31.8.09

Desmemórias


"Nascemos para viver e morrer, e, quanto mais útil for a vida, mais saudosa será a ausência. A morte de quem viveu o amor não se dá de fato, porque, apesar da passagem que se faz, continua-se vivo no coração de quem nos amou, como você mesmo agora está sentindo" - Elias Boaventura



Frase linda do livro que estou acabando de "degustar". Usei essa palavra de propósito, porque é a maneira que gosto de me referir às letras, pessoas, coisas que eu saboreio quase que com o paladar extremo. Achei a obra perdida na minha estante - como tantas outras que lá estão a me esperar. Essa, no entanto, me fisgou pelo tema sentimental: o autor era amigo de juventude da minha Mãe e deixou uma bela dedicatória para ela. Páginas rabiscadas com carinho aquecem o coração.

Entre causos, casos, histórias e lições, o escritor vai detalhando a sua vida. Bem parecido com o que eu tento fazer aqui, daí a identificação. Para? Para mim, para você, para uma futura geração, para ninguém especificamente, para me deixar em paz. E quando escrevo, transformo sentimentos em palavras e faço delas a apoteose da minha alegria ou da minha agonia. A existência também é fluida.

Nascemos para viver e morrer. É certo! E por vida podemos chamar o espaço de tempo que temos entre o nascer e o fechar os olhos para sempre. Enquanto há fôlego, há vida, portanto é nossa missão preencher da melhor maneira essa equação "espaço X tempo" sobre a qual não dominamos nada além das nossas próprias escolhas.

Hoje estou matutando aqui com meus botões e percebo que sobrevivo a certas escolhas que não fiz. Esse tipo de humor já era meu?! Essa tendência a querer fazer tudo corretinho nasceu comigo? O fato de eu ser diabética foi uma escolha pessoal? Não, não foram escolhas próprias, mas cada uma delas são dados da maior importância na formação do meu eu. Assim como cada um de nós é delimitado por suas
singularidades e limitado pelas particularidades. Não definem, mas qualificam. Maybe.

Todos que amei permanecem em mim e eu neles. O amor é como um bom perfume, cuja essência nunca se esquece. Faz valer a pena, traz novo sentido, mostra a verdade e esconde tudo aqueles muros que são escolhas próprias de impedimento e destruição pessoal. O amor liberta, mas dá um trabalho. Há que ser construído. Há que ser aquecido. Há que se ter cuidado. Há que se trocar. Há que fazer sentido. Há que ser ofertado. Há que ser despido de intenções escusas e razões insignificantes.

2 comentários:

Saulo disse...

So sweet!! Você permanece em mim!! No meu coração! Bjus

Bibi disse...

Que lugar gostoso de se estar!