30.1.08

Arrumando a Casa



Aquela parecia ser uma simples quinta-feira. Gosto de usar a palavra inglesa ordinary day. Não tem relação com a tradução “auditiva”, mas a literal e a forma como ela soa na minha boca e nas minhas lembranças. Era um dia comum, portanto, um ordinary day. Ou parecia ser. Fui até o centro da cidade, a trabalho. Era noite e a noite (evento) que não estava rendendo nada – para a espécie de operária dos famosos que sou –, acabou se transformando em um delicioso encontro, regado a bate-papo da melhor categoria. Coisa de novela? Pode ser, como veremos mais à frente. O caso é que não canso de repetir que a vida é o que acontece enquanto a gente está respirando ou simplesmente existindo. E assim foi.
Estava eu existindo no Odeon, roendo a tampa da caneta, uma vez que eu finalmente parei de roer unha, para ver se a porca atividade curava a minha total inércia. Quando já estava entrando em alfa, ou coisa que o valha, flashes disparam e eu despertei imediatamente daquele limbo: estava chegando o escritor Manoel Carlos, acompanhado por sua mulher, Bety, que para mim sempre foi uma mistura perfeita da doçura com a fortaleza. A simples presença do Maneco ali me alegrou “deveras”. Para mim ele é um ponto de referência há muito tempo. E a minha, digamos, história com ele já é bem antiga.
Flashback, por favor. Era eu uma pobre e inocente estagiária. Frágil em meu vestido de chita. Praticamente a imagem da candura (hahahahahaha). Sofria muito para cobrir os eventos com os famosos, quando me mandaram fazer o aniversário do filho do Maneco, o Pedro, numa boate em São Conrado. Gente, nunca fui tão bem recebida. A festa foi um barato e não sei porque “adotei” toda a família. Fiquei amiga da Júlia Almeida -- filha dele, atriz de primeira e uma pessoa super carinhosa comigo -- a quem passei a acompanhar a carreira de perto e a fazer matérias sempre que possível.
Vi o Pedro deixar a infância e se tornar um homem, ou seja, o Pedrinho virou Pedrão e está maior que eu (não que isso seja um grande comparativo). Fiquei amiga da Bety, que sempre foi a pessoa mais gentil do mundo comigo, mesmo quando eu tinha que ligar falando que alguém havia feito um flagra dela na praia do Leblon e ela, roxa de vergonha, me dava todas as informações. E, mais do que nunca (como diria Faustão), desenvolvi um carinho explícito pelo cara que sabe melhor que ninguém traduzir letras em imagens e imagens em sentimentos, dos mais lindos. Um grande escritor, uma pessoa simples e sincera. Uma vez eu estive na casa dele e ele me disse: “eu não vou mais me esquecer de você, porque você tem o nome de uma sobrinha (ou sobrinha-neta, não lembro) que eu gosto muito”. Boba sou, boboca fiquei.
Voltando à noite no cinema. Maneco e Bety estavam sentadinhos lado a lado bem na fileira do canto central do Odeon. Ele, cavalheiro, na ponta. Tomei coragem e me aproximei, não porque precisasse, mas pelo simples prazer de poder desfrutar de palavras que fazem tanto gosto e sentido. Falamos de muitas coisas, lembramos de tantas outras. Eu ali, agachada, torcendo para que o tempo congelasse por uns instantes mais. Falei do meu blog para ele e ele disse que ia dar uma passada aqui. Pelo sim, pelo não, isso não me importa. O fato é que toda vez que vamos receber uma visita ilustre, a gente tenta arrumar a casa. E acho que na minha casa faltava acrescentar esse texto.
Uma ode à pessoa que me inspira a continuar escrevendo, sonhando, realizando e que me mostra que para se ter uma carreira como esta, não é preciso abdicar da vida e da família. Viva o Maneco!

Um comentário:

Saulo disse...

Uma passadinha e um OI! Do seu primo... Bjusss