27.12.07

Porque é Natal



¨O mesmo torna-se infinitamente melhor quando alteramos a nossa percepção sobre os fatos ou as coisas. Essa é a melhor forma de resumir o meu Natal de 2007. Tem muita gente que fica extremamente deprimida nessa época do ano. Existem outros que não vêem o menor sentido nas comemorações. Há ainda os que apenas observam o lado comercial da festividade, para o bem e para o mal – os que só pensam no presente e os que dizem que os outros só pensam no presente e que por isso não vale festejar. Também existem aqueles que resolutamente se isolam, como se pudessem dar menor sentido à ocasião, tentam ignorar a data, para na verdade conseguir mascarar os seus próprios sentimentos. Ou a falta deles. Até o meio da adolescência eu fazia parte do grupo que simplesmente amava o Natal e contava os dias para as comemorações.



Minha família inteira se reunia e os “agregados” – como chamávamos os “quase parentes” – também chegavam com a sua alegria e seus presentes. Às vezes vinham só com a barriga e uma boa gargalhada para emoldurar a noite. Certas vezes chegávamos a ter quase 40 pessoas dentro de um apartamento. A confraternização era universal, pode-se dizer. Meus primos judeus também vinham e traziam seus amigos da mesma religião para celebrar e não foram raras as vezes em que vi o pai deles entrando feio na carne de porco. Porque era Natal tudo valia, tudo era permitido.
Lembro com alegria das vezes em que eu e meus primos fazíamos teatrinhos para a família. Era a maior festa. Dias de ensaio antes, dias de intensa alegria. A grande apresentação era pontuada pela gargalhada das “tias” velhas, que torciam por erros e improvisos – a chance da galhofa – e nós, crianças, esperávamos por elas, as gargalhadas, como bebê que espera pelo leite da mãe. Mamávamos gargalhadas. Ávidos pelas próximas e pelos aplausos ao fim da apresentação. O ponto alto de todos os tempos foi a peça Bia de Neve e os Dois Anões. Por falta de quorum, claro, os anões eram apenas dois (Mestre Ricardo e Dunga Danilo) e um deles ainda interpretava o espelho, espelho meu... E não dizem que o povo brasileiro é criativo? A inflação atingiu até a nossa versão do conto infantil.



Como em toda verdadeira história infantil, seus personagens foram crescendo. E o Natal que era totalmente mágico, começou a dar mostras de realidade. O valor dos presentes e a falta deles começaram a pesar. As crenças que eram uma ponte tornaram-se abismos. Os sentimentos passaram a ser compreendidos em sua forma real. Crescer é também compreender e a compreensão traz junto a si uma realidade nem sempre justa ou agradável. O número de pessoas foi diminuindo na mesma proporção que a minha tristeza foi aumentando. Passei a ser daquelas pessoas que odiavam o Natal, porque ele se tornou símbolo de quem não estava mais lá. Pior se tornou quando quem ficou passou a ser apenas uma lembrança e não uma doce presença. A saudade aperta nessa época do ano.


Como diria Rita Lee: “um belo dia resolvi mudar e fazer tudo o que eu devia fazer”.
Foi no ano passado. Uma das minhas tias tinha poucos dias de vida e eu resolvi fazer daquele Natal o mais especial possível para ela. À meia-noite, quando demos as mãos para orar, pedi para que uns olhássemos para os outros. O motivo de gratidão é que a nossa família estava junta, celebrando aquele momento. Quem não estava ali não importava, pois tínhamos uns aos outros. Em menos de um mês essa tia partiu (um dia eu conto essa linda história). Nesse Natal eu fiz questão de me lembrar dela, tia Norma. Na hora da prece, lembrei que ela estivera conosco no ano passado e que sempre estaria entre nós, porque seus exemplos ficaram e sua essência nunca morreria nas nossas lembranças. Disse que família é um laço instituído por Deus. E que no Natal, com o nascimento de Jesus, passamos a chamar Deus de Pai e a ter com Ele essa relação mais próxima. Nesse Natal, éramos apenas nove pessoas. As nove pessoas mais especiais de uma vida inteira.

8 comentários:

Anônimo disse...

Que lindo... viajei Bia... me senti dentro da sua casa em cada linha lida... assisti a peça de vcs.. e olhei seu tio comendo carne de porco... Seu texto é vida. Feliz Natal pra vc (mesmo q atrasado) e um Ano Novo divertido pra vc. Te amo.

Bibi disse...

HOHOHO! rsrsrsrrss Vamos ver o que o Ano Novo me reserva! Anonimo, o que seria de mim sem os seus posts?...

Anônimo disse...

Seus sentimentos pelo Natal são os mesmos que os meus! Você conseguiu transpor às palavras tudo o que sentia do Natal nestes últimos anos. Só completaria com uma coisa: nos últimos anos eu "buscava" dentro de mim recriar ao meu redor a "magia" do Natal, mesmo que ela não mais existisse. Coisas da maturidade!!

Anônimo disse...

Meu natal foi pequeno também... 4 pessoas... mas é como eu te disse: por enquanto estamos um pouco distantes... futuramente estaremos celebrando Natais Mágicos... registre isso!!!! É promessa!!
Bjusss
Do seu primo natalino!

Bibi disse...

Saulo, como te disse: Natal sem você é estranho; porém, ao seu lado sempre é Natal e isso ninguém muda!

Leticia disse...

Querida amiga, vim te ver! Feliz Natal atrasado E MUITAS ALEGRIAS no ano novo. Muita saudade, viu?

beijo grande!

Bibi disse...

Let é a melhor! A minha amiga Amelie! A mais doce e a mais decidida que conheço!

Lucas Ferraz disse...

Eu ia responder por email, mas mudei de idéia. Talvez eu não tenha tanto assim pra dizer...
Tenho uma desconfiança de que os seus sentimentos são universais.
Natal já foi a época do ano mais esperada pra mim também. Viajava para a casa da minha avó todo final de ano e a semana entre natal e reveillon era, sem dúvida, a mais esperada do ano inteiro. Toda a família ia pra lá. Dia 24 natal, 28 niver da minha mãe; 29, niver da minha tia, 31 reveillon.
Mas como vc disse, o tempo veio. Cresci eu, cresceram eles. Alguns se afastaram, outros (muitos) morreram, outros brigaram. E eu fui entendendo como a vida funciona e fui percebendo coisas que criança não percebe. E o natal de dúzias de pessoas felizes se revelou uma reuniãozinha de meia dúzia à força.
Os presentes ficaram escassos sim, como vc citou, mas o amor é que, de fato, foi rareando.
E eu passei a odiar natal. Natal e família em geral. Passei me afastar pq queria o isolamento, pq a família me fazia mal.
E, sinceramente, boa parte dela continua me fazendo mal. Não gosto de natal, continuo afirmando q eu preferia ir ao cinema e, assim, estaria muito mais no espírito feliz do que costumo estar com a família.
O q eu acho realmente? Que chega um ponto da vida em que você precisa montar o seu natal. Seja em qualquer época do ano. O que importa é o seu natal interno. É como você encara as coisas. Dane-se árvore, dane-se presente. Quem se importa se a família enlouoqueceu e não consegue mais conviver? Você tem que estar bem para, se quiser, ajudá-los a se entender.
Eu não estou bem. Não quero ajudar a família a se entender. Continuo querendo me isolar no meu mundo de planos e sonhos.
Descobri que eu tenho que virar o jogo de outra forma. Eu preciso me isolar um pouco neste final de ano, pra conseguir me entender.
Cada um tem um jeito de encarar a vida.
Mas fato é que, cada um no seu tempo, todo mundo se entende consigo mesmo um dia. E, o fato de não se entenderem uns com os outros não te importa mais tanto.
E quando você se entende você vira a mesa e, embora a vida continue mudando o tempo todo, embora o seu natal de 2028 será completamente diferente do de 2008, você vai estar no comando da sua vida.
Desculpa pelo comentario enorme. Mesmo falando tanto, não consegui expressar perfeitamente o que eu gostaria. Mas me despeço com uma música do Aldir Blanc cantada pela Nana Caymmi que gosto muito e fala sobre uma virada na vida.

Te amo e isso é uma das poucas coisas na vida Um beijo cheio de 2008 pra você.

"RESPOSTA AO TEMPO

Batidas na porta da frente
É o tempo
Eu bebo um pouquinho pra ter
O argumento
Mas fico sem jeito calada
Ele ri
Ele zomba do quanto eu chorei
Por que sabe passar e eu não sei

Num dia azul de verão
Sinto o vento
Há folhas no meu coração
É o tempo
Recordo o amor que perdi
Ele ri
Diz que somos iguais se eu notei
Pois não sabe ficar
E eu também não sei

E gira em volta de mim
Sussurra que apaga os caminhos
Que amores terminam no escuro
Sozinhos

Respondo que ele aprisiona
Eu liberto
Que ele adormece as paixões
Eu desperto
E o tempo se rói com inveja de mim
Me vigia querendo aprender
Como eu morro de amor
Pra tentar reviver

No fundo é uma eterna criança
Que não soube amadurecer
Eu posso ele não vai poder
Me esquecer"