28.1.08

Querido Estranho




Querido Estranho. Achei esse título forte à primeira vez que ouvi. Trata-se de uma peça de Maria Adelaide Amaral, que ela mesma adaptou para o cinema, marcando a sua estréia na grande tela. Gosto de fazer referência e reverência aos autores aqui no blog, sempre que possível. Gosto mais ainda de transpor coisas da ficção para a realidade e vice-versa. Porque acho que a realidade tem esse tipo de ondulação: uma hora a vida imita a arte e, em outras, a arte imita a vida e assim vamos construindo a nossa realidade numa mistura frenética de sonho e fantasia.
Tomei emprestado esse título da ficção para falar de um fato real. Desde a última vez que escrevi, muita coisa aconteceu. Uma sucessão de frames que não sou capaz de parar e transformar em palavras. Mas há certas palavras que precisam e merecem serem ditas. Eu tive a honra e o prazer de ter um Querido Estranho na minha vida. O nome dele: Zequinha.
Nunca fomos apresentados oficialmente, mas ele estava sempre por perto. Cansei de ver ele sentado junto à Merinha, sua esposa, numa demonstração clara de um casamento cheio de amor e cumplicidade. Nunca nos falamos diretamente, mas sua atitude era clara e podia-se saber sobre sua boa índole através da linguagem não-verbal. Zequinha era um dos “milhares” de irmãos de uma grande amiga, a Onça.
Ele não era apenas marido, era também pai. E devia ter sido um pai exemplar, porque fez da Rafa uma mulher cheia de bons predicados. Nunca conheci uma menina que tivesse tanta fé e que mostrasse tanto isso nas entrelinhas, que tivesse tanto amor no coração, que fosse tão nova, mas que mostrasse uma responsabilidade e um amor pela vida muito além das outras meninas da idade dela. Rafa parece que nasceu pronta. E o Ricardo, seu irmão, seguiu a mesma linha. Conheci o Ricardo bem depois.
E chegou a época do réveillon. Mesmo sem me conhecer, o Zequinha disse que havia lugar à mesa para mim. Naquele momento me senti tão agraciada, porque quem recebe alguém à mesa no seio da sua família, também está recebendo em seu coração. Por uma cilada do destino, não pudemos estar juntos. Nosso último encontro foi na igreja. Eu estava com a Onça e ele a chamou para dar um beijo e um abraço. No meio desse abraço, ele me olhou e piscou para mim, num gesto de cumplicidade e bem-querer. Ali ele se despedia da sua irmã. Ali ele dizia um oi e um até breve para mim. Na quinta-feira o Zequinha foi para os braços de Deus. Antes de se despedir, porém, ele mostrou o homem honrado que foi. Dezenas de pessoas se revezavam no hospital, dezenas de pessoas tiveram sua fé renovada, sua vida balançada, sua existência questionada, sua história marcada pelo doce perfume deixado por um homem que sabia fazer o bem. Mais de 500 pessoas estiveram presentes ao seu enterro. Muitas outras estariam presentes se não fosse dia de semana e um lugar de difícil acesso. E ao invés de pranto, sua partida foi suave. A dor da despedida foi marcada pela alegria de uma vida de vitória, de uma vida que marcou outras vidas. Como a minha. Vai em paz Querido Estranho e até nosso reencontro, quando poderemos finalmente dizer: muito prazer!

5 comentários:

CÁTIA CUNHA disse...

Alguém pode me definir como esta pessoa consegue ser tão objetiva, clara, fiel, gentil e perfeita quando escreve?
Tenho orgulho de você assim com tenho dele!
bjs amiga, obrigada!

Bibi disse...

Coisa rica! Recado lindo!

Anônimo disse...

Olá Bia,
Já imprimi e levei a toda família a pg principal do blog. Todos ficaram muito felizes com sua demonstração de amor e carinho.
Que Deus te abençoe!!!

Bibi disse...

A vida é bela. Essa e a eterna!

Anônimo disse...

Bia ... sem palavras... vc � esplendida.. "eu" agrade�o a Deus pelo seu dom... Q Deus continue te usando minha amada..