16.2.11

A benção do mendigo


Eu já contei aqui que eu fui consolada por um mendigo em Copacabana. E esse talvez tenha sido o episódio mais estranho do meu currículo. Já contei que a minha tia tinha um "mendigo de estimação", que oferecia cerveja babada só para ela. Uma graça de pessoa o Marílio. Hoje rolou mais um encontro...

Estava caminhando numa rua movimentada, mas residencial, aqui perto de onde moro. Passei por aquele senhor sentado no chão, perna dobrada sobre uma bengala. Assim que me viu, abriu um sorriso gostoso, como se me conhecesse ou me visse passar todos os dias:

- Oi!
- Oi!
- Como foi seu dia hoje?
- Foi bom.
- Trabalhou muito e está indo para casa. Faz bem.
- E o seu dia, como foi?
- Igual, mas foi bom. Vai com Deus e que Ele te proteja.
- Amém.

Depois eu fiquei me perguntando: como poderia ter sido o dia desse sujeito, né? Mas ele estava sendo tão simpático comigo, que eu também quis perguntar alguma coisa. No começo, achei que ele fosse me pedir dinheiro, mas ele nem tocou nesse assunto. O que para mim foi um tapa com luva de pelica. O que ele queria? Atenção, troca, inteiração. E não é justamente isso o que eu busco tanto e sempre na minha vida? Esse fato me aproxima demais de um senhor mendigo que fica na rua oferecendo um sorriso e um tipo de benção.

Eu estava com a cara emburrada, perdida em pensamentos tolos. Ele me fez sorrir. Engraçado como o motivo para sorrir pode estar escondido onde a gente menos espera. Onde a gente nunca suporia... Não foi uma gargalhada, como se eu achasse graça dele, mas aquele sorriso que não se apaga facilmente do rosto, porque traz consigo uma profunda lição.

2 comentários:

Saulo disse...

Apesar do medo que circunda nossos dias, eu me esforço por cumprimentá-los. Mesmo que peçam nunca dou dinheiro, nem outro tipo de ajuda que, no máximo, comida ou água. Penso que muitos só estão na rua por que ali encontraram um "meio" de vida. Fico triste quando encontro essas pessoas sem horizontes, mas fico muito mais triste quando tomo conhecimento de pessoas que "se fazem" na mendicância sem necessidade. Tivemos há pouco um exemplo lá na igreja. Uma senhora pedinte que há anosss se prostava nas escadarias da igreja dia após dia, bem cedinho e sumia no final da tarde; quando questionada se desejava um abrigo, recusava; quando questionada sobre família, desconversava; até o dia que o destino fez a faxineira da paróquia tomar o mesmo ônibus quew essa senhora pseudo-desabrigada E descobrir que ela era uma vizinha de quadra numa favela ali perto. Detalhe: o Padre foi lá checar, confirmou e foi recebido do lado de fora com portas fechadas. Notou porém a tinta fresca na fachada da casa e outros detalhes que demonstravam reparos recentes...

Bibi disse...

Eu não vou te dizer que falo com todos, porque na cidade em que a gente vive, isso sim seria uma insanidade. Porém, eu costumno responder e esse mendigo me fez um bem maior, que talvez eu a ele.

Sabe que hoje ele estava no mesmo lugar e de cabelos cortados? Dessa vez fui ei que dei um:
- opa!

E ele respobde com o mesmo bom humor que mais uma vez me fez sorrir...

Vou até fazer outro post sobre isso!