21.6.12

A culpa chega como ressaca

 

De perto ninguém é normal. Está no dito popular, está na letra de "Vaca Profana" do Caetano Veloso, está em um dos livros/estudos da antropóloga Mirian Goldenberg. Está ai, na vida, rolando nossos caminhos para a gente notar as particularidades dessa verdade absoluta. Amiga 1 diz: "Já conversei com a minha terapeuta sobre você. A conclusão é que você esconde das pessoas o seu lado ruim". Eu ri. Quem não? Acho que muitas das nossas neuras deveriam se manifestar apenas no espaço doméstico/privado para um bem comum e alívio da maioria. Por dentro, eu não sou mesmo normal, mas não fujo da normalidade na minha conduta cotidiana (ok, as vezes gosto da coisa de ser excêntrica, mas é mais um detalhe da minha personalidade, o id do meu aparelho psíquico gritando). E deveria? Só se quisesse e não fosse presa por isso. Atentado ao pudor é coisa que está em voga. Não eu. Eu não.

Antes dela, Amigo 2 uma vez me disse: "No blog você está muitas vezes chateada, irritada ou falando de mau humor... Só que eu nunca te vi assim". Sorte a dele? Será? Em blog ninguém é normal. E isso nem faz mal, pelo contrário, liberta! Mas ainda acho que muitas das nossas neuras deveriam se manifestar apenas no espaço doméstico/privado, restrito, para um bem comum e alívio geral da nação de amigos e companheiros de jornada. O mundo já é tão cheio de seus pormenores, idiossincrasias e ansiedades urbanas demasiadas, que não serei eu a querer fazer do ouvido e dos olhos dos demais o divã das minhas inconstâncias e vicissitudes. Há amigos mais chegados e médicos especializados para isso, não é verdade?

Mas eu tenho um lado de certa forma cruel, que vai de encontro com o que disse a Amiga 1, e que me deixa muito aborrecida, que desarma a teoria do Amigo 2. Minha desorganização de tempo - e as unidades dele que eu gasto em pensamento, ruminando assuntos - faz com que eu acabe deixando de lado fatos importantes da vida em sociedade. Tenho um pouco de misantropia talvez, como é comum a muitos escritores, mas acho que estar tão desligada dos acontecimentos da "vida alheia" é mais um traço de quem não vê a vida passar, porque não tem muita habilidade de organizar as tais unidades de tempo (prático)

Exemplo categorizado: no fim de semana liguei para a Amiga 3 para perguntar como estava a gravidez (para mim ainda era o segundo trimestre). Ela disse que nasceria "depois de amanhã". No dia "depois de amanhã", o pai da criança me liga e eu pergunto: "já nasceu?". "Não! Era à noite, lembra?". Eu lembrava que era terça à noite sim, mas não lembrava que aquele dia era uma terça (fiz a loka?). Ele só me avisava da visita, hoje. 

Eu fui? Não. 
Eu liguei? Não. 
Eu lembrei? Em vários pequenos momentos do dia. 
Mas só agora, passada uma da manhã, a culpa me chega, como uma grande ressaca da qual nada posso fazer. E olha que nem pude degustar das taças antes. 

Fuín... 

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