12.5.10

Sejas tu e assim serás tudo


Já é madrugada lá fora. A noite é fria e serena. Apesar do clima agradável, eu teimo em rolar pela cama, reorganizando travesseiros, tentando me abraçar na coberta, enrolada, amassada, desbeiçada pela minha inconstância... Quando a mente está cheia, mesmo tendo o corpo cansado, os olhos não se fecham, o pensamento fica tão veloz, que você mal consegue entender o que acontece.

É nessa angústia do nada - porque nada acontece, porque nada me acalma, porque nada me faz dormir – que eu decido me levantar. Existe muita tela para ser preenchida e existe muito pranto a ser enxugado. Não o meu, que não tem forma. Ando oca, vazia de acontecimentos significativos. Minha viagem ao introspectivo anda sem paisagem, portanto, a tela que me interessa pintar é feitas de tintas liquefeitas. Pusilânime.

Nessa busca por entendimento do que dá compreensão à vida dos que me cercam, encontro voz em quem mal consegue falar. E tudo diz. A Belle é uma pessoa que chegou aqui não sei bem como e ficou por aqui não sei bem por que. Mas tive sorte com isso, com efeito. Justamente nessa minha jornada sem rumo certo, encontro algo que me toca no blog dela. Aqui retransmito:




“Tô indo embora. Deixo aqui a quase certamente lúcida impressão de que fiz o melhor que pude com os recursos que tive. Procurei emendar meus defeitos com o último lançamento da super cola, mas há coisas irremediáveis, paciência. Tô seguindo outros rumos, arrumando outro prumo, inaugurando outro norte. Tô indo embora. Deixo as paredes vazias de mim, a cozinha das tardes de domingo sem cheiro de bolo de laranja, os dias sem as flores nos cantos da sala. Fica tudo certo: cada um com seus desejos, com seu futuro e com a própria cama pra arrumar. Estejamos certos, eu e o tempo, de que ir embora traz a doce oportunidade de reinventar”.



WOW!

A natureza dos blogs me encanta, porque me dá a oportunidade de conhecer gente que tece as letras como uma obra delicada. Não quero para mim a glória errante de me achar sozinha nessa caminhada de dar forma àquilo que sinto nesse espaço que chamo de meu, mas faço de nosso. Somos mesmo espíritos encantados pela arte de viver, que se juntam entorno daquilo que é belo e que edifica. E reconhecendo aquilo que é belo no texto da Belle, deixei um recado para ela (que trouxe para cá):



“Coisa mais linda de escrever para um fato tão difícil de viver. É a vida, é a estrada, é a madrugada, mais acima de tudo: é você! Seja você! São seus sonhos, são seus medos, são seus zelos e seus caprichos, são seus risos, são seus riscos, são suas escolhas, são seus espaços preenchidos pelo novo amanhã. É a gaivota que voa no alto, o mar que espuma na praia, é o pingo da chuva que chega de manso e molha tua saia... O escrito no papel encontrado, é o descanso esperado, a orelha do livro interrompido, o prospecto da viagem sonhada, é a paisagem registrada na memória, é a história, é a história... É o leite quente que deixa bigode branco, é o pé bem frio escondido em um canto, é o céu e o inferno, mas também é encanto, é a camisa furada pelo tempo (quem liga?) e o vestido bem curto naquele exato momento da vida. Sejas tu e assim serás tudo”.

3 comentários:

Ana Raquel =] disse...

"Estejamos certos, eu e o tempo, de que ir embora traz a doce oportunidade de reinventar." Que lindo isso Bibi e combinou certinho com meu momento. Bjosss

Bibi disse...

Mas isso é coisa da Belle e não minha :) Palmas para ela!

Val disse...

Bia, vc tem a sensibilidade de me fazer refletir com tão poucas palavras, devido à intensidade que há nelas. Com isso, pensamentos complexos voltam a me angustiar. Acho que é o momento da transição, ou como uma pessoa querida, a Thayse, me escreveu “é o momento da travessia”. Concordo. Mas nem sempre a travessia é fácil. Talvez por medo de fazê-la, medo do novo que é desconhecido, medo do inesperado. Muitas vezes me pergunto por que do medo?! Nunca tive medo antes.

Talvez seja esse o motivo da minha angustia. O medo perturba, enfraquece, nos deixa com falta de ar, sem energia. Com isso, espero que os maus pensamentos se afastem e que eu sabiamente possa encontrar uma forma de respirar o ar que me é tão caro. O ar que liberta, que nos faz viajar pra longe, pra descobrir novos horizontes. Mundos que ficam guardados naquela mala, a qual olhamos por várias vezes e temos um único desejo: ir conquistar um novo mundo. O mundo colorido que em nossas mentes é só em preto e branco. Ir ao infinito, sem rumo, sem pressa, sem ansiedade, sem se preocupar com o tempo. O mundo que nos permite viver como pássaros, voando com o vento fresco e brando e nos renovando para algo que não devemos nos preocupar agora, o futuro.

Queria eu, nesse momento, pegar a mala e ir para outro mundo. O mundo do recomeço, assim como descreveu sua amiga “acompanhada pelo tempo e certa da doce oportunidade de reinventar”. Queria eu começar a tecer uma nova colcha de retalhos. Escolher uma cor diferente e, mais vibrante que a atual, pra costurar os novos pedacinhos de tecidos que me proporcionarão lembranças de uma nova história, uma nova experiência. Como você mesma já escreveu estou “esperando pelo próximo pedaço, que é a esperança daquilo que virá a ser”. Por hora, ainda, fico a esperar.

Talvez, porque não tentei todos os recursos. Ou, estou sendo covarde. De qualquer forma, o meu tempo ainda não chegou...por enquanto.

Deixo a mala pronta, mas no mesmo lugar. Nela, além das roupas, ainda ficam muitos sonhos pra serem concretizados. Fico a espera do momento certo de pegar a mala e ir voar; pra longe, muito longe.