Essa semana de trabalho termina com meus últimos suspiros. Parece que estou sem fôlego. A velocidade dos acontecimentos é frenética e a gente desperdiça um tempo precioso de observação e análise, de aprendizado e compreensão. De evolução. Perdi horas no caótico trânsito do Rio, o que muito me irritou. Mas também foi a oportunidade de pensar na nossa fragilidade diante da força da natureza que trouxe o caos à cidade.
Choveu, o Rio pára, o trânsito pára, a vida estaciona e fica boiando nesse mar de incertezas. A empregada da minha tia perdeu muita coisa, já que sua casa foi inundada. E chegou ao trabalho rindo, contando a trágica história como se fosse um “causo”. Aquilo me chocou e até deu raiva, porque julguei a sua atitude como displicente. Até pensar que numa vida considerada miserável e previsível, aquele evento a tirou da inércia da existência e a tornou protagonista de seu próprio destino. Triste destino. Ela estava feliz por ter salvo a vida das filhas e a sua própria. Disse que na rua passara um corpo boiando. Assim sendo, mesmo tendo perdido tudo, ela estava no lucro. A minha sensação foi de total estranheza em relação aos meus sentimentos de posse, de consumo, do valor que damos a coisas tão sem importância ou significado. Ainda me sinto confusa em relação aos acontecimentos.
Um dia após a enchente, fiquei horas em um engarrafamento em direcção à Barra da Tijuca no carro da empresa. Para amenizar a irritação com o tumulto lá fora, começamos um animado papinho. Ao olhar para o lado, percebo que estamos ladeados por uma carroça. Um cavalo puxava seu dono, que protegido por um plástico vagabundo carregava o que pareciam caixas de papelão. A cena era inusitada. Pior ficou, quando percebemos que a carroça andava mais rápido que o nosso carro. E o cavalinho, resignado, se comportava como um lord em meio àquela confusão, seguindo o destino para o qual havia sido preparado. Pensei que não basta ter as melhores ferramentas, na verdade você tem que estar preparado para enfrentar as situações que se apresentam. Com criatividade, de preferência. Em um engarrafamento, anda mais quem escolhe a melhor fila. Ponto final.
Para acompanhar a salada de hoje, a música Lágrimas e Chuva do Kid Abelha.
Eu perco o sono e choro
Sei que quase desespero
Mas não sei por quê
A noite é muito longa,
Eu sou capaz de certas coisas
Que eu não quis fazer.
Será que alguma coisa,
Nisso tudo, faz sentido?
A vida é sempre um risco,
Eu tenho medo do perigo.
Lágrimas e chuva
Molham o vidro da janela
Mas ninguém me vê
O mundo é muito injusto
Eu tô plantando os meus problemas
Que eu quero esquecer
Será que existe alguém
Ou algum motivo importante
Que justifique a vida
Ou pelo menos este instante
Eu vou contando as horas
E fico ouvindo passos
Quem sabe o fim da história
De mil e uma noites
De suspense no meu quarto.
Um comentário:
Eu sempre escolho a fila maior!!!! Deve ser karma. he he he
Mas concordo com você: esses momentos de tensão são perfeitos para a reflexão.
"Eu vou contando as horas. E fico ouvindo os passos..."
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