos. Minha geração vai sobrevivendo às modas e aos verões.”


Diante disso, fico com saudade de uma geração que nem é a minha. Eu mesma acho que não pertenço à minha geração. Não sou do tipo que dá o último grito da moda ou lança tendências. Também porque sempre que uma geração acima começa, naturalmente, a desaparecer, fica aquela sensação estranha de que o tempo passa rápido demais...Lembrei-me de Raul Cortez e de como nossos poucos encontros sempre foram mágicos...
mas essa é uma outra história.




JOGO DO BRASIL – A quarta-feira foi bem especial. Assisti ao jogo do Brasil X Equador praticamente dentro de campo! Ok, exagero, coisa normal de quem se empolga. Porém, eu estava tão perto dos jogadores, que era essa a sensação. Podia até xingar o juiz e ser ouvida! Que perigo!!! O Maracanã estava lindo, lotado, todos na mesma energia. Ôla com as bandeiras e eu no camaroteda CBF. Esses momentos ficam guardados na pasta do “vale a pena lembrar”. E sempre vale a pena lembrar do que foi bom, mesmo que tenha durado tão pouco!
AHA, UHU! O Maraca é nosso! AHA, UHU!

Sarah e Kahlo




Essa nota é complementar ao texto anterior. Não é a primeira vez que Frida passa pela minha vida, deixando sua colorida marca registrada. Meses atrás eu conheci uma pessoa muito especial, a Sarah Oliveira, do Video Show. Ela é fanática pela Frida e sua influência pode ser comprovada por toda a decoração de seu apartamento. A história da Frida é uma história marcada pela dor e a Sarah é a pessoa mais luminosamente alegre que conheci ultimamente. Ela me disse: “Acho que a gente aprende sofrendo com a dor do outro também”. Essa é uma verdade inequívoca. Ela também me mostrou sua frase preferida na biografia de Frida - Essa frase é definitiva na minha vida, assim como a minha admiração pela Sarah:
"É belo o que é belo interiormente".



Dados Biográficos:
Batizada como Magdalena Carmen Frida Kahlo y Calderón, a pintora mexicana Frida Kahlo nasceu na cidade de Coyoacán em 6 de julho de 1907 e morreu na mesma cidade em 13 de julho de 1954. Em 1910, Frida contraiu poliomielite, sendo esta a primeira de uma série de enfermidades, acidentes, lesões e operações que sofre ao longo de sua vida. A partir disso ela começa a usar calças, depois, longas e exóticas saias, que vieram a ser uma de suas marcas registradas. Aos 18 anos, ela sofreu um grave acidente, quando o ônibus no qual viajava chocou-se com um bonde, acidente que a fez ter que usar um colete de gesso por muito tempo. Por causa disso, ela fez várias cirurgias ao longo da vida, passando boa parte dela presa em uma cama. Durante sua longa convalescência é que começa a pintar, especializando-se em auto-retratos.
“Eu pinto-me porque estou muitas vezes sozinha e porque sou o assunto que conheço melhor”.
Ela mostrou na tela as suas angustias, vivências, medos e principalmente seu amor pelo marido, Diogo Rivera - o pintor mexicano mais importante do século 20 –, com o qual se casou em 1929. Em 1930, viaja para os EUA, onde tinha trabalhos e exposições. Frida, mais mexicana do que nunca, chocava a todos com suas roupas, risos e gestos. Descobria-se uma forte e desejada mulher. Em um ano (1950-1951), passa por sete operações na coluna, que infeccionam, graças ao colete de uso obrigatório. Em 2 julho de 1954 participa, em cadeira de rodas, da manifestação contra a intervenção americana na Guatemala. Frida Kahlo viveu como Diego recomendou:

"Pega da vida tudo o que ela te der, seja o que for, sempre que te interesse e possa dar certo”.
Ela costumava dizer que “a tragédia é o mais ridículo que há” e “nada vale mais do que a risada”. Na madrugada de 13 de julho de 1954, Frida, com 47 anos, foi encontrada morta em seu leito.

Comprovação Empírica

Ontem, de certa forma, tive uma comprovação empírica de que a vida é mesmo feita de uma sucessão de impressões, sejam elas comprovadas ou não. Melhor que fossem. Assim, portanto, pensei, somos sujeitos a novos julgamentos e mudanças de postura e atitude uns sem números de vezes durante a nossa “jornada”.

Esse pensamento foi o resultado obtido após assistir à peça Frida, com Rosamaria Murtinho, em cartaz no Teatro Villa-Lobos. Não tenho a ousadia de querer expor a minha opinião como se ela fosse especializada, mas tal foi a minha surpresa, que vale o registro. Rosamaria Murtinho vira um gigante nos palcos. Minha idéia era de que ela era uma boa atriz em papéis coerentes até perceber como a TV tem sido injusta com ela. Essa mulher em cena é de tirar o fôlego. Sua Frida é perfeita em cada intenção e você acredita que ela pode ser feia e absolutamente sedutora, ela brinca de ser menina, de ser mulher, de ser apenas um pensamento de si mesma. E você acredita, se deixando levar com facilidade. Sua colocação vocal é um show à parte. Respirar, expirar, transpirar... você fica hipnotizado. E toda aquela minha vontade de atuar, acaba se tornando apenas um desejo de ser outras pessoas parecidas com ela. A Rosinha faz toda a diferença inclusive quando, em determinado momento, fica com os seios à mostra, para que a personagem coloque um colete, após um traumático acidente. Gente, que peito é aquele!? Aos 72 anos, essa mulher coloca muita gente no chinelão! Na pantufa! Descalço, ou coisa que o valha! MARAVILHOSA! Virei fã! O destaque vai para o comentário “sem-vergonha” de seu marido, Mauro Mendonça, ao fim do espetáculo: “Fiquei muito satisfeito quando ela se despiu. Dá pra ver o trato que eu dou e como sou feliz! As pessoas agora podem dizer que eu sou o bom”, brincou. hahahahahahha

Ah! Meu carro é vermelho
Não uso espelho pra me pentear
Botinha sem meia
E só na areia eu sei trabalhar
Cabelo na testa sou o dono da festa
Pertenço aos dez mais
Se você quiser experimentar
Sei que vai gostar
Quando eu apareço o comentário é geral
Ele é o bom, é o bom, é o bom demais
Ter muitas garotas para mim é normal
Eu sou o bom entre os dez mais

Ele é o bom, é o bom, é o bom

18.10.07

Vamos Pular?



A versatilidade de um blog é sem limites. Ou melhor, a fronteira dele é a criatividade e a vontade de quem o faz. E a idéia desse aqui não é apenas correr atrás das digitais da alma humana e/ou fazer elucubrações. Quero poder descobrir e compartilhar instantes, detalhes e informações.

Estava revendo meu arquivo de fotos e encontrei um ensaio de Philippe Halsman. Então esse é o momento Guia dos Curiosos. Esse fotógrafo nasceu na Letônia e com a sua Rolleyflex registrou os maiores ícones do século 20, até a sua morte em 1979. O interessante do trabalho dele é que sempre terminava seus ensaios pedindo para que o fotografado pulasse, o que virou uma de suas marcas registradas. E assim se tornou o mestre da “ciência do pulo” (jumpology), como ele mesmo definiu. Seu legado é muito maior que sua jam session saltitante, mas é muito divertido ver que na hora do pulo, toda e qualquer máscara cai. Fica o ato em si – divertidíssimo, por sinal – naquele momento decisivo. Coisas simples divertem mais que muitos eventos super elaborados! Aí vão alguns pulos de Halsman e outros saltos da vida, por mim selecionados. Para acompanhar o brinde, Vamo Pulá?











Só quem consegue sentir essa magia
Transforma qualquer lugar em alegria
E quando você pula, pula até suar
E não se cansa é pura adrenalina no ar

Vamo pulá, vamo pulá, vamo pulá, vamo pulá
Vamo pulá, vamo pulá, vamo pulá, vamo pulá
Vamo pulá, vamo pulá, vamo pulá, vamo pulá
Vamo pulá, vamo pulá, vamo pulá, vamo pulá
- Sandy e Junior


17.10.07

Aposta nas Pessoas

O desafio de se ter um blog é encontrar o assunto perfeito para cada dia. Ter a inspiração sempre afiada, colocando em harmonia instinto, alma, criatividade, vontade, percepção e uma dose de crítica, que para mim funciona como uma espécie de veneno destilado. De certa forma, viver é também seguir essa premissa. Leila Pinheiro canta em Serra do Luar:
“Tudo é uma questão de manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranqüilo”
. Além disso, é preciso organizar melhor o pensamento, para que tudo aquilo a que se propõe saia de forma coerente e inteligível. Organizar o pensamento requer tempo, esse senhor misterioso que parece nos roubar um pedaço do dia ou uma fração da nossa própria existência.
Escrever tem sido libertador. Receber mensagens (feedback das pessoas) sobre o tema proposto no blog tem me ensinado demais, além disso aproveito para reafirmar importantes parcerias. Gosto de pensar na idéia de movimento. Quando partimos para a realização de alguma coisa, resultados são sempre esperados. E estes nos ensinam, nos revelam, nos expõe. A idéia de ficar parada, só me agrada se for num momento de busca interior ou descanso merecido. Toda ação gera uma reação e assim crescemos.




Dia desses, minha mãe leu uma passagem da Bíblia para mim que se encontra em João 15: 1-2: “Eu sou a videira verdadeira e o meu Pai é o agricultor. Todo o ramo que estando em mim, não der fruto, Ele o corta; e todo o que dá fruto, limpa, para que produza mais fruto ainda”. Quem foi criado na igreja, sabe que esse é um trecho pelo qual passamos diversas vezes. O interessante é notar que em cada fase da vida, a gente fica mais preparado para observar novas lições. Dessa percebi algo básico, mas ainda impensado. Não importa se você erra ou acerta. Toda lição traz em si um aprendizado que transforma. Se você dá fruto, a vida vai te impor situações que te façam crescer. E crescer nunca é fácil, porque passamos pela dor do aprender. Se erramos, esse corte é ainda mais dolorido, porque serão lições que deixam marcas. Existem certas marcas que a gente nega, mas elas sempre estarão lá para mostrar que o caminho do crescimento é inevitável. E o verbo crescer deveria andar colado ao amadurecer, mas nem sempre é assim. E ao amadurecer, a gente não devia deixar que a criança que existe em nós se apagasse. Queria poder manter em mim esse vento de espírito jovem, essa curiosidade infantil em relação ás coisas, essa espécie de encantamento em relação ao ser humano. Essa semana me definiram com a seguinte frase: você é uma pessoa que aposta nas pessoas. E quero crer que somos muito maiores e mais interessantes que as barreiras que o mundo impõe, que os limites que a vida oferece, que as correntes que a dor amarram.



Por tanto amor
Por tanta emoção
A vida me fez assim
Doce ou atroz
Manso ou feroz
Eu caçador de mim

Preso a canções
Entregue a paixões
Que nunca tiveram fim
Vou me encontrar
Longe do meu lugar
Eu, caçador de mim

Nada a temer senão o correr da luta
Nada a fazer senão esquecer o medo
Abrir o peito a força, numa procura
Fugir as armadilhas da mata escura

Longe se vai
Sonhando demais
Mas onde se chega assim
Vou descobrir
O que me faz sentir
Eu, caçador de mim
- Caçador de Mim, Milton Nascimento


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* Luke tem contribuído com e-mails maravilhosos e músicas incríveis. Esse blog devia ser um blogg.

16.10.07

Mais do Mesmo



O que seria de mim sem os meus amigos? O que seria de você sem os seus? Já parou para pensar nisso? Mesmo?! Estou começando o texto de hoje meio questionadora, meio desafiadora. Uma forma de interação e de superação interior. Quero bagunçar o óbvio e buscar mais do mesmo.

Comecei o dia prático – porque o meu dia começa horas antes com um ritual meio grego, meio bizarro para sair de casa – recebendo um monte de e-mails tão maravilhosos sobre a reestréia com cara de estréia do blog. Fiquei como?! Pisando em nuvens e comendo caramelo. Agradeci a Deus por cada palavra, porque estas me fazem querer seguir em frente – com o blog, com a escrita, com a vida. Fiquei cheia de idéias e comecei o texto com um tema totalmente diferente do programado. A vida surpreende. Que bom! Esse é o melhor passeio de bicicleta que tem: caminhos conhecidos, paisagens surpreendentes.

Palavras de amigos tem peso extra, para o bem e para o mal. O que seria de você sem os seus amigos? Família é coisa que a gente não escolhe, ama-se como se fosse um doce legado. Amargo as vezes, eu sei. Amigos são a família que a gente escolhe, que a vida oferece como presente. Cabe a você usar de forma coerente esse presente ou deixá-lo num canto, fora da vista, sem uso. O que você tem feito pelos seus amigos? O que você tem deixado eles fazerem por você? As pessoas perderam o trato, a delicadeza, a suavidade no “ofertar-se” nas relações. As pessoas pararam de sonhar juntas, de acreditar que tudo é possível. Até o impossível. As pessoas se cansam umas das outras e partem em busca daquilo que lhes parece novo. Sempre mais do mesmo. Quase sempre menos de si mesmo. É muita pretensão querer ser definitivo, mas quero crer que posso um momento inesquecível, uma doce lembrança, uma palavra na hora certa, uma mão em forma de carinho, uma abraço. Não porque faça força para isso ocorrer, mas porque tento fazer a minha parte para acreditar que sonho que se sonha junto é realidade. Não podemos deixar que a velocidade dos acontecimentos, o tempo sem tempo nos roube o que nos é mais caro, nos tire a ternura.

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
Fernanda Pessoa


Tudo vale a pena se a alma não é pequena. Se os sonhos não são pequenos ou travados pelo medo de viver. Porém, se você quer ir além daquilo que se espera, se quer passar além do Bojador, tem que passar além da dor. Porque o mar, perigoso e desconhecido, também é o paraíso. Só precisamos ter coragem de ir além do óbvio. É a vida.

Meu amigo Luke diz: “acho que ninguém mais consegue receber a mesma notícia boa duas vezes, sendo ela nova as duas vezes”. O amor faz do mesmo, o diferente, especial. A gente só tem que estar preparado para receber amor. Muitos só acham que sabem dar. Muitos acham que não merecem receber. A “D” complementou perfeitamente a questão: “se ainda não temos meios para mudar certas coisas, tiremos o proveito possível delas”. Ou seja, se não dá para mudar radicalmente a postura em relação à vida, seus amigos, suas escolhas, viva o hoje da melhor maneira possível. O caminho é feito de muitos passos, mas é preciso dar o primeiro. “Bora?”

15.10.07

Meu Mundo e Nada Mais




Passei anos dizendo a mim mesma que "ainda teria um blog". Um dia, me animei, escolhi o shape, fiz as primeiras postagens, mas o que teria tudo para virar uma cachaça, acabou escondido na gaveta do esquecimento. Aquela que fica guardada numa galáxia bem distante. Far far away. E lá se foi um ano inteiro guardando coisas que achava interessante para esse tal futuro blog. Tem certas coisas na vida que a gente julga importante, mas se não está na pasta do "em cima da hora-agora", a gente deixa pra lá. E assim, corre um rio sem fim. Um rio chamado vida. E se vida é aquilo que acontece enquanto a gente respira, pra que deixar tanta coisa para depois?
Hoje, recebi um e-mail de um amigo que conseguiu manter o blog dele por três anos no ar. Praticamente um herói da resistência! Então me lembrei da música de Frank Sinatra Let Me Try Again e resolvi acreditar que na vida a gente tem tantas chances quanto aquelas que a gente mesmo se dá. Então, Let Me Try Again.
Poucas coisas me tocam mais que música. Sendo considerada brega ou não, a questão é bem subjetiva, ou as letras me comovem, ou a melodia me embala, empolga. Quando as duas estão em sintonia, formam uma dupla imbatível. Sempre encontramos uma trilha sonora perfeita para todo e qualquer momento vivido. Ontem redescobri Guilherme Arantes no programa do Chico Pinheiro na GloboNews. E, como faço diariamente, encontrei numa de suas canções uma frase para abrir o meu MSN. Queria saber compor, queria poder dizer algo assim, em letra e melodia:


Meu Mundo e Nada Mais:



Quando eu fui ferido
Vi tudo mudar
Das verdades
Que eu sabia...

Só sobraram restos
Que eu não esqueci
Toda aquela paz
Que eu tinha...

Eu que tinha tudo
Hoje estou mudo
Estou mudado
À meia-noite, à meia luz
Pensando!
Daria tudo, por um modo
De esquecer...

Eu queria tanto
Estar no escuro do meu quarto
À meia-noite, à meia luz
Sonhando!
Daria tudo, por meu mundo
E nada mais...

Não estou bem certo
Que ainda vou sorrir
Sem um travo de amargura...

Como ser mais livre
Como ser capaz
De enxergar um novo dia...

Eu que tinha tudo
Hoje estou mudo
Estou mudado
À meia-noite, à meia luz
Pensando!
Daria tudo, por um modo
De esquecer...

Eu queria tanto
Estar no escuro do meu quarto
À meia-noite, à meia luz
Sonhando!
Daria tudo, por meu mundo
E nada mais...




Meu estado de espírito atual não tem nada haver com fossa. Mas amei a frase que diz: “Quando fui ferido, vi tudo mudar das verdades que eu sabia” e “Não estou bem certo se ainda vou sorrir sem um travo de amargura”. Esse cara é genial! Porque a dor ensina muito mais que o sorriso e todo aprendizado transforma.

É, né? Ainda assim parece fossa...(rs)Devo estar contagiada pela notícia de que o grande Manoel Carlos – esse cara é do gênero: quando crescer, quero ser como ele – está escrevendo uma minissérie sobre a cantora Maysa, considerada a rainha da fossa, mãe de Jayme Monjardim, que adoro. Li a notícia e ainda não consegui decidir se gostaria de interpretá-la ou de escrevê-la. Sonhos, devaneios e delírios de uma mente viajante. Normal, afinal,
Tostines vende mais porque é fresquinho ou é fresquinho porque vende mais?